O balanço do tarifaço com que Donald Trump tentou coagir a Justiça brasileira a indultar o genocida e golpista Jair Bolsonaro é inequívoco: foi um formidável tiro no pé, concebido às pressas e executado de forma grotesca..
Comprometeu até a mais remota possibilidade de ressurreição política do agonizante bolsonarismo e oferecendo numa bandeja a oportunidade de ouro para o Lula sair das cordas e recuperar pelo menos parte do prestígio perdido.
Tantos comentaristas da internet estão batendo na tecla acima que não vejo necessidade de alongar-me no inventário das cinzas. Os farsantes simplesmente escancararam para os brasileiros que de patriotas não têm nada, pois exortaram seus seguidores a prejudicarem de diversas formas o Brasil e o povo brasileiro, maximizando os danos da última loucura do Donald Trump (a do Mel Brooks pelo menos era engraçada, mas esta agora do aprendiz de barbárie não passa de desgraçada...).
Tive a intuição do que iria acontecer e cantei a bola com um mês de antecedência no post A ultradireita produz muito estrago quando chega ao poder, mas nele não se eterniza por ser autofágica (clique aqui para abrir).
--a decisão do Hitler de, na última guerra mundial, abrir a segunda frente na Europa, quando vinha acumulando vitórias e conquistas numa sucessão impressionante. Se consolidasse o que conquistara ao invés de arriscar-se a uma reviravolta no enorme território e no inverno glacial da União Soviética, a História do mundo teria sido outra;
--a decisão temerária do Mussolini de aliar-se a Hitler no conflito mundial que já se desenhava, quando seu fascismo, sem os excessos chocantes do nazismo alemão, não despertava repúdio equiparável;
--a adoção da sabotagem vacinal por parte de Jair Bolsonaro durante a pandemia, verdadeiro absurdo no atual estágio do conhecimento científico, portanto uma pirraça inconsequente que abriu os olhos para os poderosos do capitalismo sobre o trem fantasma ao qual estavam dando sustentação política mas tendia a lhes causar grandes prejuízos econômicos em função da insegurança que promovia.
Eu poderia também haver citado o caso dos integralistas de Plínio Salgado, que tinham perspectivas as mais favoráveis possíveis depois de ajudarem o governo de Vargas a derrotar a Intentona Comunista, mas foram com muita sede ao pote, tentando assenhorar-se sozinhos do poder e sendo derrotados. pelo ditador de São Borja. Ou seja, desperdiçaram a vitória e colheram uma derrota definitiva, pois dali em diante sua influência foi definhando cada vez mais.
Quanto ao próprio Bolsonaro, as condições ideais para o seu projeto de autogolpe estavam dadas em 2019, quando ainda não sofrera o desgaste do poder, mas ele não ousou tentar.
Quando finalmente foi pra cabeça, o fez no pior cenário possível, depois de derrotado na eleição presidencial, o que deixou sua virada de mesa com aspecto repulsivo (o uso das armas para tentar obter o que as urnas lhe haviam negado).
E ainda por cima teve paúra de comandar pessoalmente o putsch, preferindo manter-se a salvo do outro lado do oceano, enquanto seu desnorteado gado barbarizava a Praça dos Três Poderes.
Então, nada existe a estranharmos na forma autofágica como o tio Donald lhe haja tentado dar uma mãozinha, sem perceber que estava é entregando-lhe uma âncora que o arrastava para o fundo do mar.
Tantos atos falhos parecem indicar que há um componente de autopunição na ultradireita, como se percebesse que seus projetos insanos se chocam com tudo que há de mais nobre e digno na existência humana, daí não merecerem dar certo mas sim floparem a um passo da vitória.
Tal convicção, que era atribuída erradamente a Aristóteles, permeia várias religiões. Quem sabe se os Hitleres, Trumps e Bolsonaros intimamente não suspeitam de estarem agindo como verdadeiros demônios? (por Celso Lungaretti)
Um comentário:
Mais uma vez o Donaldo mandando tomar
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