Quando mais um capítulo da arrastada e mal engendrada novela do GOLPEdistraí o distinto público, o essencial foi levado adiante pelo medíocre ministro Fernando Haddad, o pior dos ocupantes da Esplanada dos Ministérios. Após cerca de um mês de conversas, Lula determinou, através de seu poste da Economia, uma série de ações contra a classe trabalhadora, particularmente os mais vulneráveis.
Cinicamente, os ataques foram anunciados junto com a medida paliativa de isentar do imposto de renda quem ganha até 5 mil reais, promessa de campanha de Lula, e que serviria apenas para aliviar um pouco a escrachante carga tributária que pesa sobre as miudezas deste país. É inconcebível que pague imposto quem não possui renda! Muito pior, pois os trabalhadores não conseguem escapar da cobrança, pois essa vem retida na fonte do pagamento de seus salários, ao contrário dos ricaços que sonegam o quanto podem seja ao maquiar seus balanços de pagamento, seja ao pura e simplesmente darem calote no Leão ou seja ao encontrarem infinitas brechas jurídicas para não pagar nada.
Os dois principais ataques de Lula contra a classe trabalhadora foram no salário mínimo e no BPC -Benefício de Prestação Continuada. Pelo primeiro, a correção do mínimo será feita limitada a um valor ínfimo acima da inflação, levando ao virtual congelamento dele ao longo do tempo. Já as mudanças do segundo irão jogar milhões de pessoas na indigência, pois o BPC é um benefício pago a pessoas em extrema vulnerabilidade que em geral nunca ou quase nunca tiveram empregos regulares, possuem doenças incapacitantes, eram trabalhadores rurais sem vínculos empregatícios ou já são idosos sem fonte de renda. Lula e Haddad, com isso, condenam milhões de velhos e doentes à fome. Além destas ações, ainda existem cortes na saúde e na educação, inclusive com a possibilidade de um possível fim dos pisos constitucionais para essas áreas, o que representaria a falência da educação e da saúde públicas no Brasil.
Na realidade, Lula, ao impor tal pacotaço de maldades, leva adiante seu programa austericída, cumprindo com o acordado com as elites econômicas brasileiras que o retiraram da cadeia e o recolocaram no governo justamente para impor com mais eficiência o programa de arrocho sobre os trabalhadores, destruição do serviço público e financeirização da economia, fundamentando o país em uma base extrativista. Se trata do mesmo programa de Bolsonaro, mas vendido como sendo o programa da democracia. É no ferro no povo dentro da legalidade.
Enquanto os aloprados do golpismo vão sendo exibidos no noticiário ao velho estilo novelão da Globo - que, não nos esqueçamos, era também o estilo da Lava Jato - o capital vai tratorando o país através de seu servo Lula. (por David Coelho)
Quando se fala da Suíça no Brasil antigo, a palavra empregada é imigração e logo surge uma cidade pioneira, Nova Friburgo, na montanha perto do Rio de Janeiro, criada pelo rei de Portugal, d. João VI, em 1818, quatro anos antes da independência brasileira.
Seus primeiros habitantes lhe deram o nome de Nova Friburgo em homenagem à cidade suíça de onde tinham vindo. Houve também grupos de imigrantes suíços no sul do país e outros lugares, porém é difícil saber o número exato porque os registros misturavam suíços com alemães.
Mas não se sabia que muitos suíços se comportavam como colonizadores utilizando o trabalho escravo nas terras que receberam também do rei d. João VI no extremo sul da Bahia. Talvez porque do grupo fizessem parte também alemães. O Museu de Etnografia de Genebra organizou uma exposição fotográfica revelando a existência de uma extensa área, dedicada à plantação de café, com o nome de fazenda Helvécia, parte integrante da Colônia Leopoldina, criada em 1818, parte hoje do distrito do município baiano de Nova Viçosa.
As fotos e vídeos mostrados na exposição, aberta ao público durante três meses no Museu de Etnografia de Genebra, com o nome de Helvécia, uma história colonial esquecida, são do suíço-brasileiro Dom Smaz, da cidade suíça de Lausanne, filho de mãe brasileira e pai suíço.
Sua descoberta e seu interesse pelo passado colonial escravagista suíço se devem a uma viagem descoberta ou road trip feita com sua companheira Milena Machado Neves ao sul da Bahia, quando viu uma placa na estrada indicando o distrito de Helvécia, nome original da Suíça, que muitos de seus habitantes desconheciam por terem suas origens na África.
Todas as fotos estão reunidas no livro documentário Uma história colonial suíça no Brasil, editada pela editora Lars Mueller Publishers. Importante documento de um passado suíço desconhecido, que, por sua importância histórica e política, mereceria ter um prefácio de apresentação de Jean Ziegler. As principais pesquisas e as entrevistas com moradores locais foram feitas por Milena Machado Neves.
