Toque do Lungaretti |
Certa vez cai na besteira de acreditar numa crítica de jornal elogiosa e comprei um livro do espanhol Juan Goytisolo (que o sebo o tenha!). Era um parágrafo gigantesco, não me lembro se pelo menos dividido em capítulos ou nem isto. O certo é que lá pela décima página já estava bocejando...
E, embora nos meus primeiros tempos de jornalismo gostasse de testar fórmulas de autores da minha predileção (como os relatos de Norman Mailer em que ele se coloca também como personagem do acontecimento enfocado, fosse uma manifestação contra a guerra do Vietnã ou a luta do século entre Ali e Foreman), jamais tive curiosidade de ver como me sairia num tijolaço.
Tanto tempo se passou, minha trajetória como jornalista profissional terminou e eis que, nesta 2ª feira (3), tive paciência para ler até o fim o tijolaço do Gregorio Duvivier publicado na Folha de S. Paulo, Esse país que detesta mudança muito brusca. E não é que gostei?!
Tanto tempo se passou, minha trajetória como jornalista profissional terminou e eis que, nesta 2ª feira (3), tive paciência para ler até o fim o tijolaço do Gregorio Duvivier publicado na Folha de S. Paulo, Esse país que detesta mudança muito brusca. E não é que gostei?!
Evidentemente, o assunto ajuda, pois vem ao encontro de uma constatação que é minha também, sobre a índole resignada e submissa dos brasileiros, que me faz morrer de inveja dos pueblos hermanos de nuestra America, bem mais rebeldes do que nós (vide, p. ex., este artigo que nem me lembro mais de quando escrevi, tendo-o várias vezes republicado nos feriados de 21 de abril).
O certo é que, para minha surpresa, constatei que a arquitetura do texto do Duvivier não atrapalhou, foi até coerente com o conteúdo. Vivendo e aprendendo.
Mas, fica a ressalva: o que é aceitável numa crônica não o é necessariamente num livro. Ou seja, não darei uma segunda chance ao Goytisolo.
Leiam e avaliem.
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outro candidato era o Lula, e aquilo seria uma mudança brusca, e Itamar só assumiu porque era vice do Collor, que as pessoas só elegeram porque tinham medo que o Lula fizesse alguma mudança brusca, e mesmo que elas odiassem o Sarney ninguém queria uma mudança muito brusca, e antes do Sarney a ditadura só tinha acabado porque todo o mundo se comprometeu a não prender nenhum general e nenhum torturador, não, nenhum torturador foi preso no Brasil, e eram muitos, mas prender torturador seria uma mudança muito brusca, e todo o mundo queria o fim da ditadura, mas ninguém queria uma mudança brusca, mesmo que tudo estivesse uma bosta, e o golpe de 64 só aconteceu porque o Jango tava ameaçando fazer uma mudança brusca, quer dizer, na verdade nem chegou a ameaçar, mas o pessoal sentiu cheiro de mudança brusca, e tudo foi uma grande continuidade, e já não sei se alguma vez na nossa história houve uma mudança brusca, se você for ver os últimos 500 anos do Brasil foram um grande medo de mudança brusca, ou seja, por aqui, pode ter certeza de que nada de realmente novo vai acontecer por um bom tempo, tem muita gente trabalhando intensamente pra isso, por aqui mudam-se os tempos, mudam-se as vontades —mas, como diz o poeta, devagar, devagar, devagarinho.
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