sábado, 13 de janeiro de 2024

CONHEÇA AS 3 BRUXAS DO DARIO ARGENTO; SÓ NÃO PODE CONFUNDI-LAS COM A INDIRA GANDHI, GOLDA MEIR E MARGARET THATCHER

O retorno da maldição – a mãe das lágrimas: sob a ameaça do inferno na Terra. 
Para quem ainda continuará em férias por mais um tempinho, eis uma boa sugestão de filmes que fogem ao ramerrão da indústria cinematográfica: a trilogia das mães, do hoje octogenário cineasta Dario Argento, um dos mais estilosos diretores italianos.

Começando como colunista de um jornal menor, Argento mostrou ao que vinha quando, em 1966, se tornou um roteirista da Cinecittà. Depois de alguns trabalhos banais, se destacou em 1968 como autor da história original de Era uma vez no Oeste, tendo como co-roteiristas os geniais Sergio Leone e Bernardo Bertolucci. E foi Leone quem dirigiu tal faroeste, espécie de síntese de todo o gênero. Uma obra-prima superlativa.

Após outros dois anos dedicados ao trivial simples, Argento estreou na direção propondo um enfoque mais sofisticado para o gênero giallo em O pássaro das plumas de cristal, um inesperado sucesso internacional.  
Suspiria: os segredos da academia de balé 

Às histórias policiais na linha dos livros de bolso de capa amarela italianos (o equivalente à pulp fiction dos EUA) ele acrescentou um marcante rebuscamento de imagens (lembrando quadros) e música (clássica), além de mortes espetaculosas, artísticas, dos personagens.

Ou seja, embrulhou para presente os filmes de um filão que era até então desprezado como meramente comercial.  

A receita lhe garantiu mais dois sucessos, semelhantes até nos títulos: O gato de nove caudas e Quatro moscas sobre veludo cinza, ambos de 1971. Ainda insistiu nela em Prelúdio para matar (1975), mas sentiu então que precisava se renovar. 

Criou em 1977 um híbrido de giallo com sobrenatural e um jeitão de pesadelo, que virou cult de plateias mais sofisticadas (aqui no Brasil, p. ex., foi muito exibido em cineclubes e salas alternativas). Outra novidade de Suspiria foi temperar o cardápio musical erudito com pitadas de rock progressivo.

O roteiro, baseado no livro Suspiria de Profundis, de Thomas De Quincey. também melhorou muito com relação a suas fitas anteriores, que se destacavam mais por seu clima tenso (o espectador fica o tempo todo com a respiração suspensa, esperando algo horrível acontecer) e pela sinergia trepidante de som e imagem, do que propriamente pela história. 

Mostra uma bailarina principiante chegando para aprimorar-se numa conceituada academia alemã... que não passa de um conciliábulo de bruxas. Seguem-se mortes, suspeitas, acontecimentos bizarros e, finalmente, o clímax, quando a novata se defronta com uma strega secular.  

Como da vez anterior, Argento deu um jeito de criar mais dois filmes na esteira do que bombou.
A mãe das trevas com sua casa em chamas

Para tanto, em A mansão do inferno (1980), ressignificou Suspiria: existiriam três bruxas muito poderosas que, das casas que um arquiteto ligado ao ocultismo construiu para elas em Friburgo, Nova York e Roma, espalhavam tragédias por todo o mundo, inclusive tramando a própria destruição de nossa espécie.

Percebe-se claramente que Argento não filmou Suspiria como o capítulo dedicado à mãe dos suspiros nessa improvisada saga; mesmo assim, a nova interpretação acabou não destoando. 

E o filme de 1980, o da casa da mãe das trevas em Nova York, embora só tivesse apresentado de inovadora a justificativa para a existência da trilogia, acabou sendo o mais bem resolvido em termos visuais e musicais, com passagens verdadeiramente antológicas, como a da moça que mergulha num porão inundado para recuperar o chaveiro que escapou de sua mão.   

Argento só conseguiu completar a trilogia em 2007 (!), e talvez houvesse sido melhor deixá-la inacabada. O retorno da maldição – a mãe das lágrimas, sobre a bruxa que mora em Roma, tem em gore (sanguinolência) e erotismo grotesco o que lhe falta em criatividade e até em empenho, parecendo mais um cumprimento de obrigação do que a realização de um sonho. 

Isto para não falar da semelhança, talvez não intencional, com Príncipe das sombras, dirigido por John Carpenter em 1987. Resumindo, ou Argento tinha perdido a mão, ou o fôlego. Fez-me lembrar a imensa decepção com outro filme do qual eu esperava muito: O poderoso chefão 3. (por Celso Lungaretti)
Suspiria original, incomparavelmente superior ao
remake
de 2018, está nos streamings da Prime e Oldflix. 
 
Dos três, este é o mais redondinho e o que tem melhores momentos 
Para assistir a O retorno da maldição – a mãe 
das lágrimas no Youtube, clique aqui 

4 comentários:

celsolungaretti disse...

Valmir, eu fiz o gracejo do título só com bruxas estrangeiras porque, se fosse colocar as brasileiras, levaria horas cortando nomes, até chegar a apenas três.

celsolungaretti disse...

Ué, você deletou suas escolhidas? Não precisava ter receio. Duvido que alguma delas haja ficado tão rabugenta a ponto de processar piadistas.

O maior risco seria o meu, como responsável legal pelo blog (é um papel que só jornalista profissional pode assumir).

Mas, depois haver tido de suportar a censura da ditadura militar, não sou eu quem vai nunca cortar indiscriminadamente a opinião de comentaristas. Mesmo porque gracejos não equivalem a ofensas pessoais ou acusações sem prova.

Viva o humor!

Valmir disse...

nem sabia que o próprio comentarista tinha como excluir o comentário...
enfim..melhor ficar calado. Não quero 17 anos no gulag do xandão...imagine que em casos semelhantes o camarada homem de ferro "só" dava 10 anos (lembro bem de um trecho do arquipélago gulag onde Soljenitsyn fala de uma mulher que conheceu no campo...antes de ser presa ela trabalhava em uma peixaria e um dia embrulhou um peixe em uma folha do Pravda (que como em quase todas) trazia uma foto do guia genial dos povos, o grande timoneiro e farol da humanidade. Isso foi suficiente.

celsolungaretti disse...

Mas nós aqui não somos marinheiros de primeira viagem e só autorizamos comentários que não possam criar problemas para os comentaristas e para nós mesmos.

Quando os comentaristas insultam alguém ou acusam-no de atos criminosos sem provas, podem ser processados por tal (tais) desafeto(s).

Dependendo da gravidade da ofensa ou da acusação infundada, nós também podemos vir a ter complicações legais.

Como ninguém aqui é masoquista, estou atento a tais possibilidades. Embora haja transferido a função de editor para o David, como ele é filósofo e eu sou jornalista, a responsabilidade legal pelo que sai no blog continua sendo minha.

E, depois daquele episódio com o Boris Casoy, no qual acabei ganhando a parada mas tive uma trabalheira danada, hoje tomo muito cuidado para não dar sopa pro azar.

No seu caso, pessoas públicas como aquelas três que vc havia mencionado quase sempre evitam criar caso por causa de uma piada, pois o efeito acaba sendo contrário: a piada viraliza.

Um abração!

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