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terça-feira, 29 de julho de 2025

OBRA PRIMA DE SERGIO LEONE REVISITA O VELHO OESTE TAL QUAL ERA E O OESTE COMO O CINEMA O RETRATOU

Q
uarto bangue-bangue de Sergio Leone, Era uma vez no Oeste (1968) é um filme lento, virtuosístico, inusitado e belíssimo, com atuações inesquecíveis de Charles Bronson, Henry Fonda, Jason Robards e Claudia Cardinale; outra trilha musical superlativa de Ennio Morricone; e a colaboração de ninguém menos que Bernardo Bertolucci e Dario Argento na concepção da história. 

Destaque também para a singela homenagem que Leone presta ao grande John Ford, ao incluir no elenco um de seus atores favoritos, Woody Stroode (como um dos pistoleiros que esperam a chegada do trem na sequência inicial).

Nos 164 minutos de espetáculo, o italiano Leone evoca um dos temas clássicos dos faroestes estadunidenses, a vingança -- buscada por um homem misterioso (Bronson) que toca gaita de forma agônica e parece ter contas a ajustar com Frank (Fonda), o capanga do sr. Morton (Gabriele Ferzetti), capitalista selvagem que implanta a ferro e fogo a primeira ferrovia daquelas bandas.

Outro traço nostálgico, provável lembrança de muitas matinês, é a amizade que surge entre o Harmônica e o bandoleiro Cheyenne (Robards), começando pelo respeito mútuo e evoluindo para a simpatia e para uma aliança cheia de riscos enfrentados em conjunto.

E há também o primeiro grande personagem feminino da filmografia de Leone, a prostituta Jill (Cardinale), que resolve iniciar nova vida com um viajante que atendera no bordel -- mais mitologia do gênero!

De um sem-número de westerns outonais a que assisti, é um dos mais reverentes e românticos, emocionado e emocionante.

Mas, Leone não se permite o simplismo de apenas colocar na tela uma magistral sistematização das ilusões cinematográficas sobre o velho Oeste. Ele introduz também o contraponto da realidade, que se evidencia na sequência do tão aguardado duelo final.

Depois que o mocinho e o bandido finalmente se defrontam, a câmara vai se distanciando do confronto solitário para mostrar, logo ao lado, as centenas de trabalhadores construindo a estrada de ferro, que transformaria radicalmente a realidade econômica e social da região.

Breve não haveria mais lugar para os Harmônicas, os Cheyennes e os Franks. As individualidades lendárias estavam condenadas pelo desenvolvimento das forças produtivas; breve só existiriam... no celuloide.

indutor do progresso também não é poupado por Leone. Ele o apresenta de forma mais contundente ainda do que como Orson Welles retratou o Cidadão Kane. 

Se Kane vê sua humanidade se dissipar entre o mundaréu de quinquilharias que acumula no final de sua trajetória, Morton vai morrendo enquanto sua ferrovia ganha vida.

Combalido, reduzido a cadeirante, só se movimenta com rapidez quando está no vagão do trem; Frank, aliás, sarcasticamente o compara a uma lesma que, por onde passa, deixa um rastro de gosma, na forma de trilhos.  

Este foi o primeiro filme da trilogia que Leone completaria com Era uma vez a revolução (no Brasil, Quando explode a vingança, 1977) e Era uma vez na América (1984). 

Dele também é a trilogia dos dólares: Por um punhado de dólares (1964), Por uns dólares a mais (1965) e Três homens em conflito (1966).

Um clássico absoluto. Imperdível! (por Celso Lungaretti)

sábado, 13 de janeiro de 2024

CONHEÇA AS 3 BRUXAS DO DARIO ARGENTO; SÓ NÃO PODE CONFUNDI-LAS COM A INDIRA GANDHI, GOLDA MEIR E MARGARET THATCHER

O retorno da maldição – a mãe das lágrimas: sob a ameaça do inferno na Terra. 
Para quem ainda continuará em férias por mais um tempinho, eis uma boa sugestão de filmes que fogem ao ramerrão da indústria cinematográfica: a trilogia das mães, do hoje octogenário cineasta Dario Argento, um dos mais estilosos diretores italianos.

Começando como colunista de um jornal menor, Argento mostrou ao que vinha quando, em 1966, se tornou um roteirista da Cinecittà. Depois de alguns trabalhos banais, se destacou em 1968 como autor da história original de Era uma vez no Oeste, tendo como co-roteiristas os geniais Sergio Leone e Bernardo Bertolucci. E foi Leone quem dirigiu tal faroeste, espécie de síntese de todo o gênero. Uma obra-prima superlativa.

