quarta-feira, 20 de julho de 2016

SUCESSORA DE FAUSTO, DILMA QUIS FLEXIBILIZAR O PACTO COM MEFISTÓFELES...

Serenidade" de um lado, "falas desconexas" do outro.
O jornalista e historiador Elio Gaspari é um homem de esquerda formado na cultura do velho PCB. Como tal, manteve-se bem distante das ilusões armadas e hoje não crê nem mesmo nas ilusões desarmadas. Move-o, contudo, um elogiável sentimento de compaixão e solidariedade para com o povo sofrido, daí ter assumido posição contrária ao Governo Dilma, principalmente no catastrófico segundo mandato.

Em artigo recém-publicado, ele compara com sapiência e sarcasmo os estilos pessoais: 
"Antes mesmo de completar cem dias, Michel Temer conseguiu dar estabilidade ao seu governo. Começou da pior maneira possível, com um ministério pífio e contaminado, cercado de suspeitas e de ligações inconvenientes. A mágica tem um nome: calma, sangue frio ou mesmo serenidade.  
...A estabilidade trazida pela mágica da calma foi ajudada pela esperança que a blindagem de Henrique Meirelles levou para o Ministério da Fazenda. Por enquanto, na panela da ekipekonomica há muito pirão e pouca carne. Felizmente, o mercado compra esperança e o novo governo mostrou que, com o afastamento dos pedalantes, pior a coisa não fica.   
 ...Temer também teve sorte. O PT ainda não acordou da pancada do início do processo de impedimento e Dilma Rousseff percorre plateias amigas cada vez menores, com falas cada vez mais desconexas. Na última, comparou o seu infortúnio aos acontecimentos da Turquia"
Meirelles: Lula gostava, Dilma enxotou, Temer foi buscar.
No fundo, para quem analisa a política oficial sem antolhos ideológicos, boa parte do que ele escreveu é o chamado óbvio ululante, começando pelo fato que que, nos moldes da democracia burguesa, Michel Temer governa muito melhor do que Dilma Rousseff.

Afinal, durante os 16 meses do seu segundo mandato ela nem sequer conseguiu governar. Quando estava nos estertores, desistiu até de tentar. Foi ultrapassada pelos acontecimentos e acabou deixando o país e a economia à deriva, enquanto se dedicava, exclusiva e obsessivamente, à defesa vã do seu mandato.

Quanto à gradativa melhora das perspectivas econômicas desde que ela foi afastada, é um fato. Não apenas em razão da incompetência abissal de Dilma, que deu significativa contribuição para atingirmos o terrível patamar de 11 milhões de brasileiros na rua da amargura (desemprego elevado haveria de qualquer maneira, mas os erros bisonhos de política econômica o maximizaram), como também porque o modelo populista encarnado no PT estava esgotado, cá como noutros países sul-americanos.

Todos coincidiram no ponto de partida: a tomada de governos pela via eleitoral. Depois, alguns foram mais longe na tentativa de tomada progressiva do estado, outros acabaram detidos no meio do caminho.

O certo é que não houve uma revolução clássica em nenhum deles. Os explorados não se organizaram para exercer o poder, foram organizados para apoiar governantes caudilhescos. Marx sempre quis torná-los protagonistas da História, não vê-los relegados ao papel de objetos de homens providenciais, servindo de peões no tabuleiro do seu jogo, cujo objetivo final nunca foi o xeque-mate, mas sim a mera perpetuação no poder.

Dez anos depois, só Morales continua no poder.
Como a História cansa de ensinar, regimes caudilhescos podem até prosperar durante a vida física dos caudilhos, mas não sobrevivem a eles. Primeiramente, porque não estimulam o povo a pensar e agir de forma autônoma, preferindo mantê-lo sempre sob controle, daí sua incapacidade de reação quando fica órfão do paizão.

Depois, porque o grande homem costuma temer a sombra de um sucessor e geralmente favorece o mais medíocre dos seus cortesãos, o que acaba colocando cavalgaduras como Maduro numa posição à qual jamais deveriam ser alçados.

No Brasil, o governo petista nasceu atrelado aos compromissos que assumiu em 2002 com o poder econômico, de submeter-se a ele na tomada de decisões macroeconômicas, contentando-se em administrar as miudezas do varejo.

Enquanto a conjuntura internacional favorecia as commodities brasileiras, a receita funcionou. O grande capital continuou com a parte do leão (sem um mínimo de simancol, Lula se vangloriava de que os banqueiros nunca haviam lucrado tanto quanto nos seus governos!!!) e ainda sobrava uma graninha para aumentar a quota de migalhas dos explorados, por meio do bolsa-família e outros mecanismos de transferência ínfima de renda para os pobres.