A exposição mostra também depoimentos em vídeo capazes de nos fazer recuar duzentos anos e descobrir a existência de fazendas de café que enriqueceram colonizadores brancos, nas quais trabalharam gerações milhares de escravos trazidos da África em terríveis navios negreiros.
Quando foi abolida a escravidão no Brasil, em 1888, muitos dos fazendeiros escravocratas retornaram à Europa. Restaram ali no sul da Bahia alguns nomes e alguns descendentes das misturas que ocorreram, legais ou clandestinas, de patrões e capatazes suíços com suas escravas, naquelas terras que acabaram sendo abandonadas por seus proprietários. O fim da escravidão tinha tornado não lucrativas as plantações de café.
A escravidão foi fundamental para o capitalismo suíço. Os banqueiros suíços Jacob Zellweger, Isaac Thellusson e Jacques-Louis Pourtalès ficaram ricos com o tráfico negreiro.
Os escravos libertos passaram a utilizar as terras para o plantio diversificado dos cereais e legumes necessários à sobrevivência e, felizmente, alguns dos habitantes mais instruídos decidiram pedir a concessão à comunidade do título de quilombo à Fundação Cultural Palmares, obtido em 2005.
Geralmente são consideradas quilombolas os lugares onde se refugiaram escravos negros em fuga. Helvécia, contudo, ex-Leopoldina, constituía uma exceção, porque foram os proprietários das terras e escravos a abandonar a região em busca de lugares mais lucrativos ou de retorno à Alemanha e Suíça. O mais original é um antigo quilombo, com quase toda população pobre e negra, ter o nome de Helvécia, nome original herdado da rica e branca Suíça, assinala Smaz, num dos comentários inseridos entre as fotos.
O primeiro suíço a se instalar na região foi Abraham Langhans, nascido em Berna, em 1819, atraído pela fertilidade da terra, onde se podia plantar arroz, mandioca, laranjas, limões, bananas, frutas exóticas e ter grandes colheitas. As boas notícias logo chegaram à Suíça e outros conterrâneos logo vieram de Neuchâtel, como Pierre-Henri Beguin e Philippe Huguenin. O nome da região provém da enorme fazenda Helvetia, de Johann Martin Flach, doada pelo governo brasileiro aos imigrantes, algo comum à época.
Em pouco tempo, a região se transformou numa das maiores exportadoras do café, fazendo a Suíça criar numa cidade portuária próxima, Caravelas, uma agência consular. O sucesso era extremamente lucrativo para os fazendeiros, com um custo mínimo na produção, pois os plantadores, colhedores, ensacadores e transportadores eram escravos vindos da África. Escravos submetidos ao tratamento do chicote, como contava o fazendeiro David Pache numa carta à sua irmã.
Em 1850, o médico da região, Karl August Toelsner empregava 200 brancos e mais de 2000 escravos negros, repartidos em 40 fazendas.
Sete anos depois da abolição da escravidão, 1895, a Suíça fechou o vice-consulado de Caravelas, aproveitando da demissão de Luis Bornand de seu cargo. Nessa altura, a exportação do café, sem escravidão, não era tão lucrativa. A exploração escravagista não era boa escola, pois o filho suíço do último vice-consul, Edgar Bornand, foi condenado em 1947, na França, como colaborador nazista. Com a partida dos suíços, só ficaram alguns nomes de descendentes como Sulz, Krull, Metsker e Krygsman mestiçados nas últimas gerações.
A história da exploração de negros trazidos da África amarrados, muitos deles desembarcando perto de Caravelas e sendo dirigidos para as fazendas de café de colonos alemães e suíços não parou. Hoje, o café foi substituído pela monocultura do eucalipto naquela região. E existem trabalhos de pesquisas de universitários reproduzindo a maneira como os negros reconhecidos como descendentes dos escravos de Helvécia lutam para não terem suas terras, reconhecidas por lei e pelo estatuto de quilombo, tomadas por grupos do agronegócio madeireiro dos eucaliptos como Aracruz Celulose e Suzano Bahia Sul Celulose.
Destaco o trabalho de pesquisa feita há alguns anos pela professora Liliane Fernandes Gomes da Universidade do Estado da Bahia sobre a Atuação da Associação Quilombola de Helvécia frente às empresas de Eucalipto. E uma entrevista bem recente do presidente da Associação Quilombola Volta Miúda e da Cooperativa Quilombola do Extremo Sul de da Bahia na qual se revela como a Suzano, maior empresa de papel e celulose do mundo, continua operando com graves violações e ilegalidades. As comunidades continuam lutando para recuperar suas terras.
Outro trabalho, de há alguns anos, é o de Paulo Vinicius Brito dos Santos Oliveira, que trata do Quilombo de Helvécia, lugar de memória e resistência, num relato da luta dos descendentes dos escravos contra a monocultura dos eucaliptos que acabou com os peixes no rio e com a fertilidade das terras, além de ser muito poluente.
Estes pontos unem a exploração do passado às lutas do presente, na busca dos moradores por preservar suas terras e suas memórias. (por Rui Martins)