segunda-feira, 5 de junho de 2017

A CRISE É DE TODO O SISTEMA: AGONIZAM O CAPITAL, O ESTADO E SEUS REPRESENTANTES POLÍTICOS DA DIREITA E DA ESQUERDA.

“A solução tem de ir muito além da austeridade”
(Carlos Câmara Pestana, banqueiro português)
.
Quando vejo destacados membros do governo alardearem a necessidade da austeridade nas contas públicas e aprovação de medidas de restrição de direitos como forma de retomada do desenvolvimento econômico, fico a analisar dois aspectos:
a) o primeiro diz respeito à falácia de tais medidas e argumentos quanto ao interesse popular;b) o segundo se refere à impossibilidade prática da retomada do crescimento a partir de ações governamentais.
É verdade que o Estado tem de ajustar as suas receitas tributárias (única fonte consistente arrecadação de valores) às suas despesas, como forma de se manter economicamente equilibrado para cumprir as suas funções de submissão à lógica da relação social autotélica da forma valor, e de modo subserviente; mas isto interessa apenas ao capital e não, necessariamente, ao povo.

Assim, num quadro de recessão econômica como o que vemos ocorrer com a redução do PIB mundial, o Estado tem de reduzir em primeiro lugar o custeio das demandas sociais sob sua incumbência, o que significa menos educação, saúde, segurança e infraestrutura urbana.

Sob tais condições o Estado se volta para a manutenção financeira das suas funções vitais de controle monetário (força militar, poderes Legislativo e Judiciário) e para a tentativa de indução do crescimento econômico pelas vias do financiamento da infraestrutura da produção (estradas, portos, aeroportos, etc.) e dos empréstimos, subsidiados ou não, às indústrias e ao agronegócio. As demandas sociais que se danem!

É graças a isso que vemos, hoje, uma completa inapetência no provimento dos serviços públicos, principalmente na saúde e educação, que apenas serve como argumento para uma extorsiva (e cada vez mais penosa) cobrança de impostos.      

A debacle do capital não decorre do desajuste das contas públicas, que obviamente agrava o problema, mas das próprias contradições de uma forma de relação social que esbarrou no seu limite de crescimento e que se tornou anacrônica. 

Como já dissemos noutros artigos, o desenvolvimento tecnológico aplicado à produção de mercadorias tornou a trabalho abstrato (único produtor de valor) algo meramente marginal e isto, apesar de aumentar o lucro individual do capitalista que consegue diminuir seus custos de produção de mercadorias, é fatal para massa global de valor (e de mais-valia) produzido, pois acarreta sua redução.

Com a recessão econômica vem a redução da arrecadação de impostos, a dificuldade de manutenção da máquina administrativa e outras funções do Estado acima referidas o que provoca um endividamento público insuportável. 

Tal financiamento corresponde ao pagamento de juros pela população via cobrança de impostos aos aplicadores financeiros (que assim se priva dos serviços públicos). Hoje, a conta dos juros da divida pública é imensamente maior do que qualquer programa de assistência social aos descamisados (como a bolsa família e outros) e corresponde a uma fatia considerável do PIB.

Para que serve mesmo, do ponto de vista do povo, o ajuste financeiro do Estado, que oprime este mesmo povo?

Como o ajuste das contas públicas impõe sacrifícios a uma população já exaurida pela extração de mais-valia, cobrança de impostos e obsolescência do trabalho abstrato (que causa o desemprego estrutural), o discurso oficial de que serviria para melhorar a vida do povo é essencialmente falacioso. 

E pensar na empáfia com que os executivos governamentais o proferem, como se fossem donos de uma verdade inquestionável!

O arrocho fiscal e das contas públicas interessa ao capital de modo vital, mas representa um desserviço à população.

Por outro lado vem a manipulação de provas e da informação.

Uma ressalva necessária é a de que não devemos aceitar métodos escusos de produção de provas, pois a arbitrariedade nunca é saudável e a abertura de um mau precedente pode prejudicar inocentes adiante. 

Mas, o governo moribundo do Presidente Temerário foi pego com batom na cueca e tem uma multidão de ministros e assessores citados por delatores ou flagrados na prática da corrupção. Está sendo mantido vivo por aparelhos, mesmo tendo se disposto a fazer todas as reformas (principalmente a trabalhista e previdenciária) impostas pelo grande capital, na sua vã tentativa de sobrevivência. 

A crise, contudo, é de todo o sistema: agonizam o capital, o Estado e seus representantes políticos da direita e da esquerda.

Neste sentido se pergunta: qual o propósito da esquerda parlamentar e partidária em pugnar por outro governante que, submetidos às mesmas pressões, acabará tendo de prostrar-se também ao poder econômico?  

Trata-se da repetição do equivoco histórico que permeia toda a vida a esquerda nos últimos 170 anos: o de sempre procurar manter intactas as categorias capitalistas e o seu Estado, ainda que pretenda promover uma (impossível) justa distribuição do dinheiro.