Quando a maré virou no exterior e o cobertor ficou curto para continuar cobrindo tanto as cabeças garbosas da burguesia quanto os pés sofridos dos coitadezas, Dilma resolveu desconsiderar em certa medida o pacto firmado por seu padrinho com Mefistófeles e tentar fazer a economia pegar no tranco, seguindo o figurino do velho nacional-desenvolvimentismo (ou seja, com os investimentos estatais a empurrando), de forma a manter e talvez ampliar as conquistas sociais das duas gestões anteriores. 
A esquerda já deveria ter começado a mudar em 2013
Sua soberba a cegou: não percebeu que era um passo maior do que suas pernas, impossível de ser dado sem o apoio incondicional do Lula, pois era ele quem mandava (e continua mandando) no PT.

Os capitalistas também não gostaram da brincadeira e, como quem manda no capitalismo são eles, despacharam Dilma com um piparote, fazendo-a desabar no chão do Palácio da Alvorada, do qual será também despejada no mês que vem.

Não lamento, porque é difícil enxergarmos alguma vantagem em ser petista quem gerencia o capitalismo para os capitalistas, ajudando a mistificar os explorados. Mil vezes melhor a esquerda permanecer fora do poder, lutando para conquistá-lo de forma digna; ou seja, sem abdicar de sua verdadeira identidade, nem trocá-la por uma versão light e, muito menos, negociar a alma em acordos podres!

Então, enquanto muitos (principalmente os que perderam suas escandalosas boquinhas) veem a queda de Dilma como uma desgraça, eu a vejo como mais uma oportunidade para construirmos uma esquerda de verdade, revolucionária, no Brasil. Aquela que deveríamos ter começado a forjar tão logo terminou a ditadura de 1930-1945, e depois a de 1964-1985.

Agora que o populismo de esquerda desmoronou e se desmoralizou por completo, temos uma terceira chance para fazer direito a lição de casa, quiçá a última, pois a alternativa para nós neste instante é retomada revolucionária ou marcha para a irrelevância.

4 comentários:

Umberto D disse...

O graúdos do PT têm como estratégia para a sobrevivência política deles que o partido reeleja o prefeito Haddad em São Paulo.
A realidade das urnas poderá desmoronar esse sonho. A menos de 90 dias das eleições, o atual prefeito está em quarto lugar nas sondagens.

Parece que atual administração tem como trunfo marqueteiro mostrar as faixas para ciclistas, o famigerado limite de 50 km por hora nas grandes vias e faixas das marginais.

Um exemplo, não só da incompetência administrativa, mas incompetência POLÍTICA mesmo, neste mês de julho os ingressos das salas de cinema do Centro Cultural São Paulo e de outras salas foram majorados em 700% [setecentos] a inteira e 300% a meia entrada.

Desde a administração passada cobravam R$ 1,00 a título de taxa administrativa [não tinha meia entrada] que era mais para coibir a entrada de mendigos e coitadezas da rua.

A partir do dia 21.7 R$ 8,00 a inteira e R$ 4,00 meia.

Conheço muitos aposentados, homens dignos, amantes do cinema, mas com as pensões corroídas pelo o tempo que terão que restringir suas frequências a essas salas.

Este é o serviço que a SPCINE empresa pública municipal criada o ano passado pela administração Haddad está prestando ao povo paulista.

Uma empresa com diretor, setores, chefetes e toda sorte de sinecuras para os apaniguados.

Essa SPCINE deve ter copiado a genial experiência do Centro Cultural Banco do Brasil [mantido com recursos públicos, do povo portanto] que na véspera da votação do impeachment aumentou em 100% os ingressos da sala de cinema: de R$ 4,00 passou para R$ 8,00 a inteira.

Essa SPCINE é tão descarada, cínica [ nem sei definir a atitude dela] que no cartaz informando os novos preços diz que de NINGUÉM SERÁ EXIGIDO DOCUMENTO DE IDENTIDADE NA COMPRA DE MEIA ENTRADA. Convida o expectador não estudante e não aposentado a procedimento aético.
Como disse um amigo, repetindo um refrão, "para que votar na cópia [no Haddad] vou votar no original mesmo. Eu votarei nulo nas eleições municipais de outubro.

Marcílio disse...

O cerne da questão continua sendo: Relação Capital x Trabalho (sempre com o aviltamento deste) e a busca de matéria prima abundante e barata. Fora disso, é luar de Paquetá...

Nosso passado escravocrata está sempre a nos assombrar. E o mordomo a serviço do Capital deve completar o serviço pelo qual foi alçado ao posto: aprovar a "flexibilização" da CLT, reduzir o orçamento da Educação e Saúde e, the last but not the least, judiar dos velhinhos aposentados e pensionistas.

Claro que tudo isso com a força amiga da mídia chapa branca, que insiste numa democracia sem povo.

"Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são"

celsolungaretti disse...

