quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A NOSSA LUTA CONTRA A VITÓRIA DO RUIM

"A única revolução possível está dentro de nós" 
(Mahatma Gandhi, defensor do Satyagraha
princípio de não agressão e da forma 
não violenta de protesto)
.
É muito oportuno o alerta do Celso Lungaretti, sobre a inconveniência de se lançarem palavras de ordem de ódio e morte contra o Presidente Temerário

Por mais que ele represente o consenso das elites no sentido de que o capitalismo decadente deva ser salvo a qualquer custo, sacrificando ainda mais uma população exaurida, e seja por isto merecedor do nosso repúdio, nós devemos nos fixar em propostas de superação deste mesmo capitalismo a partir de soluções alternativas que apontem para a salvação da vida humana e não para o confronto belicista.

A opção por análises da crise estrutural do capitalismo, para delas tirarmos conclusões verdadeiramente emancipatórias, com ações consistentes e sem qualquer ação tresloucada (inclusive no sentido de não fornecer pretextos para uma escalada repressiva), são as tarefas mais importantes nesse momento de desespero para os desempregados e jovens sem perspectivas; para aposentados idosos que não recebem os seus salários (como está acontecendo no Rio de Janeiro); para pensionistas desfalcados; para os que sofrem com a seca por conta do aquecimento global provocado pela emissão irresponsável do CO² na atmosfera (EUA e China à frente); e até para os empresários falidos que veem seus credores batendo à porta.

A crise do capital só está começando e o que vem por aí deve merecer de nós o maior grau de lucidez e discernimento sobre as causas desta débâcle e sobre a possibilidade concreta de sua superação fora de sua lógica (do capital) que se tornou anacrônica.     

Os importantes protestos de ruas, que ao longo da história têm sido relevantes, devem considerar que o capitalismo desenvolvido e o seu estado nacional nasceram das guerras, e que as forças belicistas defensoras da sua manutenção não hesitarão em usar as armas que detêm, e que são agora efetivamente muito mais letais do que antes. A nossa luta deve se dar noutro campo, qual seja, o das consciências, capazes de mobilizar as forças incomensuráveis da participação coletiva, que, afinal, existem. 

Chico Buarque, em documentário sobre Vinicius de Morais (cujo centenário de nascimento se deu em 2013), afirmou que o poeta diplomata não teria um bom lugar no mundo de hoje, com o atual estado de coisas. Avaliou que ele não se sentiria bem com a atual vitória da ostentação; do pragmatismo (que, na minha visão, é a busca do poder e do vencer como fim que justificaria os meios); da falta de generosidade; da perda da pureza, etc. 

Concordo com Chico, até quando ele diz que desapareceu a saudável irreverência porra-louca. A contracultura underground questionava valores conservadores de um modo até certo ponto ingênuo, mas bem intencionado, que, infelizmente, deu lugar, hoje, à inconsciência agressiva e à violência destrutiva.

Há quem se rebele e são muitos os que potencialmente podem se rebelar. Falta, contudo, um suporte teórico mais profundo que possa ensejar uma maior consistência aos bem intencionados, mas ingênuos movimentos mundiais contra a crise econômica, do tipo Occupy Wall Street, Black Bloc  e outros, 
Neles, desempregados, ativistas e pessoas indignadas se aglomeram em protestos nas praças e diante de instituições representativos do sistema, clamando justamente por aquilo que lhes infelicita: melhores salários, menores taxas de juros, maior assistência do Estado e mais trabalho, trabalho, trabalho.

Não compreendem que justamente todos os construtos capitalistas (e principalmente o trabalho abstrato, mecanismo primário de produção do valor e modo de relação social exaurido) sejam aquilo que deve ser superado de modo transcendental para que se estabeleça um novo modelo. 

Reivindicam políticas públicas, o que significa mais Estado, mais impostos e mais atividade econômica impossível de ocorrer no atual estágio da vida mercantil; reivindicam o fim da corrupção pelos políticos, sem entender que são os políticos profissionais devem ser todos defenestrados, etc. E este é o lado bom da maçã...

