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sexta-feira, 9 de maio de 2025

CUIDADO COM AS HISTÓRIAS QUE VOCÊ IMAGINA, PODEM TORNAR-SE REALIDADE!

fórmula de mesclar enredos de ficção científica com os dramas reais das ditaduras e das guerras sujas do século passado tem um acréscimo significativo com a minissérie O Eternauta, lançada  em escala mundial no mês passado e que ora começa a ser aqui exibida no streaming da Netflix.  

Só que desta vez a realidade invade não a vida fictícia  dos personagens, mas sim a existência verdadeira do próprio criador da clássica HQ de 1957. o escritor Héctor Germán Oesterheld.   

Mas, deixando o principal para o fim,  lembremos incialmente o exemplo de duas obras primas literárias  ancoradas na realidade e que renderam filmes interessantíssimos.

Refiro-me, primeiramente, à distopia por mim considerada a melhor de todos os tempos: 1984, escrita por George Orwell em 1948, a partir dos acontecimentos que ele vivenciou nos campos de batalha da guerra civil espanhola. 

Esquerdista ingênuo, Orwell foi participar das brigadas internacionais que lutavam contra as tropas golpistas de Francisco Franco e, por mera coincidência, acabou ingressando numa que era controlada pelo Partido Obrero de Unificación Marxista, seguidor de Leon Trotsky. 
Os Juan Salvos dos quadrinhos e das telas
Pôde então constatar ao vivo e em cores que a URSS, única aliada de peso dos valorosos espanhóis, cobrava muito caro pelos mantimentos e armamentos que lhes fornecia: obrigava os trotskistas e anarquistas a, em pleno calor da luta, expurgar seus dirigentes que estavam em desacordo com o desvirtuamento da revolução soviética por parte de um dos maiores carniceiros do século passado, o tirânico Joseph  Stalin.

Atingido por um disparo inimigo, Orwell volta para a Inglaterra e escreve dois livros contundentes, a partir de suas observações da tragédia espanhola: 
--Lutando na Espanha, no qual culpa os soviéticos por terem tirado do povo os motivos que o haviam levado a revoltar-se espontaneamente contra a investida fascista, partindo para a resistência heroica; e 

--1984, uma parábola fictícia mas transparente sobre o desvirtuamento da revolução soviética sob Stalin, responsável inclusive pelo massacre da velha guarda bolchevique nos infames julgamentos de Moscou.

O livro é um arraso, me deixou profundamente chocado quando o li. por volta dos meus 16 anos (até garimpei e encontrei um irmão menor, O zero e o infinito, de Arthur Koestler). 

O film
e, lançado exatamente em 1984, não ficou à sua altura, já que requeria um diretor peso pesado e não, apenas, Michael Radford; mas a força da trama (Orwell foi co-roteirista) e as impactantes atuações de John Hurt e Richard Burton o valorizam muito.

Já o diretor George Roy Hill foi uma escolha bem mais apropriada no caso de Matadouro Cinco (1972), filme no qual quem ficou devendo foi o elenco, encabeçado por Michael Sacks (quem?!). 

Lançado em 1969. o best-seller do Kurt Vonnegut Jr., por sua vez, foi o melhor fruto literário daquela voga contestatória na Europa e EUA; e também tem o autor como co-roteirista.

Começa como uma sci-fi rotineira sobre homem abduzido e suas peripécias com os extraterrestres, mas  a dramaticidade sobe aos píncaros quando a ação, surpreendendo os leitores, se desloca para a cidade alemã de Dresden, alvo de um bombardeio tão inútil quanto criminoso por parte dos aliados na segunda guerra mundial. Piores do que este, só mesmo os de Hiroshima e Nagasaki... 

Torçamos para que a minissérie argentina, ainda no início, acrescente mais uma pérola a esta relação. Nela, o onipresente Ricardo Darin interpreta Juan Salvo, homem comum que se torna viajante do tempo e do espaço ao buscar sua família desaparecida após uma nevasca tóxica.

