A ignóbil matéria-de-capa da edição 2365 da veja continua despertando a indignação dos justos.
Do ponto de vista jornalístico, a palavra final foi dada pelo grande Alberto Dines, lenda viva da imprensa brasileira, que afirmou (vide íntegra do artigo aqui):
"José Dirceu, a Vida na Cadeia não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.
Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente servidos ao detento fossem reais, Dirceu estaria reluzente, redondo, corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do presídio, não há crime algum".
Os defensores dos direitos humanos, estranhamente, têm permanecido à margem da discussão e, que eu saiba, nenhum se indignou com a tom zombeteiro adotado tanto pela revista quanto por seu principal blogueiro, ao aludir ao podólogo que cuida da unha encravada do Zé Dirceu.
Em sites como o Brasil 247, há uma enxurrada de comentaristas contrapondo às minhas ponderações sua ânsia, explícita ou implícita, de vingança contra os grãos petistas (vide aqui).
Insisto: o cerne da questão é se presos têm ou não direito a tratamento civilizado, o que inclui médico, exames laboratoriais, dentista, oculista, fisioterapeuta, podólogo, nutricionista, etc., sempre que realmente necessário.
Porque o contrário seria acrescentar à pena de reclusão que estão cumprindo, outras que as sentenças não preveem: a de morte ou encurtamento da vida, comprometimento temporário ou definitivo da saúde, privação da visão e da locomoção, dores terríveis (de dentes e de unhas encravadas), etc.
Os que lhes negam tais direitos elementares de quaisquer seres humanos, sob pretexto de que outros presos não teriam acesso a isso tudo, é porque não os querem para preso nenhum.
Nada há de errado em que alguns detentos remunerem tais profissionais; e os demais poderiam ser levados a instituições que os atendessem gratuitamente ou mediante convênios firmados pelo Estado.
Isto, claro, partindo do pressuposto de que a privação da liberdade visa à reabilitação do criminoso, a impedir que ele reincida e a desestimular que outras pessoas o imitem, pois são estas, em teoria, as finalidades da pena de prisão.
Mas, como notou Hélio Schwartsman (neste artigo apropriadamente intitulado de Sadismo Inato), “parte de nossas mentes acredita que o apenado tem de sofrer na prisão”, pois a “natureza humana [é] ligeiramente sádica”.
A nossa caminhada rumo a estágios superiores de civilização exige que nos esforcemos para superar tal sadismo primevo, tentando agir sempre como seres verdadeiramente humanos.
Estimulando retrocessos por interesses políticos ou desumanidade inerente, os editores da veja e Reinaldo Azevedo apontam um caminho que nos conduziria diretamente às cavernas, de onde eles parecem jamais ter saído.
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