Há o lado que se mobilizou para a vitória do ruim (sem desconfiar que o gigante tinha os pés de barro). Este: 
– pugna por maior desenvolvimento econômico; 
 – vê como exemplo positivo a economia chinesa, com seus novos e abundantes bilionários (sem entender o significado global numérico disso); 
– delicia-se e interage com a programação desqualificada da indústria do entretenimento (cuja influência mesmerizante e imbecilizante, segundo o jornalista Paulo Francis, estaria engendrando um inferno pamonha); 
– que coloca a culpa da miséria social e do aumento da fome no mundo nas vítimas, a quem atribui ignorância e preguiça; 
– que atribui a escalada da violência à falta de policiamento; 
– que minimiza a agressão ecológica e o aquecimento global, dizendo serem invencionices de ecoxiitas; e por aí vai...
Mas há os que refletem sobre a gênese desse estado de coisas sem atribui-lo apenas ao mau gerenciamento político, mas sim a uma forma de relação social que sempre foi ruim, genocida, mas que agora encontrou o ponto limite de saturação e clama por soluções alternativas.

Estamos convencidos (os que consideramos que a guerra nunca é solução inteligente para nada, mas a explicitação do estágio inferior de nossa racionalidade), que podemos superar o capitalismo e tornar a vida prazerosa e sustentável. E de que isto não depende de nenhuma vontade externa, mas apenas da nossa consciência e da nossa ação. 
Por Dalton Rosado

Não podemos ter ilusões sobre o caráter belicista do capitalismo, que não hesitará em nos submeter ao tacão de suas armas de fogo. A força da nossa resposta deverá estar assentada num caráter construtivo consciente, que negue a guerra pela guerra, ainda que tenhamos o direito à legítima defesa coletiva.

Parabéns, Celso. Você tem legitimidade para falar sobre o significado da hipossuficiência da correlação de forças no confronto com as armas de fogo do sistema, e dar conselhos aos bravos jovens voluntariosos, que precisam estar atentos às lições da História e à verdadeira gênese das nossas desgraças coletivas. 

13 comentários:

Mauro Julio disse...

Não existe capitalismo ruim ou bom. Ele é apenas um sistema advindo do nosso DNA, quando aprendemos a produzir e armazenar bens. Daí , passamos a trocar com o outro aquilo que nos sobrava. Coisa natural, conduzida pelo óbvio.
No Brasil o capitalismo nunca existiu, pois o povo inculto sempre pensou que o estado deveria reger a vida de todos, como pensam também, até hoje, os adeptos de ideologias ou religiões políticas, em que se passa a ilusão de mundos perfeitos, de justiça e de promessa de paraíso aqui na terra.
E por aí vai.

celsolungaretti disse...

RESPOSTA QUE O DALTON ROSADO MANDOU POR E-MAIL:

Caro Mauro Júlio Vieira,

o capitalismo é um modo de relação histórico, ou seja, com ciclo com nascimento, vida e morte. Não é referencia ontológica, que se refere ao que sempre existiu e existirá por ser inerente e indispensável à própria vida (como o ar que respiramos, por exemplo).

Desenvolveu-se a partir do abandono da partilha primitiva e adoção do escambo que se traduz como a troca quantificada de objetos sob um critério de valoração a partir do grau de dificuldades do seu fabrico.

Tal fato gerou a possibilidade de acumulação privada e individual da riqueza material em detrimento da partilha comunal e com ela veio a escravização do homem pelo homem no sentido da produção cumulativa e segregada dessa riqueza material. O processo de escravização do homem é, também, historicamente recente, se considerarmos a trajetória de milhões de anos dos hominídeos sob o Planeta Terra.

Os acontecimentos posteriores derivaram desse primeiro momento. Paulatinamente foram se construindo formas sociais e institucionais até que surgiu a recente escravização indireta do trabalho abstrato, no qual o ser humano é explorado pelo capital a partir da extração da mais-valia.