A arte o conduz à participação num grupo de resistência, inicialmente para sobreviver, depois para o enfrentamento de uma ameaça extraterrestre e, afinal, para cair nas garras dos inimigos. 

Já o escritor Oesterheld foi arrastado pela vida em direção semelhante, pois ele aderiu à guerrilha esquerdista dos Montoneros e o fez juntamente com sua família, acabando por ser sequestrado  em 1977 pelos militares fascistas. 

O desfecho foi trágico: Oesterheld e suas quatro filhas  desapareceram para sempre. Será um milagre se algum dos cinco ainda reaparecer com vida, tanto tempo depois.

Resta saber se o  imaginário Salvo será salvo na minissérie ou vai evaporar também... (por Celso Lungaretti)

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

JAMAIS ESQUECER, JAMAIS PERDOAR: A INÚTIL DESTRUIÇÃO DE DRESDEN, JÁ NOS ESTERTORES DA 2ª GUERRA MUNDIAL.

Uma das imagens de divulgação do filme Matadouro 5
Há 73 anos teve início um dos piores massacres da 2ª Guerra Mundial: o bombardeio de Dresden, que se prolongou por três dias, exterminando cerca de 25 mil civis a troco de nada, pois nada havia que fizesse daquela cidade à margem do rio Elba um objetivo militar.

O escritor Kurt Vonnegut Jr., estadunidense de ascendência germânica, fez de tal episódio o ponto culminante de sua obra-prima Matadouro 5, de 1969, que tem uma razoável versão cinematográfica dirigida três anos depois por George Roy Hill.

Não se pode, evidentemente, equipará-lo às também desnecessárias (do ponto de vista militar) bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, pois inexiste horror remotamente comparável àquilo.

Mas, foi uma matança que jamais deveremos esquecer e jamais poderemos perdoar, daí eu a estar relembrando com a publicação dos trechos principais de um ótimo resgate histórico da Deutsche Welle (o texto completo pode ser acessado aqui).

Servirá, inclusive, de contraponto à forma piegas e maniqueísta como Hollywood acaba de retratar Winston Churchill, incluindo uma totalmente inventada consulta aos passageiros do metrô londrino. 

Refiro-me, claro, a O Destino de uma Nação, que ora está em cartaz no Brasil e concorrerá a seis Oscar, inclusive o de melhor filme.
"Em 13 de fevereiro de 1945, 245 quadrimotores Avro Lancaster da quinta frota de bombardeiros britânicos decolaram em direção à cidade à beira do rio Elba, que contava então 630 mil habitantes e abrigava um número estimado de centenas de milhares de refugiados.

Estratégica e economicamente, Dresden era irrelevante para o desenrolar da guerra, cujo desfecho já era previsível no início de 1945.

Às 21h39, as sirenes antiaéreas soaram na cidade. Cerca de 3 mil bombas explosivas de alta capacidade e 650 mil bombas incendiárias choveram sobre a Florença do Elba, como Dresden era conhecida por sua beleza arquitetônica e por seus tesouros culturais. Tudo isso em apenas 23 minutos.
O centro da cidade virou um mar de chamas. O brilho era tão intenso que pilotos britânicos relataram que, já a 320 quilômetros de distância e 6.700 metros de altitude, era possível ver Dresden em chamas. O calor atingiu temperaturas tão altas que era capaz de derreter vidro nos porões. Duas ondas de ataques britânicos e uma subsequente de bombardeiros dos EUA arrasaram cerca de 15 quilômetros quadrados da cidade.

O comandante da operação de destruição de Dresden, da qual participaram centenas de pilotos britânicos e americanos, era Arthur Harris, comandante-em-chefe da Royal Air Force e o homem do primeiro-ministro Winston Churchill para o bombardeio da Alemanha nazista, um instrumento de guerra visando desmoralizar o inimigo.

"Sem hobbies, nunca leu um livro, não gostava de música, vivia para o seu trabalho." Essa foi uma das mais curtas definições do militar Harris, até hoje uma figura polêmica.

