sábado, 14 de julho de 2018

AINDA SOBRE O PANDEMÔNIO JUDICIAL DO ÚLTIMO DOMINGO

Eu já dava por encerrado o assunto da destrambelhada tramoia para libertarem o Lula, mas este artigo do companheiro Rui Martins me fez perceber que existia ainda algo a acrescentar.

Principalmente por causa do seguinte trecho:
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"...A ideia era a de incendiar o circo no domingo.

Assim que o desembargador plantonista Rogério Favreto assinou o habeas-corpus em favor de Lula, todos os petistas cadastrados receberam um pdf ou uma foto do documento. Não me perguntem quem fotografou ou transformou em PDF o documento e enviou ao plantão petista. 
O objetivo final: bisar estas cenas de abril.

Gleisi Hoffmann, imediatamente, (...) começou a convocar o povo para ir às ruas receber o Lula. 

Alguns blogueiros mais excitados, imaginando a libertação imediata do líder, iam cronometrando a libertação – neste momento, Lula foi liberado pelos guardas, está na porta do presídio... Lula já está no carro que o leva a São Bernardo do Campo... e assim por diante.

Já pensaram na confusão armada se Favreto houvesse realmente posto o Lula na rua e o líder tivesse ido para São Bernardo, onde Gleisi mandava o povo acolhê-lo? Quem iria lá buscá-lo para levar de volta a Curitiba, assim que o habeas-corpus fosse revertido? Estaria criado o caos..."
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Ou seja, de um lado os deputados-advogados (veja aqui), com uma ingenuidade espantosa, admitiram às repórteres da Folha de S. Paulo que deliberadamente esperaram o plantão de Rogério Favreto no TRF-4 para obter dele uma decisão que contrariaria o entendimento quase unânime daquela corte; do outro, constata-se que foi previamente montado um amplo esquema para capitalizar ao máximo a libertação.
Os três deputados-advogados: ingenuidade espantosa!

Eu nada teria a objetar caso o Brasil estivesse realmente sob uma ditadura e Lula fosse realmente um preso político. 

Mas, quem ainda prefere utilizar seus miolos do que seguir docilmente o rebanho dos manipulados sabe muito bem que são apenas duas falsidades de cunho propagandístico.

Lula mesmo revelou que, poucas semanas antes de ser preso, esteve diante de uma avenida na divisa com o Uruguai. Não havia nada nem ninguém que o impedisse de atravessar para o outro lado. Os acompanhantes recomendaram que o fizesse, tornando-se um exilado político. Ele preferiu continuar em território brasileiro. 

E todos sabemos para que se queria libertar Lula: "para outra cena de resistência e showmício, como em São Bernardo quando da sua prisão", como sintetizou o companheiro Antuérpio Pettersen Filho, do Jornal Grito Cidadão.

Já os prisioneiros políticos de verdade nas ditaduras de verdade, se logram escapar das garras da repressão, ou se refugiam em qualquer embaixada ou consulado, ou caem na clandestinidade para continuar lutando contra a tirania. É bem diferente.
Ué, ele não é Jesus Cristo?!

Mas, o que há de tão ruim em o PT utilizar essas molecagens para manter seu principal chamariz de votos presente no noticiário e capaz de influir na próxima eleição?

Apenas que a avacalhação da Justiça leva água para o moinho tanto dos que tentam impor-nos uma nova ditadura militar, quanto dos que querem eleger um presidenciável de extrema-direita, admirador confesso do torturador-símbolo da repressão de outrora.

Quem subestima o segundo perigo deveria informar-se sobre os acontecimentos de 1964. Havia um dispositivo golpista que vinha sendo montado há anos e já falhara numa tentativa anterior, em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros.

Para não fracassar de novo, foi fundamental a infiltração de provocadores (como o cabo Anselmo) nos movimentos de subalternos das Forças Armadas, no sentido de radicalizá-los e estimular os desacatos à oficialidade. Quando o presidente João Goulart tomou a defesa dos cabos e sargentos contra seus superiores hierárquicos, os comandantes militares desceram do muro, passando a apoiar o golpe.
Ontem os infiltrados, hoje os disparatados

Que efeito teria uma libertação do Lula de forma tão humilhante para o Judiciário, seguida do showmício a que se referiu o Pettersen Filho?  

Vale a pena corrermos tamanho risco só para o PT ter melhor performance eleitoral?

A saída de Lula da prisão em regime fechado depende unicamente dele: há um sem-número de sinais de bastidores de que ele só não obtém a prisão domiciliar porque recusa tal possibilidade. 

É algo que o inimigo se mostra disposto a conceder-lhe depois da eleição, seja incluindo-o no indulto natalino, seja por decisão do STJ ou do STF.

O que o PT não pode é continuar colocando seus interesses partidários à frente do imperativo de impedirmos um terrível retrocesso político, que, como em 1964, poderá inclusive dar início a uma nova temporada de golpes fascistas no nosso continente.

Encerro com outro trecho do inspirado artigo do Rui:
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"É bom lembrar que não existe um monopólio da esquerda por parte desses intelectuais que, ainda ontem, justificavam governos de submissão econômica e aliança com banqueiros, empresários e pecuaristas do agrotóxico.
"Não existe um monopólio da esquerda"

Governos exportadores de matéria prima sem se preocupar em criar infraestruturas, coniventes com desmatadores das nossas florestas, defensores das sementes geneticamente modificadas da Monsanto, fazendo vista grossa aos assassinatos de índios e negros. 

Sem se esquecer que antes de Temer, já aplicavam a partilha do petróleo..."

Um comentário:

Unknown disse...

Você é bom e arguto.
Sabe que o caos já chegou e o Tirano virá, inexoravelmente.
Ao fim e ao cabo, resultará em avanços para o país.

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