Somente há cerca de 160 anos é que saímos das relações pré-capitalistas (dos servos europeus e escravos negros nas Américas) para o capitalismo desenvolvido, que agora enfrenta uma crise diferenciada, porque causada pela contradição inconciliável dos seus próprios fundamentos. A produção tecnológica de mercadorias não produz valor no volume necessário à irrigação de todo o sistema e causa desemprego estrutural. Esses dois fatores conjugados retroalimentados e irreversíveis são decisivos para a débâcle do sistema.

O sistema capitalista vive o seu momento de exaustão, ou a fase última do seu processo histórico: o ocaso enquanto modo de relação social minimamente viável seja sob o ponto de vista da satisfação das necessidades humanas ou da sua sustentabilidade ecológica.

Considero, portanto, que o capitalismo não está no DNA nos seres humanos, nem mesmo por analogia metafórica, e muito menos biológica. Quando muito, como relação reificada que é (coisificação das pessoas pela personificação de coisas) ele é uma lógica de relação social que dominou o agir e o pensar humanos, submetendo-o, e que leva muitos a considerá-lo, a nosso ver, equivocadamente, como algo natural que sempre existiu e existirá.

Precisamos superar o capitalismo sob pena de sucumbirmos juntamente com ele, seja sob a forma de guerra de extermínio ou crise ecológica suicida.

Agradeço a sua participação e exposição do seu ponto de vista, pois ele propicia a demonstração das nossas análises sobre essa questão, sem querer que sejamos os donos da verdade. Somente com o debate dialético civilizado e tolerante das ideais poderemos corrigir nossos eventuais equívocos e promover a melhor compreensão das razões da nossa tragédia social, que não deve ser aceita passivamente como destino natural ou penitência humana para se subir aos céus.

Um abraço, Dalton Rosado.

Valmir disse...

to cada vez mais "cafuso",,,se "a única revolução possível esta dentro de nós" pra que serve a revolução social, política e econômica que inclui o socialismo em suas diversas formas...já que isso é justamente o contrario???

SF disse...

Dos 3 caras que criaram a base o moderno pensamento ocidental, a saber: Freud, Marx e Darwin; apenas Darwin deixou uma teoria, cuja comprovação, pelas evidências materiais, se deu e continua firme, forte e irretorquível até hoje.
Além disso, termos práticos, ele e John Hooker vivificaram a deserta e inóspita ilha da Ascensão no Atlântico sul.
Versando sobre fatos observáveis, elaborou a teoria para compreensão da natureza (nós inclusive).
E como todo aqule que fez ciência é combatido, negado e vilipendiado pelo obscurantismo.

Ele também é chato para os idealistas em geral.

Nosso querido Marx foi um filosofo do capitalismo. Ele estudou o capital e ingenuamente gritou: "parem trabalhadores este é um jogo sujo, vcs estão sendo enganados"!

Misteriosamente, ninguém realmente parou, mostrando que não basta saber que jogo é sujo.
Parece que tem que pensar fora do jogo.
Qualquer outra elaboração dentro da tertúlia, acredito, é maculada pelo ego que existe na relação antagônica.
Talvez seja por isso que todas as tentativas de mudar a relação dominador/dominado sempre fracassam.

Ah, como o velho Darwin incomoda ao demonstrar que as espécies se formam por seleção do meio - sem considerações morais envolvidas.

Os cientistas estão assustados, pois já perceberam que os nossos biocidas estão cada vez mais ineficientes e, provavelmente, serão ineficazes em breve.

É que sempre sobram alguns indivíduos mais resistentes.
A seleção natural é um fato.

Mas... onde estão as experiências altruístas e horizontalizadas de convivência humana fraterna?


Valmir disse...

Mas... onde estão as experiências altruístas e horizontalizadas de convivência humana fraterna?..na Finlândia? Nova Zelândia? Austrália??
antes eu pensaria em incluir a Suécia, mas depois que se dispuseram a entregar a cabeça do Julian Assange aos americanos, fazendo seu trabalho sujo..somente pq, supostamente fez sexo com duas mulheres, sem preservativos -sexo consensual - e por isso foi condenado por estupro???

celsolungaretti disse...

