quinta-feira, 21 de junho de 2012

O HOMEM QUE TODOS AMAM ODIAR: PAULO MALUF

Nunca antes neste país se viu um político detentor de enorme popularidade sofrer rejeição tão extremada e generalizada quanto a que o ex-presidente Luiz Inácio Lula experimentou ao serem divulgadas as fotos de sua alegre contraternização com Paulo Maluf.

É óbvio que tal reação foi principalmente a de um público bem informado, que se interessa pela política, acompanhando-a pela imprensa ou internet (nas quais aquelas imagens repercutiram da forma mais negativa possível). Até agora não se aferiu a impressão causada naqueles que veem Lula como o novo  pai dos pobres. Terão se indignado? Pelo menos sabem quem é Maluf?

E os bem pensantes, sabem?

Eu, que acompanho a carreira de Maluf desde os primórdios, sempre estranhei que estes últimos o erigissem no mais execrável de todos os execráveis políticos direitistas.

Em bateboca memorável num debate eleitoral de 1989, Leonel Brizola o qualificou várias vezes de "filhote da ditadura", o que não é toda a verdade.

Os  filhotes  paradigmáticos eram aqueles políticos inexpressivos e servis que  governaram São Paulo unicamente por terem o beneplácito dos ditadores, como Laudo Natel e Paulo Egydio Martins.

Maluf foi, isto sim, um sapo direitista que a ditadura ultradireitista engoliu. Com sorte e muita habilidade para cooptar e corromper delegados, três vezes conseguiu arrobar a festa.

Dona Flor e seus dois maridos
O governador Abreu Sodré escolheu Luiz Arroba Martins para ser nomeado prefeito de São Paulo, mas o dito cujo cometeu o deslize de, numa reunião no Palácio dos Bandeirantes, criticar o poder central. Imediatamente os militares o vetaram e Sodré foi obrigado a digerir a nomeação do pretendente alternativo, aquele presidente da Associação Comercial que Delfim Netto protegia. Assim Maluf se tornou prefeito (1969-1971).

Com seu estilo de  tocador de obras, fez muitas, tanto como prefeito quanto como secretário dos Transportes do Governo de Natel (1971-1975). E, claro, a corrupção correu solta --o que nunca foi novidade no Brasil. Vide seu antecessor mais célebre em SP, o interventor federal, prefeito e governador Adhemar de Barros, popularmente conhecido como o  rouba-mas-faz.

Agradeceria a Natel pelo trampolim disponibilizado para sua ascensão política... traindo-o e o derrotando de forma vexatória. Natel foi escolhido pelos militares para governar São Paulo pela terceira vez e pensou que os convencionais da Arena bateriam continência; não deu a mínima para eles.

Maluf visitou os 1.261, um por um e, com os argumentos sonantes  habituais, acabou seduzindo 617 e ganhando a convenção por diferença de 28 votos. Os fardados, estupefatos, cogitaram virar a mesa, mas acabaram se conformando.

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Cansaram de afastar arbitrariamente os políticos opositores e os que, mesmo estando ao seu lado no momento da quartelada, depois passaram a defender a redemocratização do País. Hesitaram, contudo, em dar o mesmo tratamento àquele que era o maior dos seus puxa-sacos; Maluf só os contrariava no tocante a suas ambições pessoais, beijando-lhes abjetamente os coturnos em todo o resto.

A pior faceta de Maluf, o motivo que o faz mais merecedor de repúdio (no meu entender) foi, como governador (1979-1982), ter dado carta branca para a tropa de choque da Polícia Militar, a Rota, barbarizar os bairros pobres, atuando com truculência desmedida e exterminando marginais com sanha comparável à do antigo Esquadrão da Morte. Depois, em cada uma das quatro tentativas frustradas de voltar ao Palácio dos Bandeirantes, repetiu o bordão: "Vou colocar a Rota na rua!".

Vale lembrar que, em Rota 66 - A polícia que mata, o repórter Caco Barcelos documentou 4.200 casos (totalizando cerca de 12 mil vítimas inocentes) de assassinatos cometidos pela Rota nas décadas de 1970 e 1980, tendo como alvos, quase sempre, jovens pobres, pardos e negros, muitas vezes sem antecedentes criminais. Os cidadãos honestos atingidos por engano seriam em maior número do que os verdadeiros criminosos - cuja condição, claro, não eximia os policiais do dever de entregá-los à Justiça, ao invés de simplesmente os abater como moscas.