Após outros dois anos dedicados ao trivial simples, Argento estreou na direção propondo um enfoque mais sofisticado para o gênero giallo em O pássaro das plumas de cristal, um inesperado sucesso internacional.  
Suspiria: os segredos da academia de balé 

Às histórias policiais na linha dos livros de bolso de capa amarela italianos (o equivalente à pulp fiction dos EUA) ele acrescentou um marcante rebuscamento de imagens (lembrando quadros) e música (clássica), além de mortes espetaculosas, artísticas, dos personagens.

Ou seja, embrulhou para presente os filmes de um filão que era até então desprezado como meramente comercial.  

A receita lhe garantiu mais dois sucessos, semelhantes até nos títulos: O gato de nove caudas e Quatro moscas sobre veludo cinza, ambos de 1971. Ainda insistiu nela em Prelúdio para matar (1975), mas sentiu então que precisava se renovar. 

Criou em 1977 um híbrido de giallo com sobrenatural e um jeitão de pesadelo, que virou cult de plateias mais sofisticadas (aqui no Brasil, p. ex., foi muito exibido em cineclubes e salas alternativas). Outra novidade de Suspiria foi temperar o cardápio musical erudito com pitadas de rock progressivo.

O roteiro, baseado no livro Suspiria de Profundis, de Thomas De Quincey. também melhorou muito com relação a suas fitas anteriores, que se destacavam mais por seu clima tenso (o espectador fica o tempo todo com a respiração suspensa, esperando algo horrível acontecer) e pela sinergia trepidante de som e imagem, do que propriamente pela história. 

Mostra uma bailarina principiante chegando para aprimorar-se numa conceituada academia alemã... que não passa de um conciliábulo de bruxas. Seguem-se mortes, suspeitas, acontecimentos bizarros e, finalmente, o clímax, quando a novata se defronta com uma strega secular.  

Como da vez anterior, Argento deu um jeito de criar mais dois filmes na esteira do que bombou.
A mãe das trevas com sua casa em chamas

Para tanto, em A mansão do inferno (1980), ressignificou Suspiria: existiriam três bruxas muito poderosas que, das casas que um arquiteto ligado ao ocultismo construiu para elas em Friburgo, Nova York e Roma, espalhavam tragédias por todo o mundo, inclusive tramando a própria destruição de nossa espécie.

Percebe-se claramente que Argento não filmou Suspiria como o capítulo dedicado à mãe dos suspiros nessa improvisada saga; mesmo assim, a nova interpretação acabou não destoando. 

E o filme de 1980, o da casa da mãe das trevas em Nova York, embora só tivesse apresentado de inovadora a justificativa para a existência da trilogia, acabou sendo o mais bem resolvido em termos visuais e musicais, com passagens verdadeiramente antológicas, como a da moça que mergulha num porão inundado para recuperar o chaveiro que escapou de sua mão.   

Argento só conseguiu completar a trilogia em 2007 (!), e talvez houvesse sido melhor deixá-la inacabada. O retorno da maldição – a mãe das lágrimas, sobre a bruxa que mora em Roma, tem em gore (sanguinolência) e erotismo grotesco o que lhe falta em criatividade e até em empenho, parecendo mais um cumprimento de obrigação do que a realização de um sonho. 

Isto para não falar da semelhança, talvez não intencional, com Príncipe das sombras, dirigido por John Carpenter em 1987. Resumindo, ou Argento tinha perdido a mão, ou o fôlego. Fez-me lembrar a imensa decepção com outro filme do qual eu esperava muito: O poderoso chefão 3. (por Celso Lungaretti)
Suspiria original, incomparavelmente superior ao
remake
de 2018, está nos streamings da Prime e Oldflix. 
 
Dos três, este é o mais redondinho e o que tem melhores momentos 
Para assistir a O retorno da maldição – a mãe 
das lágrimas no Youtube, clique aqui 

domingo, 28 de dezembro de 2014

DARIO ARGENTO E SEU CULT SOBRE A BRUXA DOS SUSPIROS

Um dos diretores italianos que mais aproximam o gênero de terror do grande cinema é Dario Argento, com seu visual requintadíssimo e as magníficas trilhas sonoras, puxadas para a ópera e para o rock. 

O artesanato de som e imagem, contudo, não costuma encontrar equivalência nos roteiros; geralmente, fico imaginando quão longe ele iria com textos melhores nas mãos... 

E olhem que foi como roteirista que ele iniciou a carreira! Mas, seu único trabalho memorável, Era uma vez no Oeste (d. Sergio Leone, 1966), foi uma coautoria da história original, criada por ele, Bernardo Bertolucci e o próprio Leone.

Apesar dos pesares, ele tem ao menos duas obras-primas no currículo: o filme para ver no blogue abaixo disponibilizado, o cult Suspiria (1977); e A mansão do inferno (1980), que particularmente considero melhor, na contramão da maioria dos críticos cinematográficos.