E-MAIL ENVIADO PELO DALTON ROSADO:

Resposta ao leitor Valmir,

a citação da frase do Gandhi serve para refletirmos sobre o fato de que sem que operemos uma transformação no nosso próprio pensar contrariando conceitos sedimentados equivocadamente em nossa mente durante séculos de dominação, nenhuma revolução consolidar-se-á como instrumento de emancipação. Isso reforça a tese de que podemos ter impulsos externos e conscientes para essa transformação pessoal.

**********************

Resposta ao leitor SF,

a teoria Darwiniana aplicada ao reino animal irracional é correta. Somente as espécies que tiveram a capacidade de sobrevivência, seja pela força ou pela intuição, puderam evoluir, aí incluída a espécie humana, que graças à solidariedade das ações pode sobrepujar feras muito mais fortes. Infelizmente esse traço de solidariedade, que representou a possibilidade de sobrevivência dos hominídeos nos primórdios de sua existência, é contraditado hoje pela reificação das relações sociais a partir de coisas que ganham vida (as mercadorias) e nos submete numa lógica que também nos desumaniza, e que torna todos adversários de todos na competição pela sobrevivência.

Mas considero que é sempre equivocada a aplicação da teoria darwiniana às relações sociais, segundo a qual só o mais forte sobrevive. Assim considero porque a racionalidade humana, ainda que esteja em estágio de desenvolvimento, pode elaborar conceitos nos quais a inteligência e sentimentos superiores em relação ao seu semelhante podem e devem afastar qualquer ideia de eliminação dos mais fracos, que é um princípio racista e que foi admitido pelos postulados nazistas de péssimas lembranças.

É o que penso sobre esse tema, meu caro SF.

Um abraço agradecido a todos pela leitura e participação, Dalton Rosado.

Mauro Julio disse...

Bem, vou tentar colocar melhor minha posição , que, antes de mais nada, inclui o fundamental para se entender o fenômeno social que é a alma humana ( "Há mais por aí nas ruas do que imagina nossas vãs teorias de gabinetes ou salas de universidades" - Shakespeare). Sem isso , na minha opinião, os equívocos serão inevitáveis, como foram, e a história está aí para não nos deixar mentir, as pretensões ideológicas ou religiosas políticas, que não a levaram em conta em suas fórmulas para estruturar a sociedade e que foram aplicadas em muitos países durante o século passado com resultados catastróficos. Em contra-posição , nos países capitalistas , o desempenho econômico, político e social foi bastante melhor. Muito melhor, pois o Homem ainda manteve um pouco daquela liberdade que desfrutava nos primórdios, em que ele mesmo resolvia os problemas sem interferência de burocratas do estado.

A teoria na prática é outra:

Na prática o que vemos em termos de produção, é que no tal capitalismo, por mais precário que seja, se mostrou bastante mais eficaz do que em países anti-capitalistas. Isto significa melhor condição de vida para a população. Ou menos pior, claro.

Quanto à escravidão ou exploração do trabalho, isto agora é crime; então, esse argumento não procede mais.
E por aí vai.

Obrigado

PS. Não vejo por aqui alguma coisa com referência a autores que dedicaram seu tempo a tentar perceber o fundamental: a alma humana, como Shakespeare, Nietzsche, Cioram ...

celsolungaretti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
celsolungaretti disse...

OUTRO E-MAIL ENVIADO PELO DALTON ROSADO (substitui versão deletada, pois ele, na revisão, a considerou incompleta):

Caro Mauro,

após o advento do capitalismo desenvolvido (no período que lhe foi imediatamente anterior, tivemos o feudalismo e as relações pré-capitalistas de transição) jamais houve experiências anticapitalistas. As revoluções marxistas-leninistas, que se auto-intitularam anticapitalistas, mantiveram todas as categorias econômicas que caracterizam a relação social capitalista (valor, trabalho abstrato, dinheiro, mercadorias, mercado, estado arrecadador de impostos, capital estatal, etc.). Elas se constituíram na verdade como capitalismo de Estado.

