O acontecimento reforça dois dos maiores sintomas da derrocada lulopetista: a alienação sobre a realidade brasileira e a profunda prepotência de Lula e cia. Na verdade, tais defeitos costumam estar juntos e quanto maior é a ignorância, maior a soberba.
Contudo, a pataquada do PIX é mais imperdoável porque está diretamente ligada à dinâmica social que o lulopetismo ajudou a forjar nas últimas duas décadas, um país de empreendedores, recheado de Elon Musks que vendem bolo de pote e fazem corridas de Uber rumo ao primeiro milhão. Esses indivíduos fazem seus corres abaixo dos radares do Ministério da Fazenda e de seu voraz Leão enquanto se embebem de ideologia liberal despejada sobre eles pela mídia burguesa e pelo governo dito de esquerda.Não nos esqueçamos que Lula fez o que Bolsonaro se negou a fazer e cedeu ao lobby dos varejistas tupiniquins ao taxar compras internacionais antes isentas - a famosa taxa das blusinhas - que foi um duro golpe para o consumo das classes populares. Diante desse histórico, qual não foi a impressão popular quando o governo resolveu apertar o cerco sobre as transações efetuadas pela modalidade de PIX? O microempreendedor individual (MEI) que vende coco na praia entrou em pânico.
Por óbvio, não se trata e nunca se tratou de taxar a transação por PIX, pois tal tipo de cobrança configuraria a finada CPMF - Cobrança Provisória sobre Movimentação Financeira - extinta em 2011 e só pode ser constituída por força de lei aprovada no Congresso, mas a intenção de ampliar o cerco sobre a sonegação é muito clara e defendida abertamente pelo governo. O problema, porém, é que o sonegador é justamente o MEI com fumos de bilionário, forjado pelo lulopetismo ao longo de décadas de desregulamentação das relações de trabalho e de financeirização generalizada.
O MEI possui isenção de impostos, mas isso caso movimente uma quantia baixa de valores. Para manter a isenção, mas ter seus lucros assegurados, muitos fazem movimentações em contas de pessoas físicas e não em sua conta jurídica, recebendo em PIX porque essa forma de pagamento estava fora do rastreamento da Fazenda. Da noite para o dia, com sua nova regra, o governo arriscou colocar na ilegalidade milhões de microempreendedores que teriam de prestar contas de suas movimentações, se regularizar junto ao fisco e virtualmente perder as isenções financeiras.Daí a revolta contra a ação de Lula. O país de empreendedores forjado por ele durante anos de medidas neoliberais se levantou em peso contra a possibilidade de começarem a pagar impostos. As criaturas se viraram contra o criador.
É difícil imaginar que Haddad não soubesse dessas consequências de sua medida, mas certamente em sua arrogância ele não deve ter imaginado tal reação, prevendo uma vitória igual a obtida na tributação das compras internacionais. Em sua fúria de taxar as grandes pobrezas, embevecido pelos tapinhas nas costas que recebe dos bem-pensantes do mercado financeiro, contava ter mais uma vez montado nas costas dos pobretões do Brasil para rachar de dinheiro o baronato. Ledo engano! Mas, como já dizíamos, Fernando Haddad é o pior ministro do governo Lula 3.
O bolsonarismo ter capitalizado com a insatisfação diante da medida do governo não pode ser surpresa, pois esses ditos empreendedores são uma de suas bases fundamentais ao acolherem o discurso liberal do self made man, da livre competição e do Estado interventor, com suas taxas e regras. O Brasil dos MEIs é o Brasil do bolsonarismo.
Mas é justamente este país que o lulopetismo ajudou a forjar: com relações de trabalho precarizadas, serviços públicos arruinados, afundado na superexploração, com a miséria galopante e em que as soluções são individuais, pela via do esforço pessoal, do empreendedorismo. Lula o criou, mas não o compreende porque não possui capacidade para tal, sendo muito mais o instrumento das forças históricas do capitalismo. Contudo, em sua soberba, ele acredita ter o povo em suas mãos, ser seu intérprete mais exato e virá daí sua ruína. (por David Coelho)
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