sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

UNIVERSIDADE, A ÚLTIMA TRINCHEIRA CONTRA ESTUPIDEZ DA ERA BOLSONARO – 3

(continuação deste post)
Ulysses Guimarães ensinou, na promulgação da Constituição de 1988: 
"A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo".
Aos guerrilheiros que combateram a ditadura, minha emoção. Aos cínicos como o capitão Bolsonaro, meu lamento.

Ao cinismo se soma, também, a visão obtusa que o capitão-presidente tem de áreas cruciais para a qualidade de vida dos brasileiros. Para o Ministério da Educação, o capitão teve um bom lampejo inicial: a indicação de um respeitado ex-reitor de Pernambuco, Mozart Neves Ramos, que presidiu a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior em 2002. O nome não emplacou porque recebeu um absurdo, inexplicado veto da bancada evangélica, que tem influência bíblica sobre o novo governo.
"inexplicável veto da bancada evangélica a Neves Ramos"

Emparedado pela religião, o capitão-presidente não chegou ao exagero de convocar um general, mas trouxe alguém que os molda: o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, naturalizado brasileiro há 20 anos, é professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, passagem obrigatória para majores e tenentes-coronéis que ambicionam ser generais, o topo da carreira. 

O homem da Educação de Bolsonaro é, como seu capitão comandante, um nostálgico da ditadura. Vélez escreveu no seu blog: “1964 é uma data para lembrar e comemorar... ela nos livrou do comunismo”.

Vélez criticou a Comissão Nacional da Verdade, que investigou as violações aos direitos humanos pela ditadura e responsabilizou os cinco generais-presidentes pelos 434 casos de mortes e desaparecimentos praticados por 377 agentes públicos do regime militar. Para o mal-educado Vélez, a CNV foi “mais uma encenação para a omissão da verdade... a iniciativa mais absurda que os petralhas tentaram impor”. 

Assombrado ainda pelos demônios da guerra fria do século passado, Vélez diz que “os regulamentos do MEC fizeram os brasileiros reféns de um sistema de ensino afinado com a tentativa de impor à sociedade uma doutrinação de índole cientificista e enquistado na ideologia marxista...” E por aí vai o emérito professor dos futuros generais!...

O novo chanceler, Ernesto Araújo, vem também do baixo clero do Itamaraty. Como seu chefe, idolatra Donald Trump, para ele ”o único que pode salvar o Ocidente”. 
"o messiânico Araújo diz ter uma cruzada sacrossanta"

Missão frívola dada pelo capitão ao chanceler, segundo Araújo: “Libertar o Itamaraty do marxismo cultural”. Tudo, no iminente governo do capitão, é coisa de comunista! 

Araújo diz ter uma cruzada sacrossanta: “Ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista, um sistema anti-humano e anticristão pilotado pelo marxismo cultural. A fé em Cristo significa lutar contra o globalismo... abrir-se para a presença de Deus na política e na história”. 

Traduzindo isso aí, como diz Bolsonaro: o Brasil acima do globalismo, Deus e Trump acima de todos...

O saudosista Vélez e o messiânico Araújo são duas invenções — que o capitão engoliu — de uma figura ainda mais bizarra, um brasileiro enquistado há uma década numa pequena cidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Olavo de Carvalho é um exótico ex-astrólogo que se tornou, via internet, um guru do clã Bolsonaro e da direita radical brasileira.

Autoproclamado filósofo, embora sem título universitário, Olavo foi muçulmano e marxista na juventude e agora, na maturidade dos 70 anos, converteu-se em cristão fundamentalista e em conservador extremado. É recomendável tirar as crianças da sala, antes de ouvir suas arengas aberrantes no YouTube, onde ele troca as vírgulas por palavrões cabeludos. 

Na sua alucinada arrogância, o ex-professor de astrologia e alquimia investe contra alguns dos cérebros mais brilhantes da humanidade. Para Olavo, Charles Darwin é o pai do nazismo, Isaac Newton é burro, Galileu Galilei é charlatão e Albert Einstein é uma fraude.
"a cabeça amalucada de Olavo faz a cabeça do capitão"

Da cabeça amalucada de Olavo, que faz a cabeça do capitão-presidente, são excretadas algumas das frases mais grotescas do anedotário nacional. 

