quinta-feira, 4 de junho de 2009

3º MANDATO: PINGOS NOS II

Charge do Cleuber (clique para ampliar)
http://www.tracodeguerrilha.blogspot.com/

Já que houve críticas, veladas ou explícitas, ao meu artigo Lula descarta o 3º mandato, mas atrapalha-se ao defender Chávez e Uribe, creio ser oportuno reproduzir aqui uma explicação que dei a um grupo de discussão virtual:
Quanto à reeleição de Hugo Chávez, considero um assunto que diz respeito aos venezuelanos.

Sou absolutamente contrário a um 3º mandato consecutivo de Lula porque, NO BRASIL, isto poderá ser a senha para um novo golpe de direita.

Quando os reacionários viram que Getúlio Vargas continuaria governando indefinidamente, seja elegendo a si próprio, seja colocando no poder quem quer que apadrinhasse (como Dutra), apostaram todas as suas fichas em sua derrubada e a teriam concretizado, caso Vargas não virasse o jogo ao preço de seu suicídio.

Em 1964, temerosos de que Leonel Brizola sucedesse João Goulart, trataram de virar a mesa antes da eleição marcada para o ano seguinte.

Aqui já tentaram iniciar a arregimentação da classe média para o golpe com o Cansei, repetindo o mesmíssimo figurino de 1964: seria a nova Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.

Mas, tínhamos a legalidade ao nosso lado: Lula conquistara seu 2º mandato nas urnas. Então, conseguimos esmagar o ovo da serpente e os direitistas passaram a mirar 2010.

Um 3º mandato consecutivo de Lula, com a mudança das regras do jogo na última hora, é tudo de que a direita precisa para convencer seus patronos estrangeiros e a classe média brasileira de que a democracia está em perigo.

E, assim como em 1964 ela corrigiu os erros de 1961, aproveitando bem as lições do fracasso anterior, temos de levar em conta a possibilidade de que a próxima investida seja bem mais profissional do que o Cansei.

Vale lembrarmos, também, que a derrubada de João Goulart foi o ponto-de-partida para o retrocesso em vários outros países da América Latina. O mau exemplo logo se propagou, com quarteladas em cascata.

Então, temos uma responsabilidade não só com o povo brasileiro, mas também com os pueblos hermanos: não podemos deixar que comece por aqui uma nova escalada golpista.

A melhor contribuição que podemos dar às forças progressistas do nosso continente será impedirmos qualquer recaída totalitária no Brasil.

Nada indica que a candidatura avalizada por Lula, seja a de Dilma Rousseff ou qualquer outra, esteja previamente derrotada. Então, não há motivo nenhum para sermos nós a virarmos a mesa (com uma mudança casuística e fora de hora da legislação eleitoral), o que daria um enorme trunfo propagandístico ao inimigo.

Daí a minha insistência em combater essa proposta, que o próprio Lula já rechaçou um sem-número de vezes.

Quanto à defesa atrapalhada que Lula fez das pretensões de Chávez e Uribe a uma nova reeleição, eu a registrei por se tratar de um fato jornalístico. Meu circuito é amplo e muitas pessoas me lêem apenas para encontrarem descrições mais perspicazes dos acontecimentos. [Curiosamente, um dia depois, Clovis Rossi repetiu várias de minhas considerações em sua coluna Brincadeira Besta, atestando que era mesmo o que poderia filtrar a sensibilidade de comentaristas veteranos - vide http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0406200903.htm ).

No entanto, deixei claro que Lula não deveria é ter misturado alhos com bugalhos. Errou ao querer compatibilizar a posição que ele está adotando aqui com as posturas que Chávez e Uribe adotaram na Venezuela e Colômbia. E, no final, acabou desistindo e batendo em retirada.

É o que deveria ter feito desde o começo, pronunciar-se sobre o Brasil e não meter o bedelho nas decisões de outros países.

Importante mesmo era darmos o máximo de quilometragem à constatação de que a Folha de S. Paulo, mais uma vez, botara os pés pelas mãos, com suas tentativas dominicais de fabricar fatos políticos -- as quais, além de inoportunas (neste caso) ou nocivas (caso da reportagem sobre o sequestro que não houve e que foi ilustrada por uma ficha falsa da Dilma Rousseff), acabam gerando apenas factóides.

E cravarmos de vez uma estaca no coração desse vampiro político que é o 3º mandato de Lula.

2 comentários:

Anônimo disse...

Discordo de vc.

Os tempos sao outros, o Brasil e o mundo nao aceitam mais golpes militares assim, tao facilmente, menos ainda por se tratar do Brasil.

Sou Lula plano A.
Sou Dilma, plano B.
Sou Lula vice, plano C.

Inté
Murilo

celsolungaretti disse...

Murilo,

também pensávamos que torturas fossem uma página virada da História, algo do tempo do Torquemada.

A melhor forma de evitarmos retrocessos é estarmos sempre atentos à possibilidade de eles acontecerem. Não acharmos que são impossíveis.

Abraços!

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