Harris era o antibritânico. A cortesia tão peculiar a seus compatriotas era coisa estranha para ele, uma pessoa rude e propensa a ofensas. Muitos o chamavam simplesmente The Butcher, o açougueiro.

No período entre as duas grandes guerras, Harris descobriu sua paixão pelo combate aéreo. Foi comandante de esquadrão da RAF no Paquistão e no Iraque, onde voava, ele mesmo, frequentemente. 

Tinha preferência pelo emprego de bombas incendiárias contra os curdos e árabes, pondo em chamas suas casas cobertas de palha. Ele adorava o efeito da guerra quando visto do alto.

Assim como muitos oficiais das forças aéreas, também fora do Reino Unido, Harris acreditava na superioridade militar dos bombardeios. Já em 1943, prometeu levar a Alemanha à capitulação somente a partir do ar, sem o uso de tropas terrestres. Um ano depois, em 1944, Harris afirmava que 45 das 60 maiores cidades alemãs estavam destruídas, incluindo Colônia e Hamburgo. Era hora de dar cabo do restante, reivindicava. Isso incluia Dresden.

COOPERAÇÃO COM OS SOVIÉTICOS 
Uma vergonha para a civilização: o açougueiro de Dresden

Alguns historiadores veem o bombardeio de Dresden como parte de uma crescente cooperação militar entre as potências ocidentais e a União Soviética, nos estágios finais da 2ª Guerra. Desde o final de 1944, a ofensiva aliada contra a Alemanha ia a passos lentos na frente ocidental, enquanto o Exército Vermelho avançava rapidamente no leste. 

Diante disso, Churchill, pouco antes da Conferência de Yalta, determinou que fosse verificado se "Berlim e outras grandes cidades do leste da Alemanha não deveriam ser consideradas objetivos que valessem particularmente a pena".

...Dresden estava nos planos de Harris. E houve avisos bem antes do 13 de fevereiro. Notícias divulgadas pelas rádios dos aliados e jornais afirmavam que cada cidade alemã poderia se tornar um alvo da linha de frente. Além disso, Dresden era ponto de junção de estradas e linhas ferroviárias, tanto no eixo leste-oeste como norte-sul. E Dresden era considerada, pelos aliados, um possível refúgio de Hitler e dos nazistas no caso de Berlim e Leipzig serem desligadas como linhas de abastecimento. 
Esta foi outra darkest hour do Churchill... 
Dresden estava, portanto, no foco, e Churchill era mais do que alguém que apenas tolerava o impiedoso modo de bombardeiro de seu estrategista de aviação Harris. Pouco antes de morrer, Harris chegou a dizer que a destruição de Dresden "foi considerada na época uma necessidade militar por pessoas que eram muito mais importantes do que eu".

O Exército Vermelho, comandado pelo marechal Jukov, estava em fevereiro de 1945 a apenas 80 quilômetros a leste de Dresden, quando bombardeiros britânicos e americanos quiseram dar aos soviéticos um sinal de cooperação contra a Alemanha de Hitler.

"Uma barbárie como essa jamais seria feita pelo Exército soviético", disse mais tarde Jukov. E, mesmo na Inglaterra, o bombardeio de Dresden ainda é questão controversa. Em 1992, quando Bomber Harris ganhou uma estátua de bronze de 2,70 metros no centro de Londres, a rainha o chamou de líder inspirador, enquanto centenas de manifestantes gritavam genocida!, genocida!".

domingo, 28 de setembro de 2008

QUE PAUL NEWMAN CONTINUE SE DIVERTINDO LÁ EM CIMA...

Paul Newman morreu, aos 83 anos. Não era um ator extraordinário, mas tinha carisma e um faro quase infalível para escolher papéis que o destacariam.

Parecia ser um sujeito simpático e de bem com a vida. Mas não lhe faltava coragem nem discernimento político, pois fez campanha por Eugene McCarthy, pré-candidato à presidência que, já em 1968, propunha-se a tirar os EUA do Vietnã.

