Artigos em que eu faço críticas geralmente civilizadas ao PT ou desanco merecidamente o Reinaldo Azevedo costumam suscitar, em espaços virtuais, o mesmíssimo comentário dos prosélitos, de que eu teria prevenção exagerada contra um e outro.
Na verdade, sou apenas fiel a mim mesmo: quase tudo que provém de ambos contraria minhas convicções de uma vida inteira.
P. ex., o RA costuma escrever que denunciou tais ou quais internautas à Polícia por lhe terem mandado mensagens intimidatórias. Cansei de receber ameaças de morte durante o Caso Battisti e não tomei providência nenhuma, pois dava para perceber claramente que era molecagem de reaças adolescentes.
Quem pretende mesmo matar, não manda aviso. E minha geração acreditava que homem tem de resolver tais situações por si próprio, ao invés de ir choramingar no colo do delegado, como criança se queixando à professora de que o coleguinha aprontou...
Já a defesa estridente da Petrobrás por parte do PT & intelectuais afins me irrita profundamente porque jamais considerei que revolucionários devessem apoiar companhias estatais em particular e o capitalismo de estado em geral.
O objetivo final de comunistas e anarquistas é uma sociedade sem patrões, sem classes, sem Estado e sem fronteiras. Os primeiros admitiram, depois do esmagamento da Comuna de Paris, que durante algum tempo se mantivessem algumas estruturas do Estado, para defender a revolução dos seus inimigos internos e externos. Os anarquistas advertiram que seria um passo em falso, e a História lhes daria inteira razão.
Vale ainda lembrar que, conforme teorizou Lênin em O Estado e a revolução, o fortalecimento e a perpetuação do Estado não eram nem um pouco desejáveis para os comunistas.
Durante tal fase, caber-lhes-ia irem transferindo o poder real, paulatinamente, ao povo; o aparato estatal deveria ser desmontado pouco a pouco, até extinguir-se completamente por desuso. Da administração das pessoas, passaríamos, tão depressa quanto possível, à administração das coisas.
Salta aos olhos que, em todos os países nos quais se estabeleceu a famigerada ditadura do proletariado, o estado não foi definhando; muito pelo contrário, cresceu desmesuradamente, engendrou castas burocráticas de privilegiados (as chamadas nomenklaturas), travou a economia e intimidou ou aterrorizou a cidadania. O colapso do socialismo real se deu, principalmente, por causa deste desvirtuamento das concepções marxistas.
Antes mesmo de minha geração (a de 1968), já houvera revolucionários repudiando o envolvimento da esquerda na campanha do petróleo é nosso e subsequente criação da gigante petroleira, por terem bem claro que o estatismo e o nacionalismo jamais conduzirão à sociedade sem classes e à revolução mundial.
Empresas em mãos do estado nada significam para revolucionários; o que conta, num primeiro momento, são empresas sob o controle dos trabalhadores, e isto a Petrobrás nunca foi. Num segundo momento, as empresas, tal como as conhecemos (entidades lucrativas), têm de ser extintas, pois todas as atividades econômicas se voltarão para o atendimento das necessidades humanas.
Mais: o pesadelo stalinista, principal responsável (ao tornar execrável a própria ideia de revolução) pela sobrevida parasitária que o capitalismo está tendo depois de haver mais do que esgotado sua função histórica, nos mostrou quão nociva pode ser a estatização da economia, quando desacompanhada da transferência do poder aos explorados.
Ela fornece sustentação econômica ao autoritarismo, que tende a desembocar no totalitarismo, como aconteceu na URSS, na China, no Camboja, etc. É outro motivo para mantermos máxima distância da estatização sem revolução.
Assim, nunca vi relevância nenhuma na defesa das estatais brasileiras e repúdio às privatizações, do ponto de vista revolucionário. Trata-se apenas de mais um conflito de interesses que se trava dentro do capitalismo, envolvendo grupos que nada mais almejam além de auferirem vantagens sob o capitalismo. A Petrobrás jamais pertenceu ao povo brasileiro (nem a ele beneficiou), mas sim ao Estado brasileiro, às curriolas vorazes que o saqueiam e aos gananciosos acionistas. O resto não passa de conversa pra boi dormir.