VALORES DISTORCIDOS

Para lembrar outro filme: "Dormindo com o inimigo"...
Até hoje me indigna que Maluf haja se tornado um criminoso procurado pela Interpol em razão de crimes financeiros e não como patrono e incentivador de assassinos seriais, responsável último por uma infinidade de execuções maquiladas em  resistência à prisão. Isto dá uma boa idEia da escala desumana de valores do sistema capitalista...

Nos estertores da ditadura, Maluf repetiu a proeza de conquistar os convencionais do partido governista, convencendo-os a não endossarem a candidatura oficial de Mário Andreazza. Mas, uma parte deles preferiu debandar e constituir o PFL, garantindo sua permanência no poder como aliados do PMDB.

Foi o fim das chances presidenciais de Maluf, que chegou perto mas não levou... felizmente! Teve de contentar-se em ser mais uma vez prefeito de São Paulo (1993-1996), mas a tentativa de nova decolagem enguiçou quando o sucessor que elegeu, Celso Pitta, teve gestão escandalosa e acabou rejeitado, como   ruim  ou   péssimo, por 83% dos paulistanos.

Lula salvou Sarney de ser escorraçado. Pode?
E Maluf acabou sendo mais execrado ainda do que Fernando Collor, o outro populista de direita importante das últimas décadas. Merece sê-lo por seu absoluto desprezo pelos direitos humanos, principalmente dos pobres e excluídos. Mas, no restante, corrupção inclusa, os dois são farinha do mesmíssimo saco.

Quanto a Lula, considero tão infames seus salamaleques com Maluf como com outros três grandes vilãos da direita: Collor (o cafajeste que invadiu sua intimidade e tornou público um assunto constrangedor --a existência de uma filha que ocultava-- para usá-lo como munição eleitoral), Sarney (vaquinha de presépio dos milicos que deu um jeito de continuar emporcalhando a cena política depois de 1985) e ACM (o coronelão nordestino que mais poder acumulou durante a ditadura).

Sei lá por que foi desta vez que o copo transbordou. Mas, a intuição do Lula parece ter evaporado, pois a consequência daquelas fotos era mais do que previsível.

4 comentários:

Anônimo disse...

Foi realmente lamentável o erro político do PT, que ultrapassou todos os limites de um pragmatismo e caiu no absurdo ridículo de prescindir de uma Erundina,numa campanha dificílima,para ganhar um minuto e quarenta no tempo para campanha na televisão.
Há, no entanto uma informação inexata no seu texto. O Collor não acusou o Lula de adultério,já que não se tratava de adultério. Lula era viúvo quando se tornou pai de sua filha mais velha.Portanto,a informação no seu texto é equivocada.
Mariana

celsolungaretti disse...

Valeu, Mariana! Confesso que a jogada do Collor me enojou a tal ponto que nem prestei muita atenção nos detalhes.

Detestei ver uma questão íntima exposta com tal crueza. Se fosse comigo, não perdoaria jamais o Collor. E talvez fosse até tirar satisfações pessoais.

Já corrigi.

Eduardo Albuquerque disse...

Que deixemos de cometer o erro de jamais governar Sao Paulo, desse conforto infernal....

Anônimo disse...

Como pode um pilantra, ladrão assumido, procurado pela Policia Interpol e esse maldito nunca vai preso!!! Ele zumba ri da nossa cara e só nos resta ficar olhando a injustiça neste pais maravilhoso mais judiado por vários parlamentares ladrões que só pensam em se dar bem ganhando aqui e ali e matando os contribuintes nas filas dos Hospitais, dos Inss's da vida e vários outros segmentos municipais, estaduais e federais que não funcionam. É revoltante ter que ver o comercial de televisão com esse nojento, ladrão fazendo campanha para o Partido Progressista, onde esses caras estão com a cabeça em convidar esse verme para ainda estar em nossa politica!!!!

É revoltante!!!!!

Henrique Toledo.

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