Não compartilho as apreensões do filósofo Vladimir Safatle, que, num interessante artigo sobre o negacionismo (vide aqui), alerta para "a repetição à qual as sociedades estão submetidas quando são incapazes de elaborar seu passado". Ele está certíssimo em vituperar as falácias na linha da ditabranda, mas exagera os riscos atuais.
Para mim, o anunciada bis da Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade será apenas a reprise da tragédia como farsa.
Aquele desfilar de bobalhões engravatados e peruas pernósticas, tangidos pela carolice e pelo alarmismo que o esquema golpista fomentou, não teve real importância na derrubada do governo legítimo de João Goulart. Foi apenas um argumento propagandístico que os conspiradores produziram para utilizar depois contra os que denunciariam a quartelada como quartelada. Armaram um teatrinho de fantoches para fingir que os civis apitaram alguma coisa no desfecho de uma conspiração que fermentava há muito na caserna.
As cansadinhas de 1964... |
A primeira tentativa mais ambiciosa, quando da renúncia de Jânio Quadros, fracassara porque o poder econômico ainda não se dispunha a uma virada de mesa e os Estados Unidos, sob John Kennedy, idem.
A segunda tentativa redundou porque burguesia e latifundiários finalmente deram sinal verde para o golpe e, mais importante, porque os EUA tinham a anta Lyndon Johnson como presidente.
O sofisticado Kennedy fora capaz de antever quão desastrosa seria a invasão de Cuba por mercenários arregimentados pelos ricaços de Miami e pela CIA, negando-lhe o apoio aéreo que não deixaria dúvidas quanto à participação estadunidense na aventura.
Já Johnson, o caipira texano, mergulhou de cabeça numa grotesca intervenção nos assuntos internos de uma nação soberana, deixando que as digitais dos EUA ficassem nitidamente impressas no golpe brasileiro.
Não sei se é para rir ou para chorar, mas o total abandono da pauta revolucionária por parte do PT, se fez com que o Brasil neste século não avançasse um milímetro sequer na direção do fim do pesadelo capitalista, por outro lado nos imunizou contra qualquer possibilidade real de nova quartelada.
...e os cansadinhos de 2007. |
Banqueiros, grandes empresários e agronegócio têm seus interesses caninamente defendidos pelos governos petistas. Por que se arriscariam a um salto no escuro?
E, como o Brasil não teve sequer a dignidade de atender ao pedido de asilo de Edward Snowden, sua fidelidade é a última das preocupações de Barack Obama. Melhor vassalo, impossível.
É óbvio que ainda existe uma direita golpista, ladrando mas não mordendo, porque quem manda mesmo são os donos do canil. Fracassou rotundamente com o Cansei! e vai tentar outra vez no próximo sábado, 22.
Será o Incrível Exército de Brancaleone novamente em marcha, para aumentar a quota de fiascos, dando mais uma demonstração de anacronismo e irrelevância.
Será o Incrível Exército de Brancaleone novamente em marcha, para aumentar a quota de fiascos, dando mais uma demonstração de anacronismo e irrelevância.
De resto, eu perdi a conta de quantos manifestos de pijamados pirracentos li desde a volta à democracia.
Tendo como palco principal o Clube Militar, trata-se do psicodrama favorito dos que, como a Carolina da canção célebre de Chico Buarque, relutam em reconhecer que o tempo passou na janela e só eles não viram.
E, mais ainda, não se conformam com o fim do seu mundo ter ocorrido antes de eles próprios morrerem.
E, mais ainda, não se conformam com o fim do seu mundo ter ocorrido antes de eles próprios morrerem.
2 comentários:
Mais de uma vez, em blogs de esquerda, leio a comparação do bando de idiotas da oposição, com a sátira do filme de Mario Monicelli, L'Armata Brancaleone.
É no mínimo inadequado dar essa aurea aos reacionários. Brancaleone enfrenta o feudalismo, a inquisição, o despotismo, o atraso e sai vencedor.
João,
é que tais comparações pegam outro lado do personagem: o quixotesco.
À frente de um bando de pobres coitados, ele dá vazão a suas ilusões de grandeza, perseguindo feitos heroicos e colhendo resultados hilários.
E, assim como os articuladores da nova marcha, tenta viver no presente seguindo valores do passado, o que o leva a amiúde viajar na maionese.
Abs.
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