Com seu afastamento da Presidência da República cada vez mais próximo, Dilma Rousseff parece disposta a desfazer quaisquer dúvidas que ainda perdurassem sobre sua inabilitação para o cargo.
Ela se reelegeu por meio do mais grotesco estelionato eleitoral aqui já ocorrido em pleitos presidenciais, mostrou-se totalmente incapacitada (um verdadeiro desastre!) para a condução da política econômica, provocou a pior recessão de nossa História, perdeu as ruas, viu sua popularidade se tornar irrisória, travou muito mal as batalhas jurídicas e legislativa do impeachment: o que mais poderia esperar, se não a aprovação do impedimento na Câmara Federal?
Como pode ela pretender continuar ocupando o Palácio do Governo se, verdadeiramente, não governa há quase 14 meses e não conseguiu convencer nem sequer um terço dos deputados federais a salvar sua cabeça?!
O pior é que a sucessão de fiascos nada parece ter-lhe ensinado. Não bastou ter vencido uma eleição atribuindo aos adversários a política (neoliberal) que ela própria já decidira colocar em prática e utilizando uma propaganda nazistoide para martelar falácias o tempo todo na cabeça dos eleitores; agora, quer espalhar pelo mundo seu chororô patético de alegar-se vítima de um inverossímil golpe que segue passo a passo o texto constitucional e é fiscalizado minuciosamente pela principal corte do País. Me engana que eu gosto.
Para quê, afinal? Se acredita que a OEA, a ONU e o New York Times evitarão que a grande maioria dos brasileiros faça o que já decidiu fazer, perdeu a noção da realidade. Se não acredita, o caso é mais grave ainda.
Para quê, afinal? Se acredita que a OEA, a ONU e o New York Times evitarão que a grande maioria dos brasileiros faça o que já decidiu fazer, perdeu a noção da realidade. Se não acredita, o caso é mais grave ainda.
Como homem de esquerda, considero profundamente constrangedora a atitude de Dilma. Sempre defendemos a autodeterminação dos povos e fizemos tudo que podíamos para evitar interferências alheias na tomada de nossas decisões. Como cantou Geraldo Vandré, num clássico da MPB: "Marinheiro, marinheiro,/ quero ver você no mar!/ Eu também sou marinheiro,/ eu também sei governar!". E vai agora a Dilma chamar os marinheiros para ensinarem a nós, os bugres, como devemos proceder...
Depois porque, na sangrenta História latino-americana, temos às vezes, como medida EXTREMA, de pedir pressões internacionais para evitar que nossa gente seja massacrada, como ocorria durante a ditadura militar. Se Dilma se põe a gritar "lobo!" quando não existe lobo nenhum nos ameaçando (eles permanecem quietinhos nos quartéis), o que ocorrerá se voltarmos algum dia a precisar da solidariedade das nações em função de um golpe DE VERDADE?
De resto, é paradoxal a importância que a Dilma agora atribui a organismos internacionais, tendo ela ignorado olimpicamente a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que responsabilizou o Brasil pelo desaparecimento de 70 pessoas na região do Araguaia e pela impunidade dos genocidas de Estado, determinando que estes fossem investigados, processados e punidos. Entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
E, enquanto patina sem sair do lugar e nos expõe ao ridículo mundial, Dilma deixa de tomar a única atitude que poderia, talvez, evitar a posse de Michel Temer, num momento em que necessitamos desesperadamente de um presidente com a credibilidade que só uma nova eleição propiciaria: a renúncia imediata.
Unicamente uma decisão com tamanho impacto político, acompanhada por uma exortação de Dilma no sentido de que Temer aja com idêntica grandeza para o bem dos brasileiros e seguida pelo engajamento pleno do PT na campanha pelas novas diretas já, teria, ainda, uma diminuta chance de salvar a situação.
Mas, talvez eu esteja sendo ingênuo ao esperar uma postura de grande personagem histórica de quem até agora, no poder, só tem sido uma personagem histérica.
P.S. Os loucos ainda não estão dirigindo o hospício, felizmente. Alguém de bom senso convenceu a Dilma de que não deveria contar
suas fábulas na tribuna da ONU. Antes assim.
suas fábulas na tribuna da ONU. Antes assim.
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