quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

ÀS FAVAS OS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA: CESARE FOI UM PRESENTE DO "PRAGMÁTICO" MORALES AO "HERMANO" BOLSONARO.

márcia carmo, para a BBC News Brasil
O QUE HÁ POR TRÁS DA DECISÃO DA BOLÍVIA DE
EXTRADITAR ITALIANO, QUE RENDE CRÍTICAS A EVO
O presidente da Bolívia, Evo Morales, foi alvo de uma série de críticas de aliados por causa da prisão e da extradição do italiano Cesar Battisti no país.

Mas especialistas e fontes ouvidas pela BBC News Brasil apontam que Evo optou pelo pragmatismo, que já o caracterizou noutras situações.

Evo, disseram, não pretende desagradar o colega brasileiro Jair Bolsonaro – apesar de estarem em pontos distantes do espectro ideológico – e correr o risco de ficar isolado na região. Ainda segundo a avaliação deles, o presidente boliviano quer evitar problemas num ano de eleição presidencial, quando tentará o quarto mandato presidencial seguido na Bolívia.
Stefanofi: Battisti foi um regalo de Morales para o neofascista Salvini e o hermano Bolsonaro 
"Não importa o presidente que esteja no poder no Brasil, seja ele de esquerda ou de direita, Evo fará de tudo para evitar conflitos com o país que é o principal parceiro da Bolívia, tanto na área econômica e comercial quanto no setor de segurança. Temos uma ampla e frágil fronteira com o Brasil e dele dependemos", disse o analista Javier Gómez, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário, em La Paz.

O analista boliviano observou que Evo briga permanentemente com os Estados Unidos, ao qual chama de império, mas que jamais faria o mesmo com o Brasil.

Para Gómez, o presidente boliviano já deve ter registrado "os primeiros sinais de mudança" na relação do Brasil com a Bolívia desde que Bolsonaro chegou ao poder, e não pretende piorar ainda mais a situação.
Raul Garcia Linero: "decisão injusta, covarde e reacionária"

O analista citou como exemplo o caso do projeto de construção do chamado corredor bioceânico, ligando o Atlântico, do Brasil, ao Pacífico, no Chile, que, ao contrário do esperado, excluiria a Bolívia, como anunciou o presidente do Chile, Sebastián Piñera, logo após encontro com Bolsonaro, no início deste mês no Brasil.

'HERMANO' – Político definido como de esquerda e bolivariano, em referência ao grupo que surgiu com o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, Evo até chamou Bolsonaro de hermano (irmão) num tuíte no dia da posse do presidente brasileiro – mesma forma como se referia a Lula, de quem era muito mais próximo, quando este era presidente do Brasil.

Apesar de ideologicamente distante de Bolsonaro, Morales não pode se dar ao luxo de se isolar na região, dizem analistas

O pragmatismo de Evo foi ainda apontado pelos especialistas pela forma com que ele conduz a economia boliviana, com responsabilidade fiscal e crescimento, e por sua decisão de participar da posse de Bolsonaro, no dia 1º de janeiro, em Brasília, dez dias depois participar da polêmica posse do presidente venezuelano Nicolás Maduro, em Caracas.

Na cerimônia na Venezuela, Evo sentou ao lado dos colegas da Nicarágua e de Cuba que, como Maduro, tinham sido banidos da lista de convidados à posse de Bolsonaro.
O ministro Carlos Romero, executor da infâmia, é agora chamado de Judas nos círculos de esquerda 
'DIVIDIDO' – O analista em temas internacionais Francisco Solares, do Colégio de Internacionalistas do Estado de Santa Cruz, disse que a extradição do italiano Battisti foi claramente um gesto de Evo para Bolsonaro.

"É uma forma de sinalizar um recomeço na relação com o Brasil", disse Solares. Para ele, todas as decisões passam pelo presidente, e a medida teria dividido o governo, já que a ala mais à esquerda, ligada ao vice-presidente Álvaro García Linera, não aprovaria a decisão de extraditar Battisti.

O historiador e jornalista argentino Pablo Stefanoni, que morou sete anos em La Paz, e é apontado por acadêmicos como um dos mais entendidos sobre os atos de Evo e dos líderes de esquerda da região, avalia que a rápida ação de extraditar Battisti, sem direito a apelação para continuar no país, confirma o pragmatismo do líder boliviano.
Bolsonaro e Salvini adoraram o novo Evo...

"Battisti foi extraditado em menos de 24 horas. Evo quis se livrar rápido da situação para não ter problemas com Bolsonaro. Mas com a decisão de expulsar Battisti certamente dividiu o governo. A ala mais à esquerda do governo não apoia este tipo de medida", disse Stefanoni à BBC News Brasil.

Nas redes sociais, Stefanoni escreveu que Battisti foi um regalo (presente) de Evo para o líder italiano Matteo Salvini e para o hermano Bolsonaro.

'Battisti foi extraditado em menos de 24 horas. Evo quis se livrar rápido da situação para não ter problemas com Bolsonaro', opina analista boliviano

HOMEM FORTE – Battisti foi preso no último sábado (12) em Santa Cruz de la Sierra, ao lado do território brasileiro, e entregue, no dia seguinte, pela Interpol Bolívia à Interpol da Itália no aeroporto internacional de Viru Viru, na mesma cidade.