Por último, é patético que esquerdistas se proponham a defender com unhas e dentes a energia suja que está minando as possibilidades de sobrevivência da humanidade. A era do petróleo tem de acabar, ou somos nós que acabaremos.
Esse PT que quase nada conserva de suas bandeiras originais de esquerda, marcha atualmente na contramão de uma infinidade de valores que sempre cultivei. Deles não abro mão. Sou dos poucos que têm coragem de desafinar o coro dos contentes, nestes tristes tempos em que a esquerda regrediu ao monolitismo e ao pensamento único que pareciam ter sido definitivamente extirpados em 1968.
Enquanto tiver vida, lucidez e forças, não deixarei de continuar apresentando o contraponto a visões dominantes dos quais divirjo, até porque a experiência histórica tem demonstrado que a unanimidade pode mesmo ser burra, como dizia o Nelson Rodrigues...
3 comentários:
parabens como sempre,muita lucides nas suas colocaçoes,sera que seria possivel explicar oque esta acontecendo?antes do desenrolar do 2°turno,sabiamos que se houvesse alguma mudança seria com quem sempre carregou a bandeira da mesma,entao houve a reeleiçao e nada mudou,oque conclui-se com isso tudo,ou os interesses internacionais na petrobras estao patrocinando toda a midia,inclusive propagandas do pmdb,ou esta td tao enlaçado,como um castelo de cartas,oque vc acha?
a esquerda brasileira sempre foi muita confusa,em certos momentos ate contraditoria,mas na minha opiniao muito importante nos processos de transformaçao,baseado no seu legado de 64 em diante,que varias vezes aqui no blog li voce citar a companheira wanda como companheira de luta,na sua oque pode ter ocorrido com toda essa vontade de transformaçao,e outra pergunta,alguns dias voce disse que a saida era pela esquerda,voce acha que ainda è possivel,e oque pode ocorrerem caso de impechiment?
Anônimos, durante o primeiro mandato da Dilma foi-se esgotando o modelo que vinha sendo adotado pelos governos do PT: o de garantir um pequeno avanço econômico para os mais pobres, sem prejuízo dos lucros exorbitantes do grande capital.
A conjuntura internacional mudou e o cobertor ficou muito curto para cobrir os dois extremos do corpo, além de bancar a gastança desenfreada do Estado.
O ajuste recessivo se impunha, na lógica neoliberal. E eu não tinha ilusões quanto à Dilma e ao PT, sabia que se vergariam às imposições do poder econômico.
Se a Marina Silva não tivesse sido estupidamente desconstruída pelo PT, poderia ter vencido e ficado com o mico de botar ordem na casa do ponto de vista capitalista, ou seja, adotando medidas impopulares.
A reeleição da Dilma a colocou diante de dois caminhos: ou tenta algo novo, na linha do Syriza, ou mantém a política econômica subserviente ao grande capital, o que, em 2015 e provavelmente também em 2016, implicará apertar o cinto dos explorados sem tocar nos privilégios dos exploradores.
Se não desistir da ortodoxia, ela perderá o apoio dos primeiros sem certeza nenhuma de que o grande capital respaldará sua permanência no poder. O mais provável é que favoreça o impeachment.
Se o PT voltar para os braços do povo, liderado pelo Lula, talvez ainda consiga segurar a onda. Mas, o partido ainda hesita quanto ao caminho a seguir.
Quanto mais vacilar, mais o governo de Dilma se desgastará. A progressão de sua impopularidade fará a balança pender para o outro lado, e aí a salvação vai se tornar impossível.
Ela é a presidenta errada no momento errado. Temo que não chegue sequer a 2016, e não por apreciar tal perspectiva.
Simplesmente, vejo o PT tão inflado por oportunistas e carreiristas, que dificilmente marcharia coeso para a esquerda. A tendência é que Dilma continue vacilando até o mais amargo fim, repetindo os erros de João Goulart.
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