Respondendo a uma mensagem do companheiro bolivariano Jacob Blinder, suscitada pelo meu artigo Torturadores aliviados: nem mesmo ações civis os ameaçam, acabei travando com ele um debate civilizado como costumavam ser os do nosso campo no passado.
Depois, percebi que seria bastante esclarecedor para os leitores deste blogue, pois evidencia e justifica as duas posturas que a esquerda pode adotar em relação à Comissão Nacional da Verdade.
Depois, percebi que seria bastante esclarecedor para os leitores deste blogue, pois evidencia e justifica as duas posturas que a esquerda pode adotar em relação à Comissão Nacional da Verdade.
Daí ter resolvido transcrevê-lo na íntegra, para que cada um tire suas conclusões:
Caro Lungaretti,
Enquanto no Brasil os torturadores do regime militar continuam impunes e os militantes de esquerda (?) brigam entre si para saber quem foi mais contemporizador ou menos contemporizador com uma conjuntura favorável à impunidade - na Argentina os militares torturadores estão sendo presos, julgados e condenados a duras penas, mesmo sendo eles atualmente pessoas da terceira idade.
E na Argentina não tem governo revolucionário como na Venezuela, ou seja, é um governo tão burguês quanto o brasileiro e seus militares mais graduados (todos) foram preparados ideologicamente pela Escola das Américas (tal como no Brasil).
Então afinal o que acontece no Brasil? E por que as massas estão omissas nesse tema? O artigo abaixo transcrito (ver íntegra aqui) mostra um pouco de como a Argentina está punindo seus torturadores atuantes durante o nefasto período do regime militar.
Jacob,
não sei a que vc se refere quanto a contemporizações. Em agosto de 2008 eu cantei a bola de que só nos restava lutar por algo como a Comissão da verdade e estava certo. Muitos venderam miragens e elas desmancharam no ar.
Uma coisa eu aprendi ao longo da minha militância: derrotas não constroem nada, só abatem nosso moral.
Então, luto até o fim quando há uma pequena chance de vitória (como no Caso Battisti), mas não ajudo a impingir ilusões como a de que seria possível engaiolar os torturadores depois que o Governo Lula amarelou diante dos verde-olivas.
Lungaretti,
Eu citei o exemplo da Argentina - pois lá o os militares estão passando por mudanças ideológicas na doutrinação e hoje tais forças renegam o passado e estão avançando para outra linha ideológica, respeitando o governo civil de CFK e do kirschenismo que são ramos esquerdistas do peronismo.
Aqui no Brasil os militares continuam com a visão do regime de 64 e desprezam o governo civil de Dilma Rousseff. Seja com que forma for aplicada a justiça para os torturadores; se Dilma não tiver a coragem de enfrentá-los - tal como está fazendo Cristina - então nada mudará e onde as Comissões da Verdade farão apenas relatórios de perfumaria, para enganar os trouxas.
Jacob,
vocês sempre esquecem três palavrinhas: correlação de forças.
Não temos força política para impor nada melhor do que a Comissão da Verdade. Por quê? Porque já não temos o respaldo popular que tínhamos na saída da ditadura.
A pergunta óbvia é: como deixamos escapar entre os dedos aquele imenso capital político que havíamos acumulado? Obviamente, sua resposta será diferente da minha.
O certo é que perdemos EM 2008 a batalha da punição dos torturadores, pois ao recuo inicial do Ministério do Lula seguiram-se tantos outros que já não há como revertermos o quadro. Consolidou-se.
Quer saber por quê? Porque a esquerda foi na onda do Tarso Genro e do Vannuchi que, derrotados dentro do Governo, aconselharam que a batalha fosse transferida para a esfera do Judiciário.
Desde o primeiro momento eu afirmei que só desataríamos esse nó revogando a anistia de 1979. Os acontecimentos posteriores comprovaram que eu estava certo. Era esta luta frontal que teríamos de haver travado, não a guerrilha de ações judiciais que acabou sendo um atalho para lugar nenhum: o STF impugnou as criminais e o TFR começa a fazer o mesmo com as civis.
Fatos consumados, agora só podemos conseguir que a posição oficial do Estado brasileiro reflita o que realmente aconteceu. É um referencial para situações futuras, um legado para os pósteros e um compromisso que eu (pelo menos) assumo com a memória dos companheiros tombados.
Para mim, voltar as costas a essa possibilidade, não respaldando a Comissão com nosso apoio crítico, não passa de liquidacionismo.
Já não bastam as sucessivas derrotas que sofremos até agora, em todas as frentes desta luta?!
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