A diferença residiu apenas na direção política da economia capitalista fixada em dois pontos: a) proibição da extração de mais valia privada; e b) propriedade estatal dos meios de produção. Após o fechamento de suas fronteiras ao capital internacional como proteção do mercado interno, e cumprido esse estágio, tiveram que abrir suas fronteiras para o mercado internacional e privado. O capital exige expansão e foi isso que motivou a abertura econômico-financeira na Rússia e na China.

Destarte, a queda do muro de Berlim, em 1989, apenas representou e sinalizou um estágio limite da expansão capitalista estatal. O capitalismo one world se vê às voltas com dificuldades nunca antes experimentadas representadas pela sua fronteira expansionista ora atingida como previu Marx. Os Marxistas não conheciam Marx, ou não quiseram conhecê-lo, pois isso representava uma revolução dentro da revolução.

Quanto aos existencialistas (Sartre foi um dos mais recentes, e de simpatias marxistas tradicionais), considero que Shakespeare foi o melhor entre todos, pois soube perscrutar a alma humana que começava a ser dominada pelo vil metal naqueles primórdios da transição feudal para o capitalismo no final do século XIV e início do século XV), e ironizar esse domínio pela via da dramaturgia de um modo tão perspicaz quanto ferino. Muitos dos existencialistas nada mais eram do que defensores do iluminismo burguês com suas bandeiras pseudo-libertárias.

Um abraço, Dalton Rosado.

celsolungaretti disse...

Uma discussão abrangente sobre o existencialismo seria demasiado longa, mas quero destacar um aspecto importante: o desconforto dos intelectuais de esquerda com o stalinismo. Não conseguiam aceitar nem uma sociedade regida pelo Deus Mercado, nem o sacrifício da liberdade individual e do pensamento crítico para serem aceitos entre os que encabeçavam a luta contra o capitalismo.

Estavam num mato sem cachorro. Os acontecimentos ora os faziam quererem lutar contra a dominação burguesa e suas corporificações mais odiosas (nazismo, fascismo, salazarismo, franquismo), ora os levavam a recuar horrorizados diante do totalitarismo obtuso e genocida de Stalin. Viviam permanentemente conflituados.

Mas, deixaram como uma contribuição importantíssima sua visão de moral, ao afirmarem que o homem se construía por meio de suas opções e elas passavam a defini-lo irremediavelmente. Então, nada revogava o que ele já fizera e, se tentasse corrigir ou modificar seus atos passados e respectivas consequências, apenas acrescentava uma grandeza nova à sequência, não desfazia a anterior, que nele se incrustara para sempre.

Foi uma bofetada não só na visão religiosa ("arrependei-vos e os céus se abrirão para vós"), como também na má consciência dos stalinistas. Pois, se alguém agia como um bruto em nome do paraíso comunista que queria construir, estava na prática se definindo como um bruto, pouco importando que, na sua visão, ele acreditasse estar recorrendo à brutalidade para erradicar definitivamente a violência da nossa sociedade.

Se não na teoria, pelo menos na prática sempre houve um forte componente utilitário nos movimentos revolucionários, herança maldita de jesuítas e de amorais vários (inclusive os calvinistas, para quem o enriquecimento evidencia que aqueles que o obtêm estão nas graças de Deus).

Para não ficarmos só em acontecimentos distantes, os petistas foram muito solidários ao Zé Dirceu enquanto se pensava que ele montara uma rede de ilegalidades apenas para financiar as atividades partidárias. Tal fim, na visão deles, justificava plenamente os meios que utilizou.

Quando surgiram evidências gritantes de que ele colhera também benefícios pessoais, voltaram-lhe totalmente as costas. Roubar para o partido pode, roubar para si não pode.

Aprecio muito a visão existencialista neste aspecto: o homem, para Sartre (principalmente), não é igual aos fins que persegue e nem por eles é redimido; mas sim às escolhas morais que faz, corporificadas nos atos que pratica.