Fazem parte da chamada trilogia das três mães, sobre poderosas bruxas que viriam exercendo poderosa influência maligna através dos séculos: a mãe dos suspiros, a mãe das trevas e a mãe das lágrimas

Antes, ele fizera uma trilogia de animais, bem inferior (o gênero giallo, com seus assassinos seriais e sua sanguinolência oportunista, é um pé no saco!): O pássaro das plumas de cristal (1970), O gato de nove caudas (1971) e Quatro moscas sobre veludo cinza (1971).

Infelizmente, Argento fechou o ciclo das más mães já decadente, com uma produção extemporânea e de parcos recursos, O retorno da maldição (2007), dando a impressão de que apenas quis faturar mais algum aproveitando o volume morto da sua represa...

Suspiria, sobre estranhos acontecimentos numa escola de danças em regime de internato, é uma de suas obras em que fica mais evidente a influência de Alfred Hitchcock. Trata-se, basicamente, de um thriller que se encaminha para um desfecho sobrenatural. No elenco inexpressivo (outra marca registrada dos filmes de Argento, que investe mais na direção de atores do que na contratação de atores...), destaque para a presença do cantor Miguel Bosé. 

Infelizmente, os cães de guarda dos direitos autorais 
retiraram do ar a versão legendada deste filme. Tão logo
surja alguma, eu a colocarei no lugar desta, falada em italiano.

terça-feira, 22 de abril de 2014

"ERA UMA VEZ NO OESTE": SIMPLESMENTE IMPERDÍVEL!

Quarto bangue-bangue de Sergio Leone, Era uma vez no Oeste (1968), abaixo disponibilizado graças ao Youtube, é um filme lento, virtuosístico, inusitado e belíssimo, com atuações inesquecíveis de Charles Bronson, Henry Fonda, Jason Robards e Claudia Cardinale; outra trilha musical superlativa de Ennio Morricone; e a colaboração de ninguém menos que Bernardo Bertolucci e Dario Argento na concepção da história. 

Destaque também para a singela homenagem que Leone presta ao grande John Ford, ao incluir no elenco um de seus atores favoritos, Woody Stroode (como um dos pistoleiros que esperam a chegada do Harmônica na estação de trem).

Nas quase três horas de espetáculo, o italiano Leone evoca um dos temas clássicos dos faroestes estadunidenses, a vingança -buscada por um homem misterioso (Bronson) que toca gaita de forma agônica e parece ter contas a ajustar com Frank (Fonda), o capanga do sr. Morton (Gabriele Ferzetti), capitalista selvagem que implanta a ferro e fogo a primeira ferrovia daquelas bandas.

Outro traço nostálgico, provável lembrança de muitas matinês, é a amizade que surge entre o Harmônica e o bandoleiro Cheyenne (Robards), começando pelo respeito mútuo e evoluindo para a simpatia e para uma aliança cheia de riscos enfrentados em conjunto.

E há também o primeiro grande personagem feminino da filmografia de Leone, a prostituta Jill (Cardinale), que resolve iniciar nova vida com um viajante que atendera no bordel -mais mitologia do gênero!

De um sem-número de westerns outonais a que assisti, é um dos mais reverentes e românticos, emocionado e emocionante.

Mas, Leone não se permite o simplismo de apenas colocar na tela uma magistral sistematização das ilusões cinematográficas sobre o velho Oeste. Ele introduz também o contraponto da realidade, que se evidencia na sequência do tão aguardado duelo final.

Depois que o mocinho e o bandido finalmente se defrontam, a câmara vai se distanciando do confronto solitário para mostrar, logo ao lado, as centenas de trabalhadores construindo a estrada de ferro, que transformaria radicalmente a realidade econômica e social da região.

Breve não haveria mais lugar para os Harmônicas, os Cheyennes e os Franks. As individualidades lendárias estavam condenadas pelo desenvolvimento das forças produtivas; breve só existiriam... no celuloide.

O indutor do progresso também não é poupado por Leone. Ele o apresenta de forma mais contundente ainda do que Orson Welles retratou o Cidadão Kane, aliás William Randolph Hearst. 

Se Kane vê sua humanidade se dissipar entre o mundaréu de quinquilharias que acumula no final de sua trajetória, Morton vai morrendo enquanto sua ferrovia ganha vida.

Combalido, reduzido a cadeirante, só se movimenta com rapidez quando está no vagão do trem; Frank, aliás, sarcasticamente o compara a uma lesma que, por onde passa, deixa um rastro de gosma, na forma de trilhos.  

Um clássico absoluto. Imperdível!

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