Marcílio,

o chato é que o PT deveria fazer o contrário, mas acabou sendo mais do mesmo.

Quando começou a terceirização, cansei de alertar que quebraria a espinha dos sindicatos e fragilizaria os trabalhadores. Os petistas, contudo, tinham bandeiras que lhes importava mais priorizar e deixaram acontecer. Os sindicatos se esvaziaram, as centrais se esvaziaram e os trabalhadores que aceitam empregar-se como falsos terceirizados podem ter o "contrato de prestação de serviços" rescindido da noite para o dia e receberem apenas um mês a mais. Brilhante!

Neste sentido, quem primeiramente fragilizou a CLT foi o próprio PT, ao não combater como deveria a terceirização.

E, no aspecto dos "velhinhos", dou testemunho pessoal: fui acertar a minha aposentadoria no fim do ano passado e, no posto do Ministério do Trabalho da rua do Orfanato, capital paulista, TODOS fomos empurrados para a aposentadoria por idade, que paga apenas um salário-mínimo.

Eu requeri por tempo de trabalho e consegui comprovar pelo menos 15 anos. O técnico me chamou, disse que não daria pé porque eu não recolhera nada no finzinho e, "por coincidência", já tinha preparado a conversão do meu pedido para aposentadoria por idade.

Aí ele disse: "O sr. pode tentar a aposentadoria por tempo de serviço, levará alguns meses para ter a resposta e quase ninguém nessas condições está conseguindo. Ou pode assinar aqui embaixo e resolver tudo hoje mesmo".

Como eu já estou levando uma canseira de mais de nove anos do governo noutra questão, acabei, muito a contragosto, aceitando. E outros requerentes com os quais papeei estavam recebendo o mesmíssimo tratamento. ISTO AINDA NO GOVERNO DA DILMA!!!

Enfim, o PT tinha tudo para agir de forma diferente, foi para isto que o colocamos lá, e acabou sendo tão fdp quanto os governos burgueses.

Abs.

Vitorio Malatesta disse...

Muitos estudos de sérios economistas demonstram que não existe deficit na Seguridade Social. O que há são distorções, farsas, desde o governo de Fernando Henrique e continuado pelo PT no governo. O que existe é superavit.

A professora de Economia Denise Gentil, da Universidade Federal do Rio de Janeiro tem trabalho sobre essa farsa. Suas entrevistas estão disponíveis no google.

Segundo a professora o SUPERAVIT, excluindo as distorções, de 2013 foi de R$ 68 bilhões, de 2014: 56 bilhões.

Ale´m disso, de 2011 a 2015 as desonerações do governo Lula e Dilma, na Seguridade Social, atingiram o montante de R$ 282 bilhões. Até a Rede Globo se beneficia em milhões desse presente, dessa desoneração.

É incompreensível, odioso até, que um governo que dizia representar o trabalhador tenha mentido, enganado o povo.

Com o reajuste das pensões dos aposentados os militares tinham até mais sensibilidade ou bom senso que esses farsantes que ficaram 13 anos no governo federal.

Não estou defendendo os militares com sua ditadura sanguinária. Explico: o reajuste do salário minimo era 12% e o INPC vamos supor 6%. Era escalonado, quem ganhasse mais de um salário mínimo receberia 12% no valor do mínimo e 6% no que o ultrapassasse.

No PT não. Durante 13 anos se o mínimo fosse R$ 700,00 e o velhinho tivesse pensão de R$ 1.100,00 aplicando os reajustes acima ele receberia somente 6% de aumento.

Nunca tive notícia que um parlamentar do PT denunciasse isso. Nem mesmo o probo, o honesto senador Suplicy. Aliás elogiar um político porque é honesto muitas vezes é elogiar a mediocridade, pois a honestidade é um pressuposto da vida política.

E as traições foram somando nos 13 anos de governo. Nada, nada, que fosse enfrentar o grande capital era feito em benefício do povo. Só migalhas.

Não acreditavam que seriam apeados do governo.

O PT tendo como capitães de seu exército brancaleone, Mercadante, na casa civil e José Cardoso,na justiça, para defender o governo da investida da direita queriam o quê?

Ao povo trabalhador só restou assistir perplexo nos telões instalados no Vale do Anhangabaú, como eu vi, a direita livrar-se dos falsos revolucionários com um piparote na dia do impeachment.
Chegará o dia em que a grande massa de trabalhadores entenderá as traições ocorridas por esse governo que agora finda, formalmente, em agosto. De fato já findou.

Por esse esclarecimento, chegará o dia também os que trabalhadores irão vaiar Lula quando ele aparecer numa grande concentração com seus discursos de solas gastas.

Estaremos vivendo então novos tempos já com a luta de classe em andamento. Assim acredito.

Related Posts with Thumbnails