Alguns exemplos: “O general Geisel era comunista”, “cigarro não dá câncer”, “querem trocar a religião católica por uma religião biônica mundial”, “a Pepsi-Cola usa células de fetos abortados como adoçante”, “o nazismo e o FMI são de esquerda”, “a astrologia é a única ciência com discurso racional do começo ao fim”, “não há a menor prova do sistema heliocêntrico de Copérnico”.

Mais um pouco e o atrevido Olavo ainda vai convencer o crédulo Bolsonaro de que a Terra é, de fato, plana!... Olavo é autor de um best-seller que já vendeu 320 mil exemplares, intitulado O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Pelo conteúdo desmiolado de seu desarranjado processo mental, Olavo certamente não leu o mínimo que deveria para não ser um idiota...

Certa vez, numa mesa do mítico bar Veloso, em Ipanema, o humorista Millôr Fernandes definiu para o compositor Tom Jobim: “O mundo tem muitos idiotas, Tom, mas felizmente estão todos nas outras mesas...”. O admirável mundo novo da internet, para nossa infelicidade, trouxe gente como Olavo de Carvalho para as mesas de todos nós! E, para azar do Brasil, inoculou Olavo na cabeça de Bolsonaro.
"discussão sobre aquecimento global é secundária"
Como expressão da minguada importância que dedica ao Meio Ambiente e aos Direitos Humanos, o capitão deixou por último a definição das duas pastas. Para o Meio Ambiente, Bolsonaro chamou o advogado Ricardo Salles, fundador do Movimento Endireita Brasil, que no ano passado tentou vender 34 florestas e estações experimentais de madeira em São Paulo, apesar de ser o secretário de Meio Ambiente do Governo Alckmin.

Alinhado com o seu capitão — que desistiu de fazer no Brasil em 2019 a Conferência do Clima, a COP 25, e ameaça abandonar o Acordo de Paris endossado por 195 países —, Salles apareceu batendo continência para outra maluquice do futuro governo: “A discussão sobre aquecimento global é secundária. É uma discussão inócua, agora...”, trovejou o ministro. Ele apenas ecoa outra predatória ideia do astrólogo Olavo, que desclassifica toda a agenda ambiental do planeta como um reles, pueril alarmismo climático.

Só no ano passado, segundo a ONG alemã GermanWatch, 11.500 pessoas morreram por conta de ciclones, deslizamentos, inundações e furacões, entre outros desastres. Eles provocaram danos econômicos que chegam a US$ 375 bilhões. 

O Brasil perde 1,4 milhão de hectares de vegetação natural por ano, mais que a metade da área de Alagoas. Só em abril, o desmatamento da Amazônia foi 84% maior do que no mesmo período do ano passado. A grande floresta perdeu 20% da vegetação nos últimos 50 anos.
...e já temos cidades com sensação térmica de até 100ºC!!!

O dióxido de carbono, apesar da ignorância acumulada de Bolsonaro e Olavo, é o gás da poluição que provoca o efeito-estufa, desequilibra a natureza e eleva a temperatura do planeta, derrete os polos e dizima espécies de mamíferos, aves, peixes e répteis. De 1970 para cá, essa população diminuiu em 60%.

Esse irresponsável alarmismo levou um choque brutal de realidade no presente mês, começando pelo dia 14, aqui mesmo no Brasil. Em Antonina, cidade do litoral refrescante do Paraná, um dos estados mais frios do país, a sensação térmica na manhã de sexta-feira chegou a 57ºC!

Quatro dias depois, Antonina bateu seu próprio recorde, com uma temperatura de 44,3ºC e umidade relativa de 75%, números que, combinados pela ferramenta Heat Index, elevou a sensação térmica na cidade a inacreditáveis 100ºC (!),o exato ponto de ebulição da água ao nível do mar]

Se isso não é consequência do aquecimento global, capitão Bolsonaro, só pode ser coisa da ideologia globalista ou do sistema anticristão do marxismo cultural

Enquanto isto, no último dia 17, na própria cidade onde mora o capitão, o Rio de Janeiro fervia com uma sensação térmica de 45ºC. Só pode ser perfídia de comunista! E o verão nem começou... (por Luiz Claúdio Cunha, ex-consultor da Comissão Nacional da Verdade, jornalista e escritor, em artigo publicado no site Congresso em Foco)
(continua neste post)

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