sexta-feira, 18 de maio de 2018

É O MELANCÓLICO FIM DE UMA ÉPOCA: LULA, PALOCCI E ZÉ DIRCEU JUNTOS NA GALERIA DE TROFÉUS DA LAVA-JATO, EM CURITIBA.

Os três pilares do primeiro governo petista: mesmo infortúnio.
Não poderia ser mais simbólico: a juíza Gabriela Hardt determinou que o Zé Dirceu seja encaminhado para uma ala reservada aos presos da Operação Lava-Jato em Curitiba (o Complexo Médico Penal), de forma que os três principais nomes do primeiro governo petista doravante estarão cumprindo pena na capital paranaense. 

Se eles fossem colocados na mesma cela, poderiam recordar as ocasiões em que se reuniram para tratar de assuntos governamentais y otras cositas más no Palácio do Planalto, quando Lula era presidente; Palocci, o ministro da Fazenda; e Zé Dirceu, chefe da Casa Civil. 

Os três estiveram juntos no poder de 01/01/2003 (início do primeiro governo do PT) até 21 de junho de 2005 (quando Zé Dirceu se demitiu, sob suspeitas de envolvimento com a corrupção nas estatais).

Depois, em 27 de março de 2006, Palocci também teve de renunciar, face às evidências de que abusara do seu poder ministerial para forçar a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa.

Lula sobreviveu às crises e se manteve presidente até o último dia (31/12/2010) do seu segundo mandato. Fez de Dilma Rousseff sua sucessora e continuou sendo personagem influente até que ela sofresse impeachment, mas finalmente caiu também em desgraça: está preso desde o último dia 7 de abril, condenado a 12 anos e um mês de reclusão e respondendo a seis outros processos. É praticamente inevitável que a Justiça Eleitoral impugne sua nova candidatura presidencial com base na Lei da Ficha Limpa.

Fico pesaroso por toda uma época, a do reformismo à brasileira, estar terminando de forma tão melancólica.
O princípio...
Face a cada novo marco da decadência do Partido dos Trabalhadores, vem-me sempre à lembrança um dos temas da excelente ópera-rock Jesus Christ Superstar, no qual Judas diz a Cristo: "Toda vez que olho para você não consigo entender/ por que deixou as coisas que fez saírem tanto do seu controle".

O começo do fim foi quando o PT abdicou da missão de extinguir a exploração do homem pelo homem e se conformou em apenas tentar atenuar a monstruosidade intrínseca do capitalismo (como se isto fosse possível!). 

De coveiro da desigualdade econômica e social passou a ser apenas seu gerenciador. E mesmo assim por mercê dos capitalistas, que em 2002 lhe delegaram tal papel, em troca de uma declaração de falta de princípios (a carta ao povo brasileiro); mas que em 2016 revogaram a concessão, aplicando-lhe um formidável chute parlamentar no traseiro.

Como cristão novo dos (agora louvados em prosa e verso) valores republicanos, o PT expurgou das suas fileiras os dirigentes e militantes mais devotados aos ideais igualitários e libertários, ao mesmo tempo em que abria as portas indiscriminadamente para carreiristas que apenas incharam o partido, descaracterizando-o ao invés de agregarem qualidade.
...e o fim!

E foi aos poucos trocando a priorização das lutas sociais, com a consequente organização combativa das massas, pelo empenho exclusivo em vencer eleições e assim conquistar nacos de poder no Executivo e Legislativo, até chegar à vergonhosa situação de perder para a direita a batalha das ruas durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Coerentemente mandou às favas também os escrúpulos, pois eram inspirados na moral revolucionária que caiu em desuso. Passou a pautar seu comportamento pelo utilitarismo; e, sendo os podres Poderes o que são, tal caminho o conduziu diretamente ao inferno dos mensalões e petrolões.

A prisão de Lula, Palocci e Zé Dirceu tem peso simbólico imenso: atesta a perda da inocência de um partido que nasceu imbuído das melhores intenções, mas foi abrindo mão de suas bandeiras ao longo do caminho, até nada mais restar-lhe de digno e puro para ostentar. 

O PT não inspira mais a perspectiva de dias melhores, daí ter apelado para a satanização dos adversários como seu principal trunfo nas últimas campanhas eleitorais. Mas, os melhores seres humanos, aqueles que precisamos engajar na luta para a transformação da sociedade, são movidos pela esperança, não pelo rancor!

É hora de o PT e a esquerda brasileira repensarem o papel desempenhado neste século, efetuando finalmente a autocrítica da qual fogem desde o impeachment da Dilma.

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