Evidencia-se desconhecimento da dinâmica própria da mediação social capitalista sob qualquer forma política (liberal burguesa ou estatizante). É graças a isso (ou a uma manipulação das consciências, o que seria pior) que a esquerda patina no lodaçal capitalista que julga combater.

Agora o governo do Presidente Temerário anuncia que “acabou a recessão”, como forma tentar uma sobrevida diante da evidência do esfacelamento, impopularidade e descrédito do seu governo. Os números recentemente apresentados como nova era econômica se referem a um fator episódico ocorrido graças à conjunção de fatores climáticos favoráveis à produção agrícola, e que não têm o condão de afirmar a existência de crescimento econômico sólido nos setores secundários e terciários da economia.

As manipulações das estatísticas e dos fatos mais não são do que a tentativa de tapar o sol com uma peneira.

O quadro mundial de recessão econômica se torna explícito no noticiário internacional, e a tragédia brasileira expressa no desemprego de 14 milhões de brasileiros economicamente ativos, no crescimento absurdo da violência urbana (bancos são assaltados diariamente) e na morte de civis e policiais militares em números que superam os de regiões conflagradas, dispensa maiores comentários.
Basta de práticas arbitrárias, manipulação da informação e de conceitos equivocados!
.
(por Dalton Rosado)

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Zenilda Batista Bruginski disse...

Já pensei alguma vez que a esquerda trabalha no binômio ou na contradição capital/trabalho, sem ir além.Se tudo o que vemos a nossa frente está falido, por que não propugnar por um governo diferente, que quebre a espinha do capital e do mercado atuais. Fazer uma campanha embasada na economia solidária, na criação de moedas próprias, no escambo, na ajuda mútua, no cultivo da terra, no consumo local, na confecção de roupas e utensílios artesanais? Vão me dizer, está louca, quer que o mundo rode pra traz! Talvez seja esse choque que o mundo precise, de um abastecimento básico pp, de não dependência da moeda circulante. Quanto mais vivemos isso, mais afundamos. O mundo está feito para uns, não para todos. Isto é que necessita ser quebrado. Enquanto endeusarmos o mundo já existente, mais alquebrados vamos ficar com sua lógica. Se queremos mudar, temos que ser radicais. Se não, vamos viver de arranjo em arranjo que só tem servido e há muito tempo, aos mais abastados ($) do planeta, levando ao estrangulamento da vida social que hoje presenciamos.

Unknown disse...

...rode para trás...

celsolungaretti disse...

RESPOSTA ENVIADA PELO DALTON ROSADO:

Cara Zenilda,

Não tenha dúvidas de que a esquerda se enquadrou, nesses 170 anos, aos limites da luta de classes que significou apenas um embate entre os donos dos meios de produção (os capitalistas, privados ou estatais) e os trabalhadores em busca do dinheiro, sem questioná-lo enquanto tal. Dessa forma, a busca da hegemonia política pelos trabalhadores resultou na criação do estado pretensamente proletário, que faria a extração de mais valia em nome dos próprios trabalhadores (criaram um ladrão em defesa da vítima do roubo).

Tal postura deriva do desconhecimento (ou da desonestidade, o que é sempre pior) do caráter autotélico da forma-valor e de todos os seus construtos, que não permite a justa distribuição do dinheiro. O dinheiro é como um dragão que quanto mais se alimenta e maior fica, mais precisa de alimentos. Os trabalhadores sempre se ferraram na vã esperança de se tornarem senhores do valor que produzem. Nunca lhe ensinaram que precisavam superar o valor , o trabalho abstrato e a sua própria condição de trabalhador, ao invés de incensá-la.

O capital e o trabalho são faces de uma mesma moeda; espécies de um mesmo gênero (a forma-valor); e um não existe sem o outro. Portanto, ser anticapitalista e ao mesmo tempo defender o trabalho abstrato produtor de valor que acumula capital corresponde a uma contradição no próprio objeto teleológico.

Assim, não precisamos de um governo diferente, mas de uma sociedade sem poder governamental; não existe economia solidária, vez que a lógica econômica é antes de tudo anti-solidária (precisamos de produção solidária); não precisamos de moedas próprias, mas de uma forma de distribuição dos bens produzidos que nem de longe lembre a ideia de valor monetário; nem precisamos de escambo, que é a troca quantificada e mensurada pelo padrão valor, mas precisamos de trocas não quantificadas havidas em razão das necessidades de cada um e da capacidade de produção de cada um de bens e serviços que não sejam mercadorias.

Você se torna lúcida quando se dispõe a pensar fora da caixa; loucos são os que seguem como zumbis a todo vapor rumo ao abismo, sem questionamentos. A busca de saídas com todos os seus inevitáveis equívocos conceituais e correções de rumo constantes é o que nos levará às soluções mais adequadas. O nosso pensar não significa um passo para trás, mas um salto para o futuro com o apoio indispensável de todo o saber adquirido pela humanidade.

Obrigado por sua intervenção, Dalton Rosado.

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