segunda-feira, 3 de julho de 2017

"ORDEM E PROGRESSO"? UM LEMA MAIS APROPRIADO PARA O BRASIL SERIA "DEIXA COMO ESTÁ PRA VER COMO É QUE FICA"...

Toque do Lungaretti
Segundo o Dicionário de Comunicação do Carlos Alberto Rabaça, tijolo, tijolaço ou catatau é um "bloco de texto em composição compacta e pesada, sem claros nem ilustrações". Sempre os detestei, porque torna difícil a leitura; você vai atender o telefone ou fazer xixi e, ao retomar, tem uma dificuldade danada para encontrar o trecho no qual parou.

Certa vez cai na besteira de acreditar numa crítica de jornal elogiosa e comprei um livro do espanhol Juan Goytisolo (que o sebo o tenha!). Era um parágrafo gigantesco, não me lembro se pelo menos dividido em capítulos ou nem isto. O certo é que lá pela décima página já estava bocejando... 

E, embora nos meus primeiros tempos de jornalismo gostasse de testar fórmulas de autores da minha predileção (como os relatos de Norman Mailer em que ele se coloca também como personagem do acontecimento enfocado, fosse uma manifestação contra a guerra do Vietnã ou a luta do século entre Ali e Foreman), jamais tive curiosidade de ver como me sairia num tijolaço.

Tanto tempo se passou, minha trajetória como jornalista profissional terminou e eis que, nesta 2ª feira (3), tive paciência para ler até o fim o tijolaço do Gregorio Duvivier publicado na Folha de S. Paulo, Esse país que detesta mudança muito brusca. E não é que gostei?! 
Duvivier: sem mudança brusca.

Evidentemente, o assunto ajuda, pois vem ao encontro de uma constatação que é minha também, sobre a índole resignada e submissa dos brasileiros, que me faz morrer de inveja dos pueblos hermanos de nuestra America, bem mais rebeldes do que nós (vide, p. ex., este artigo que nem me lembro mais de quando escrevi, tendo-o várias vezes republicado nos feriados de 21 de abril). 

O certo é que, para minha surpresa, constatei que a arquitetura do texto do Duvivier não atrapalhou, foi até coerente com o conteúdo. Vivendo e aprendendo. 

Mas, fica a ressalva: o que é aceitável numa crônica não o é necessariamente num livro. Ou seja, não darei uma segunda chance ao Goytisolo.

Leiam e avaliem.
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Aécio não foi preso porque essa coisa de começar a prender senador seria uma mudança muito brusca, e Temer não deve cair pela mesma razão, e provavelmente não vamos ter eleições diretas, porque seria uma mudança brusca, e no Brasil não costuma acontecer nenhuma mudança brusca, mas se por acaso o Temer cair, o governo já prometeu que vai assumir alguém igual ao Temer, vai ser uma espécie de governo Temer sem Temer, porque o Brasil não gosta muito de mudança brusca, e o próprio Temer não foi uma mudança tão brusca porque o Temer já era vice da Dilma, sim, Temer foi o primeiro vice da história a tramar um impeachment que empossou ele mesmo, sim, eu sei que é estranho, é um pouco como você receber a herança de um parente que você matou, mas, desde então, Temer tem conseguido ser mais impopular que Dilma, que já era bem impopular, e pra explicar como ela foi eleita tem que voltar mais um pouco, porque as pessoas queriam que o governo Lula continuasse igualzinho, e não tivesse nenhuma mudança brusca, e Lula já não podia continuar porque já tava lá há oito anos, e só foi eleito na época porque tinha prometido que não ia ter nenhuma mudança brusca em relação ao governo Fernando Henrique, que já não podia ser reeleito porque já tava lá há oito anos, e só foi eleito porque tinha sido ministro no governo anterior, do Itamar,  que  ninguém  gostava  muito,  mas  o 
outro candidato era o Lula, e aquilo seria uma mudança brusca, e Itamar só assumiu porque era vice do Collor, que as pessoas só elegeram porque tinham medo que o Lula fizesse alguma mudança brusca, e mesmo que elas odiassem o Sarney ninguém queria uma mudança muito brusca, e antes do Sarney a ditadura só tinha acabado porque todo o mundo se comprometeu a não prender nenhum general e nenhum torturador, não, nenhum torturador foi preso no Brasil, e eram muitos, mas prender torturador seria uma mudança muito brusca, e todo o mundo queria o fim da ditadura, mas ninguém queria uma mudança brusca, mesmo que tudo estivesse uma bosta, e o golpe de 64 só aconteceu porque o Jango tava ameaçando fazer uma mudança brusca, quer dizer, na verdade nem chegou a ameaçar, mas o pessoal sentiu cheiro de mudança brusca, e tudo foi uma grande continuidade, e já não sei se alguma vez na nossa história houve uma mudança brusca, se você for ver os últimos 500 anos do Brasil foram um grande medo de mudança brusca, ou seja, por aqui, pode ter certeza de que nada de realmente novo vai acontecer por um bom tempo, tem muita gente trabalhando intensamente pra isso, por aqui mudam-se os tempos, mudam-se as vontades —mas, como diz o poeta, devagar, devagar, devagarinho. 

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