Não era qualquer celebridade que ousava associar sua imagem à do santo guerreiro Gene, tão amado pelos estudantes quanto detestado pelos conservadores e reacionários de todos os matizes (que seriam apropriadamente designados por Richard Nixon como maioria silenciosa, em contraposição à minoria que falava porque tinha o que dizer...).

Ao desacelerar sua carreira cinematográfica, continuou em evidência como um dos proprietários da equipe Newman-Hass, uma das principais escuderias da Fórmula Indy.

Mesmo com câncer terminal, respondia com gracejos às indagações sobre seu estado de saúde. Impossível não simpatizarmos com ele.

Os críticos ressaltarão, como sempre, os seus olhos azuis. O que mais me chamava a atenção era a voz grossa, que parecia pertencer a um grandalhão, não a um indivíduo de porte mediano.

O boxeador Rocky Graziano foi seu primeiro grande personagem, em Marcados Pela Sarjeta (dirigido por Robert Wise, 1956). Houve quem dissesse tratar-se da cinebiografia do lendário Rocky Marciano (até eu caí nessa...), mas eram dois pugilistas diferentes.

Newman estrelou um filme antológico em 1962: Desafio à Corrupção (d. Robert Rossen). Foi a melhor atuação de sua carreira, como o craque da sinuca Eddie Felson, que enfrenta o grande campeão Minnesota Fats (Jackie Gleason) e, embora seja mais talentoso, perde por falta de personalidade. Começa, então, a descida aos infernos na qual ele forjará seu caráter, a um preço terrível.

Em qualquer outro ano, Newman certamente ganharia o Oscar. Naquele, entretanto, teve de competir com outra culminância: Gregory Peck, em O Sol É Para Todos (d. Robert Mulligan).

Também Desafio à Corrupção não levou sorte, pois bateu de frente com o superlativo Lawrence da Arábia (d. David Lean).

Para compensar, a Academia o premiou por retomar o personagem Eddie Felson numa medíocre seqüência cometida por Martin Scorcese em 1986: A Cor do Dinheiro.

Muito mais merecedoras de estatuetas foram suas performances em obras-primas como Um de nós Morrerá (d. Arthur Penn, 1958), O Indomado (d. Martin Ritt, 1963), Rebeldia Indomável (d. Stuart Rosenberg, 1967), Hombre (d. Martin Ritt, 1967), Oeste Selvagem (d. Robert Altman, 1976), Quinteto (d. Robert Altman, 1979) e O Veredicto (d. Sidney Lumet, 1982).

Aliás, mesmo seu desempenho em amenidades simpáticas como Butch Cassidy (d. George Roy Hill, 1969), Golpe de Mestre (d. George Roy Hill, 1973) e Roy Bean, o Homem da Lei (d. John Huston, 1972) foi artisticamente superior ao de A Cor do Dinheiro, um papel sem verdadeiras exigências, que ele representou correta mas burocraticamente.

O personagem também não ajudava. Scorcese pisou feio na bola. Felson termina Desafio à Corrupção como um homem que se reconstruiu ao confrontar e vencer a podridão ambiente. E começa A Cor do Dinheiro como o veterano que adestra outro jovem para seguir o caminho que ele, enojado, rejeitara. Talvez Newman tenha percebido esta incongruência e optado por manter algum distanciamento.

De resto, é impressionante a lista de grandes diretores com quem Newman trabalhou. Aos citados acima devem-se acrescentar, ainda, Richard Brooks (Gata em Teto de Zinco Quente, 1958, e Doce Pássaro da Juventude, 1962) e Otto Preminger (Exodus, 1960).

Na Hollywood de então, não se era cineasta de primeira linha sem saber dirigir atores. Esses medalhões souberam extrair de Paul Newman atuações quase sempre marcantes, que não sairão tão cedo da lembrança de quem, como eu, curtia intensamente o cinema nas décadas de 1950, 60 e 70 – as do seu apogeu.

Que descanse em paz. Ou, melhor ainda, que continue se divertindo lá em cima...
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