Temo que grande parte dos dirigentes petistas seriam considerados "salauds" (desprezíveis, bastardos) pelo Sartre...


Mauro Julio disse...

Caro Dalton Rosado,
muito obrigado pela suas explicações sobre a evolução humana no que diz respeito à evolução política e econômica da sociedade humana.
Como você discorreu, algumas das fórmulas para a construção de um estado, imaginado justo por seus idealistas, esbarraram em interpretações, equivocadas ou não, daqueles que tiveram nas mãos o poder para aplicá-las na prática. Ou pior, talvez elas podem ter esbarrado em algo mais complexo, como a alma das pessoas, como algo de incompatível presente nela , quando se trata de tentar colocá-la em caminhos que escapam de sua condição natural.

Abraços

SF disse...

Eita!

A bem dizer a ciência não precisa de defensores, são Leis naturais.

Essa visão errônea da teoria da evolução das espécies - de que os mais "fortes" sobreviveriam - foi uma das primeiras deturpações que os incomodados por ela aventaram.

A formulação da teoria diz que são os mais adaptados (e não os mais fortes) que deixam descendentes viáveis.

Outra coisa foi pensar que o nosso cérebro mais desenvolvido, e sua peculiar da inteligência, seja outra coisa que não mera adaptação da espécie.
Espécie muito bem sucedida, mas sem privilégios na luta pela sobrevivência.

Porém, por mais bem sucedida que sejam os humanos não deixam de ser apenas mais um organismo submetido as inalteráveis leis da seleção natural, assim como as bactérias.

Essas sim, as bactérias, campeãs absolutas no quesito adaptação e sobrevivência.
Aliás, foi pensando no vídeo "The Evolution of Bacteria on a “Mega-Plate” Petri Dish (Kishony Lab)" que lembrei que os nossos biocidas (inseticidas, antibióticos, herbicidas e outros "idas") estarão cada vez mais ineficazes.

Pois é, as soluções dos autodenominados "mestres do universo" para a sua própria sobrevivência talvez esbarrem na implacável capacidade adaptativa dos microrganismos...

Pode ser que a inteligência não seja uma adaptação tão boa assim.

Deveria ser, mas imagino que depende muito de como é utilizada.

A minha pergunta sobre sociedades altruístas e horizontalizadas, foi uma provocação mesmo.

Ao meu ver, a resposta está aqui, na internet.

Veja-se o tanto de conteúdo e igualdade existe no mundo virtual.

Pode não ser o ágape sonhado, mas é o mais democrático e horizontal meio de comunicação jamais utilizado pelo ser humano.
Os caras que a criaram deram uma grande contribuição para um mundo mais igualitário e onde o conhecimento circule de maneira mais eficiente. (vitória para inteligência bem aplicada!)

Penso que temos momentos de fraternidade quando esquecemos o ego e a celebramos a vida, a amizade, o amor e os valores superiores.
Quando nos reunimos para homenagear uma pessoa querida, ou para se despedir dela.
Ou quando lembramos que o que fizermos poderá afetar outras pessoas, pensando não só em nosso interesse imediato, mas no bem comum. Como acontece nas famílias.

Por fim, não dá para confundir a teoria da evolução das espécies com eugenia.

Já foi demonstrado que, em linhagens puras, os genes recessivos tem mais chance de se expressar no fenótipo. A hemofilia é uma caso clássico.

Todo aumento de produção agropecuária que temos hoje deveu-se a hibridação, ou seja, o cruzamento das linhagens puras para se obter o vigor híbrido.

A reprodução sexuada nos animais e plantas superiores foi a estratégia mais eficaz para garantir a perpetuidade de suas respectivas espécies.

Tudo junto e misturado, sempre cruzando, sempre trocando informação genética, de maneira a gerar descendentes mais fortes.

Logo, a teoria da evolução é o oposto e o antídoto a todos os tipos de eugenia e qualquer ilusão de supremacia.

celsolungaretti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Related Posts with Thumbnails