sexta-feira, 6 de maio de 2016

ANALISANDO AS OPÇÕES: IMPEACHMENT, RENÚNCIA, NOVAS "DIRETAS JÁ", ELEIÇÕES GERAIS... O QUE VEM POR AÍ?

Em cartaz nas locadoras: A Queda...
Dilma Rousseff tenta tornar sua descida da rampa um momento solene, mas é faca de dois gumes: tende a vir ao encontro da imagem que o povo já tem dela, de alguém que está descendo a ladeira há muitos e muitos meses, com sua popularidade caindo cada vez mais enquanto os índices econômicos despencam para o fundo do poço.

O simbolismo que ela escolheu, provavelmente sem noção de como impactará nas pessoas comuns, é perfeito: vai para baixo, para as profundezas, exatamente onde algumas religiões costumam situar o inferno, enquanto o paraíso estaria lá no alto. 

Ou seja, Dilma está fornecendo aos humoristas profissionais e aos brincalhões da internet a chamada piada pronta. E precisa tomar cuidado para não tropeçar na própria soberba e levar um tombo durante o trajeto. Seria o desfecho mais emblemático para a comédia de erros que ela protagonizou.

O Senado vai afastá-la do cargo por até 180 dias na sessão marcada para a próxima 4ª feira (11) e que deverá estender-se madrugada adentro. Depois, no 4º trimestre, haverá nova votação no Senado, que optará pela perda definitiva do mandato ou por sua recondução à Presidência.

Em termos imediatos, não há diferença nenhuma em Dilma sair por decisão dos senadores ou por vontade própria (renúncia). Quem assume é o vice Michel Temer, nas duas hipóteses.

No entanto, muitos consideramos Temer o presidente errado na hora errada. Independentemente de possíveis envolvimentos em ilegalidades, pois não há como prevermos o que resultará das investigações em curso, há o fato de que os brasileiros não o escolheram conscientemente para desempenhar tal função, muito menos num momento tão dramático como o atual.

Em termos formais é errado dizer que ele não teve voto nenhum, pois a escolha se deu entre chapas: os 54,5 milhões de brasileiros que votaram em Dilma para presidente, automaticamente votaram em Temer para vice-presidente. Era diferente até 1960, quando os eleitores votavam separadamente para presidente e para vice, com o risco de elegerem personagens visceralmente conflitantes.
...A Hora do Pesadelo 2...

Político que se movimenta com habilidade nos meandros do poder mas é zero à esquerda nas ruas, Temer dificilmente venceria qualquer eleição para prefeito ou governador, muito menos para presidente; só mesmo se pegasse carona na popularidade alheia, como o poste Dutra foi eleito graças a Getúlio Vargas e o poste Dilma graças a Lula.

Ademais, o estado de beligerância entre PT e PMDB/PSDB continuaria minando qualquer possibilidade de união nacional em torno de uma saída para a terrível crise econômica que nos fustiga. Ao invés de encararmos a política como um Fla-Flu de nossas paixões, temos de pensar, em primeiro lugar, nas aflições dos ainda empregados e na penúria dos mais de 11 milhões de desempregados.

Neste sentido, só um(a) presidente saído(a) das urnas conseguirá unir o País ou, pelo menos, fazer com que o lado frustrado hesite (porque isto pegaria muito mal) sabotar explicitamente, desde o primeiro momento, o lado vencedor.

Já tramita no Senado uma Proposta de Emenda à Constituição antecipando a próxima eleição presidencial para outubro de 2016, de forma a coincidir com o pleito municipal. Segundo O Globo, Dilma cogitou apresentar também sua PEC, mas depois decidiu apoiar a que já existe.

Ocorre que o tempo é muito curto para conseguir-se o apoio de três quintos dos senadores e outro tanto dos deputados. Só mesmo uma mobilização nacional maior ainda que as diretas já poderia, talvez, produzir tal resultado.

Mas, o fato de que Dilma e o PT entrariam nesta campanha só pela metade pois continuariam com o outro olho na batalha derradeira acerca do mandato dela, a travar-se no Senadodificultaria ainda mais a conquista de apoios fora do universo da esquerda, que nem de longe tem hoje capacidade para colocar tanta gente nas ruas quanto seria necessária.
...e Apocalypse Now.

Ademais, quem quer a nova eleição mas não quer Dilma, ficaria com uma pulga atrás da orelha: e se a PEC não passar e o Senado a reconduzir ao poder? Vale a pena contribuir para o fortalecimento político do PT e correr o risco de tal mobilização acabar ajudando a salvar o mandato da queimadíssima Dilma?

Então, não vejo chance nenhuma de a PEC decolar sem a renúncia, e AGORA, de Dilma. Quanto mais ela refugar, menores serão as possibilidades de conseguirmos uma proeza que, mesmo sem tal empecilho, já é das mais difíceis, quase impossível.

Quanto à proposta de eleições gerais, fascina uma parte da esquerda e foi vocalizada nesta 6ª feira (6) pelo filósofo Vladimir Safatle, com sua habitual eloquência:
"... o Congresso representa apenas suas próprias distorções e sua forma de controlar o jogo da representação a fim de se reproduzir como casta. O resultado não poderia ser outro: um Congresso composto por 80% de homens brancos, quase 50% de milionários, mais de 30% de ruralistas. Isto não representa Brasil algum.
Contra esse cenário de horror que se avizinha, a única resposta possível é fazer eleições gerais já. Que os embates políticos voltem à rua, que é seu lugar natural".
Em tese, não há como discordarmos. Mas, numa situação tão crítica como a atual, poderemos suportar mais sete meses e tanto de paralisia governamental, com o universo político voltado obsessivamente para a disputa eleitoral, depois para a remontagem dos governos, enquanto a recessão atingiria os píncaros e a violência dos desesperados eclodiria das ruas?

Para mim, isso parece mais um cenário apocalíptico. Temos uma espada de Dâmocles pendente sobre nossas cabeças e é hora de resolvermos o problema da Presidência da República, já que a maioria dos brasileiros está contra Dilma e a Câmara Federal aprovou seu impeachment.

Quando sairmos do estado de emergência atual, poderemos começar a acertar as outras contas pendentes. São muitas e serão também muitos os nós a desatarmos. Mas, cada coisa a seu tempo.
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P.S. Na véspera do dia D surgiu a notícia de que Lula teria dissuadido Dilma de descer a rampa, argumentando que seria um mau simbolismo.  Exatamente como eu sustento nos três primeiros parágrafos.

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