quarta-feira, 9 de maio de 2018

OS ABUTRES ANINHADOS NA ESQUERDA E O CALVÁRIO DOS SEM-TETO

Por Celso Lungaretti
Os posts (1 e 2) recém-publicados sobre moral revolucionária acabam de ganhar um complemento inesperado: notícia da Folha de S. Paulo desta 4ª feira (9), de autoria do mestre em Filosofia, escritor e jornalista Leandro Narloch, revela quão baixo podem descer os integrantes de um partido dito de esquerda quando voltam as costas aos valores éticos que sempre respeitamos.

Revirou-me o estômago tomar conhecimento de como atuam os aproveitadores do desespero dos pobres e dos marginalizados, abutres que acharcam e oprimem alguns dos coitadezas mais sofridos de uma sociedade assentada sobre gritante desigualdade econômica.

É com enorme desalento que reproduzo abaixo tal notícia. Depois de meio século travando o bom combate, vejo o povo brasileiro descrente de tudo e a esquerda incapaz de apontar-lhe uma saída.

E a pergunta que não quer calar é: o que mais precisamos ficar sabendo sobre o PT para nos darmos conta de que, ou a esquerda rompe com suas práticas espúrias e se reconstrói sem ele ou se desqualificará como representante dos explorados, humilhados e ofendidos, passando a ser apenas mais um naco podre de uma carcaça política podre. 

A estrela se apagou, mas precisamos acreditar que ainda seja possível darmos um fim à exploração do homem pelo homem, antes que a ganância capitalista nos conduza à barbárie ou ao extermínio da espécie humana. 

Voltarmos a nos guiar pela moral revolucionária é fundamental para resgatarmos a nossa credibilidade, primeiro passo para sairmos do fundo do poço em que ora nos encontramos.
Por Leandro Narloch
PELO WHATSAPP, ASSESSORA DO PT COBRA ALUGUEL DE SEM-TETO E AMEAÇA DESPEJO

“Quem está aberto em abril, eu aconselho vir urgente acertar. Quem não vier, à noite estarei na porta. Nem se for 2h da manhã eu vou bater para cobrar.”

“Senhores porteiros da rua Marconi: a Conceição, do 4º andar, o prazo dela acaba no domingo. A partir de segunda ela não entra mais no prédio, só se for para retirar as coisas.”

As frases acima estão no grupo de WhatsApp de moradores e coordenadores do Movimento Moradia Para Todos (MMPT). A autora dos áudios é Ednalva Franco, líder do movimento que controla quatro prédios —na Bela Vista, na Mooca e no Centro (rua Marconi e Capitão Salomão).
Moradia para todos que aceitam ser tratados a pontapés

Filiada ao PT desde 1990, Ednalva Franco é assessora da deputada estadual Marcia Lia (PT-SP) e conhecida ativista sem-teto de São Paulo. É Ednalva que aparece num episódio de 2013 do Profissão Repórter saindo com uma SUV nova da garagem de um prédio da Praça da República.  

“Porteiros, eu vou passar todos os nomes das pessoas que o prazo acaba até domingo. Inclusive a Luciana, do 309”, diz ela em outra mensagem do grupo. “Vou passar toda a lista pra vocês na portaria assim que eu terminar.”   

Depois que escrevi sobre o modelo de negócio dos líderes de movimentos sem-teto, na semana passada, ex-moradores me procuraram denunciando abusos, ameaças e a cobrança de aluguel de R$ 200 a R$ 500 por parte dos coordenadores.

“Além do aluguel, a coordenadora sempre inventa uma taxa nova para o pessoal pagar”, me disse um ex-morador do edifício São Manuel, na rua Marconi, que não se identifica por temer represálias. Ele calcula que os alugueis só desse edifício rendem pelo menos R$ 35 mil por mês ao movimento.
Quatro anos e meio depois desta reportagem do Profissão Repórter,
Ednalva Franco continua na ativa, dando péssima imagem ao MMPT

Conta ainda que era obrigado a participar de atos em defesa do ex-presidente Lula. “Quando tinha um ato, eu colocava a camiseta do movimento e ficava perto dela [Ednalva]. Fazia questão que ela me visse várias vezes, para eu marcar presença. Depois trocava a camiseta e ia embora.”

Conversei com Ednalva Franco sobre as denúncias. Ela admitiu a autoria das mensagens e afirma que cobra uma taxa de no máximo R$ 200 por morador. Alega que o dinheiro serve para custear o escritório e a creche do movimento, além do salário de porteiros, a manutenção dos elevadores, extintores e outras despesas. Negou expulsar moradores por falta de pagamento, apesar do conteúdo evidente dos áudios.
“Se o morador não tiver dinheiro para pagar a contribuição, nós chamamos para conversar e parcelamos até ele arranjar um emprego”, diz.

O ex-morador contesta. “Ela e o marido costumavam gritar de madrugada com quem estava devendo. A creche não funciona há muito tempo. E, na Marconi, o elevador quebrava toda hora e ficava meses sem conserto.”

Sobre a exigência de participação em protestos, Ednalva afirma que “cada movimento social tem suas regras. Apresentamos nossa rotina quando a pessoa ingressa no movimento. A partir de então, se quiser continuar, precisa seguir as regras do grupo”.

Invadido em 2012, o edifício São Manuel é considerado uma ocupação-modelo dos sem-teto. Recebe oficinas culturais, reuniões políticas e já abrigou um escritório coletivo de doutorandos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

O ex-morador, porém, reclama da falta de liberdade (o portão fecha à 0h; depois desse horário só é possível entrar ou sair do prédio às 6h) e da quantidade dos eventos de conscientização política. “Nenhum morador aguenta mais tanta reunião”, diz.

3 comentários:

SF disse...

***
Tenho dificuldade em acreditar que você não soubesse como agem os chefes desses movimentos sociais.

***
Ha! A conduta moral é anti-natura e impõe volição para ser seguida, a saber: a bendita "boa vontade" de Kant.
Portanto, condicioná-la a um fim ou recompensa já a faz cair no Imperativo Hipotético do mesmo Kant.

Obviamente, a prática da virtude traz benefícios além da imaginação a todos, mas esse não deve ser o objetivo da vida virtuosa.

celsolungaretti disse...

Tinha uma visão de que a coisa fosse deturpada, mas não tanto assim. Aquelas mensagens são estarrecedoras. Inclusive, constituem prova de delito.

Valmir disse...

como disseram no fim da URSS..o socialismo é o caminho mais curto para o capitalismo...o pior capitalismo, o da mafia.

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