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O retorno da maldição – a mãe das lágrimas: sob a ameaça do inferno na Terra. |
Começando como colunista de um jornal menor, Argento mostrou ao que vinha quando, em 1966, se tornou um roteirista da Cinecittà. Depois de alguns trabalhos banais, se destacou em 1968 como autor da história original de Era uma vez no Oeste, tendo como co-roteiristas os geniais Sergio Leone e Bernardo Bertolucci. E foi Leone quem dirigiu tal faroeste, espécie de síntese de todo o gênero. Uma obra-prima superlativa.
Após outros dois anos dedicados ao trivial simples, Argento estreou na direção propondo um enfoque mais sofisticado para o gênero giallo em O pássaro das plumas de cristal, um inesperado sucesso internacional.
Às histórias policiais na linha dos livros de bolso de capa amarela italianos (o equivalente à pulp fiction dos EUA) ele acrescentou um marcante rebuscamento de imagens (lembrando quadros) e música (clássica), além de mortes espetaculosas, artísticas, dos personagens.
Ou seja, embrulhou para presente os filmes de um filão que era até então desprezado como meramente comercial.
A receita lhe garantiu mais dois sucessos, semelhantes até nos títulos: O gato de nove caudas e Quatro moscas sobre veludo cinza, ambos de 1971. Ainda insistiu nela em Prelúdio para matar (1975), mas sentiu então que precisava se renovar.
Criou em 1977 um híbrido de giallo com sobrenatural e um jeitão de pesadelo, que virou cult de plateias mais sofisticadas (aqui no Brasil, p. ex., foi muito exibido em cineclubes e salas alternativas). Outra novidade de Suspiria foi temperar o cardápio musical erudito com pitadas de rock progressivo.
O roteiro, baseado no livro Suspiria de Profundis, de Thomas De Quincey. também melhorou muito com relação a suas fitas anteriores, que se destacavam mais por seu clima tenso (o espectador fica o tempo todo com a respiração suspensa, esperando algo horrível acontecer) e pela sinergia trepidante de som e imagem, do que propriamente pela história.
Mostra uma bailarina principiante chegando para aprimorar-se numa conceituada academia alemã... que não passa de um conciliábulo de bruxas. Seguem-se mortes, suspeitas, acontecimentos bizarros e, finalmente, o clímax, quando a novata se defronta com uma strega secular.
Como da vez anterior, Argento deu um jeito de criar mais dois filmes na esteira do que bombou.
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A mãe das trevas com sua casa em chamas |
Para tanto, em A mansão do inferno (1980), ressignificou Suspiria: existiriam três bruxas muito poderosas que, das casas que um arquiteto ligado ao ocultismo construiu para elas em Friburgo, Nova York e Roma, espalhavam tragédias por todo o mundo, inclusive tramando a própria destruição de nossa espécie.
Percebe-se claramente que Argento não filmou Suspiria como o capítulo dedicado à mãe dos suspiros nessa improvisada saga; mesmo assim, a nova interpretação acabou não destoando.
E o filme de 1980, o da casa da mãe das trevas em Nova York, embora só tivesse apresentado de inovadora a justificativa para a existência da trilogia, acabou sendo o mais bem resolvido em termos visuais e musicais, com passagens verdadeiramente antológicas, como a da moça que mergulha num porão inundado para recuperar o chaveiro que escapou de sua mão.
Argento só conseguiu completar a trilogia em 2007 (!), e talvez houvesse sido melhor deixá-la inacabada. O retorno da maldição – a mãe das lágrimas, sobre a bruxa que mora em Roma, tem em gore (sanguinolência) e erotismo grotesco o que lhe falta em criatividade e até em empenho, parecendo mais um cumprimento de obrigação do que a realização de um sonho.
Isto para não falar da semelhança, talvez não intencional, com Príncipe das sombras, dirigido por John Carpenter em 1987. Resumindo, ou Argento tinha perdido a mão, ou o fôlego. Fez-me lembrar a imensa decepção com outro filme do qual eu esperava muito: O poderoso chefão 3. (por Celso Lungaretti)
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O Suspiria original, incomparavelmente superior ao remake de 2018, está nos streamings da Prime e Oldflix. |
Dos três, este é o mais redondinho e o que tem melhores momentos
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