O anúncio da extradição de Battisti foi feito por um dos homens fortes da administração de Evo, o ministro de Governo Carlos Romero, responsável pela área de segurança na gestão central. Romero não faria nada sem a determinação direta de Evo, concordaram analistas e fontes ouvidas pela BBC News Brasil.
...muito parecido com o velho René Barrientos...

No domingo, no rápido comunicado, com direito a poucas perguntas, na sede da Interpol em Santa Cruz de la Sierra, Romero informou que Battisti tinha entrado no país de forma irregular e por isso seria extraditado, segundo as normas migratórias do país. E que a operação tinha sido detalhada entre as autoridades diplomáticas da Bolívia e da Itália.

Em nenhum momento ele citou a palavra Brasil. Nem mesmo quando perguntado, respondeu apenas que o Estado requerente é a Itália e disse ainda que não havia registro do lugar por onde o italiano entrara, evitando especificar que tinha sido do Brasil para a Bolívia. Romero também evitou dar detalhes de como a prisão tinha sido feita numa rua da cidade.

No dia seguinte, 2ª feira, ele confirmou que Battisti tinha pedido refúgio, em dezembro, à Comissão Nacional de Refugiados (Conare) e que o pedido tinha sido negado.

Nesta 3ª feira, três dias depois da expulsão de Battisti da Bolívia, o caso continua rendendo críticas – mas também elogios – a Evo Morales.

O irmão do vice-presidente, Raúl García Linera, que apoia o governo, disse que a decisão boliviana de entregar Battisti às autoridades italianas foi injusta, covarde e reacionária
...que deixou os EUA caçarem e executarem o Che na Bolívia 

Por sua vez, um dos integrantes do Movimento ao Socialismo, que é a base de apoio política e social de Evo, chamou Romero de Judas, também pela mesma decisão.

A decisão de Evo foi, porém, elogiada por políticos de Santa Cruz de la Sierra, reduto da oposição à La Paz, que antes o criticavam, como Samuel Doria Medina. "Digo, sem ódio, mas com firmeza, que a Bolívia não pode ser refúgio de assassinos e refugiados", disse.

(...) Bolsonaro parabenizou os responsáveis pela prisão do terrorista que, disse, vinha sendo protegido pelos governos do PT.

O líder italiano Salvini agradeceu às autoridades brasileiras pelo empenho que levou à prisão de Battisti – comunicado que também foi publicado no Twitter de Bolsonaro.
Se ainda estivesse vivo, o genial Henfil certamente despacharia
Evo Morales para cemitério dos mortos vivos. O
blog se limitará a dedicar-lhe esta música...

6 comentários:

william orth disse...

Celso, apesar de não acreditar na inocência de Cesare, achei um absurdo a decisão de final de mandato de Temer e eventual apoio de Bolsonaro a extradição. Só o fato de ter filho Brasileiro já impediria por si só todo o ato. Oque vale é a letra da lei goste ou não os perseguidores de Ceasare. Ainda acho que se estivesse no Brasil haveria alguma brecha jurídica para ser tentada.Fugir na minha opinião foi um erro. Morales lavou as mãos e Bolsonaro esse sim se livrou de um abacaxi. Se passasse pelo Brasil, Cesare teria pelo menos a garantia de cumprir 30 anos e teria descontado alguns anos em sua pena na extradição. Abraço.

Daniel Romão disse...

Celso, hoje especialmente estou passando o dia pensando no Cesare. Muito triste a perseguição a um inocente, a alguém que em algum momento de sua vida teve força e coragem para derrubar este sistema tirano que escraviza e explora os trabalhadores, ainda mais feitas por gente da mais baixa qualidade moral, que são os neofacistas. Torço para que, pelo menos, os organismos internacionais olhem pela dignidade, saúde e segurança de Cesare.

Quanto ao Evo Morales, perdeu totalmente meu respeito. É um déspota. Porém, também é muito inocente, acha que os neofacistas chamarão ele para ceiar, quando daqui a pouco estarão de olho no gás boliviano e na hegemonia direitista das américas. Com todas as limitações e sem efeitos de comparação da praxis política, mas o Evo será o próximo Maduro. Quem viver, verá.

Vandeco disse...

Com certeza a vida de um errante. A Lei de Murphy está aí para explicar: Se alguma coisa pode dar errado,dará. Um dia a casa cai!

celsolungaretti disse...

William,

o Cesare tem 64 anos. Fosse com a pena que fosse, não o largariam antes de uns 15 anos.

O que faz um velho que volta à rua com 79 anos? Dá um passeio pela cidade e, em seguida, o suspiro final?

A esperança que lhe resta são os defensores dos direitos humanos. Como a sentença italiana expirou há alguns anos, se a Justiça de lá não estiver totalmente avacalhada, ele conseguirá, no mínimo, um novo julgamento

celsolungaretti disse...

A História andou se repetindo demais, Daniel. Primeiramente, o Supremo (leia-se Luiz Fux) acaba de repetir fielmente sua atuação no caso da Olga Benário.

E o Morales, quem diria, bisou o René Barrientos. O qual, pelo menos, jamais fingiu ser algo diferente do que era.

Cássio disse...

E saber que no dia de sua prisão Lula vestia um traje em homenagem ao presidente boliviano...



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