A indagação é de Marcelo Leite, jornalista especializado em ciência e ambiente, na Folha de S. Paulo deste domingo, 29 (acesse aqui). Eis alguns motivos de sua indignação:
-- o programa Copernicus da União Europeia declarou 2024 como o ano mais quente já registrado na Terra;
-- a tendência é de que 2025 venha a ser ainda pior;
-- o planeta segue em marcha acelerada para descumprir a meta do Acordo de Paris (2015), de manter o aquecimento globl no máximo 1,5ºC acima do de tempos pré-industriais; e
-- a trigésima COP (Conferência das Partes), "comandada em Belém por um governo tão ambíguo quanto o de Lula em políticas climáticas", deve resultar em nada ou quase nada, como todas as anteriores.
Alguma novidade? Não. Nem agora nem em março de 2010, quando eu já lançava uma dura advertência aos candidatos a marshmallows tostados, indignado por vê-los tão apáticos e conformados com o destino terrível que estavam escolhendo para si próprios e para os que viriam depois.
Faço questão de reproduzir aquela mensagem pois se trata de mais uma comprovação do acerto das minhas previsões quando projeto cenários futuros, baseado na minha vivência de revolucionário e não na geralmente modorrenta cientificidade acadêmica quando se trata de transformarmos a realidade e não apenas de a interpretarmos de diversas maneiras (a célebre tese de Marx sobre Feuerbach cai como uma luva!).
Quantas vezes os episódios terminariam bem melhor para a esquerda brasileira se minhas advertências tivessem sido levadas a sério!
Transcorridos 14 anos desde então, as reações continuam muito aquém das que seriam necessárias para sacudirem a letargia dos podres Poderes. Estamos perdendo uma corrida contra o tempo que jamais poderíamos perder!
Sendo que, desta vez, não há a mais remota dúvida sobre o fato de que a sobrevivência da humanidade depende de providências que deveriam estar sendo tomadas com extrema urgência.
Neste caso, até os cientistas (aqueles que as grandes corporações não conseguiram cooptar) estão cumprindo seu papel. Mas, quando os interesses financeiros prevalecem, até eles se tornam impotentes para evitar o pior. (Celso Lungaretti/2024)
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ENTROPIA
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Às vésperas do carnaval, fim de tarde, uma ventania com intensidade que eu jamais vira arrancou do trilho uma das lâminas da porta de correr do meu apartamento, atirando-a violentamente contra o sofá.
Saí em busca de material para fazer uma proteção provisória, que nos permitisse atravessar a noite.
Árvores caídas, semáforos desligados, um muro tombado, buzinas, congestionamento infernal.
Telefone, internet e TV a cabo out.
Horas depois, ruas e avenidas ainda sem iluminação. Cavaletes e avisos improvisados alertando os motoristas contra as novas crateras.
No dia seguinte, maratona de telefonemas para vidraceiros das redondezas, depois até de bairros distantes. Todos eles, depois do vendaval, com serviço para mais de uma semana.
Lá pelo trigésimo, bingo! Mas, fiquei com a suspeita de que as coisas jamais voltarão verdadeiramente ao normal.
Que, doravante, estaremos sempre botando a casa em ordem... para vê-la de pernas pro ar no momento seguinte.
E o noticiário segue repleto de ocorrências muitíssimo piores, no mundo inteiro.
As catástrofes naturais que já aconteciam, agora têm ímpeto muito mais devastador.
Mas os podres poderes -- cujo papel é perpetuar a competição, a ganância e o privilégio -- não reagem como deveriam, para ao menos evitar que a vingança da natureza sele o fim da espécie humana.
Pois já não existe dúvida nenhuma de que a humanidade muito sofrerá durante, pelo menos, algumas décadas.
Por mais que a imprensa evite constatar que dois e dois somam quatro, todos temos a sensação de que o apocalypse now está chegando muito mais depressa do que supõe nossa vã ciência.
E os homens nem de longe se dão conta de que, ou se unem e tomam o destino nas mãos, ou os governos continuarão cavando suas sepulturas.
Olho para minhas doces filhas e fico me indagando se atingirão minha idade.
Se ainda haverá seres humanos no planeta daqui a meio século, em nossa contagem de tempo... que talvez nada mais seja. (CL/2010)
2 comentários:
https://www.huffingtonpost.es/planeta/retos-medioambientales-2025-ano-clave-lucha-climatica.html?sma=huffington_2024.12.30
https://www.huffingtonpost.es/planeta/el-artico-quedarse-hielo-2027-nuevo-estudiobr.html?int=bloque_rel_final
https://rebellion.global/pt/
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