terça-feira, 8 de maio de 2018

SOBRE A MORAL REVOLUCIONÁRIA E O IMPERATIVO DE SERMOS VISTOS COMO ALTERNATIVA À PODRIDÃO BURGUESA – 2

(continuação deste post)
"O MEIO NÃO PODE SER JUSTIFICADO SENÃO PELO FIM. 
MAS TAMBÉM O FIM PRECISA DE JUSTIFICAÇÃO"
Por Leon Trotsky
A ordem dos jesuítas, fundada na primeira metade do século 16 para combater o protestantismo, nunca ensinou que qualquer meio, mesmo o mais delituoso, de acordo com a moral católica, seja admissível, contanto que leve ao fim, isto é, ao triunfo do catolicismo. 

Esta doutrina contraditória e psicologicamente inconcebível foi malignamente atribuída aos jesuítas pelos seus adversários protestantes – e, às vezes, católicos –, os quais, por sua vez, pouco se preocupavam com escrúpulos na escolha dos meios para atingir seus próprios fins. 

Os teólogos jesuítas – preocupados, como os de outras escolas, com o problema do livre arbítrio – ensinavam na realidade que o meio, considerado em si mesmo, pode ser insignificante, mas que a sua justificação ou condenação moral depende do que se procura alcançar. 

Assim, um tiro de arma de fogo é, em si, um fato sem importância; já disparado sobre um cão raivoso que tenta morder uma criança é um ato louvável; e disparado para matar ou praticar violência é um crime....
Aristóteles, Kant e John Stuart Mill

O meio não pode ser justificado senão pelo fim. Mas também o fim precisa de justificação. Do ponto de vista do marxismo, que exprime os interesses históricos do proletariado, o fim está justificado se levar ao reforço do poder do homem sobre a natureza e à supressão do poder do homem sobre o homem. 

Isto significa então que, para atingir este fim, tudo é permitido? – perguntará sarcasticamente o filisteu, demonstrando que não entendeu nada. 

É permitido, responderemos, tudo aquilo que leve realmente à libertação dos homens. Já que este fim não pode ser atingido senão por via revolucionária, a moral emancipadora do proletariado tem necessariamente um caráter revolucionário. 

Como aos dogmas da religião, esta moral se opõe a todos os fetiches do idealismo, gendarmes filosóficos da classe dominante. Ela deduz as normas de conduta das leis do desenvolvimento social, isto é, antes de tudo, da luta de classes, que é a lei das leis.

O moralista ainda insiste: Isto significa então que, na luta de classes contra o capitalismo, são permissíveis todos os meios? A mentira, a falsificação, a traição, o assassínio, etc.?

Respondemos: são admissíveis e obrigatórios apenas os meios que aumentam a coesão do proletariado, inflamam sua consciência com um ódio inextinguível a toda forma de opressão, ensinam-lhe a desprezar a moral oficial e seus arautos democráticos, dão-lhe plena consciência de sua missão histórica e aumentam sua coragem e sua abnegação. Donde se conclui, afinal, que nem todos os meios são válidos.

Quando dizemos que o fim justifica os meios, disto deriva para nós que o grande fim revolucionário repudia os procedimentos e os meios indignos que lançam uma parte da classe operária contra outra; ou que tentam fazer a felicidade das massas sem a sua organização, substituindo-as pela adoração dos chefes

Acima de qualquer outra coisa, a moral revolucionária condena irredutivelmente o servilismo para com a burguesia e o desprezo para com os trabalhadores, que é uma das características mais arraigadas na mentalidade dos pedantes e dos moralistas pequeno-burgueses.

Estes critérios, é obvio, não definem o que é consentido ou não em cada situação determinada. Não existem respostas automáticas deste tipo. As questões da moral revolucionária confundem-se com as questões da estratégia e tática revolucionárias. Somente a experiência viva do movimento, iluminada pela teoria, pode dar a resposta certa a tais problemas.

O materialismo dialético não separa os fins dos meios. O fim é deduzido de maneira natural do dever histórico. Os meios estão organicamente subordinados ao fim. O fim imediato transforma-se no meio do fim ulterior. 

Ferdinand Lassalle, em seu drama Franz von Sickingen, faz um de seus personagens dizer:

Lassale
"Não indiques apenas o fim,
mas mostra também o caminho
porque o fim e o caminho
tão unidos estão
que um muda com o outro
e com ele se move
– e cada novo caminho
revela um novo fim"

Obs.: trechos selecionados do panfleto A moral deles e a nossa, escrito por Trotsky em 1938 e que foi lançado no brasil também com o título alternativo de Moral e revolução.

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