Filme incluído na Criterion Collection, uma das mais prestigiosas do cinema atual, Exótica (1994) é a obra-prima do diretor e roteirista egípcio-canadense Atom Egoyan, de ascendência armênia.
Até então, Egoyan vinha fazendo carreira mediana, entre curtas, episódios de séries televisivas e apenas um filme com alguma notoriedade no circuito de VHS (Next of kim).
O destaque obtido por Exótica em festivais de cinema pelo mundo todo abriu caminho para outros projetos ambiciosos, como O doce amanhã, O fio da inocência, Verdade nua, Memórias secretas e O preço da traição. Nenhum deles, contudo, tão bem sucedido quanto Exótica.
Mostra uma sofisticada boate canadense, na qual as moças fazem stripteases ao som de músicas e das tiradas quase literárias de um apresentador (Elias Koteas) que lança comentários do tipo "por que uma colegial nos parece tão fascinante, será porque ela tem a vida inteira pela frente enquanto nós já desperdiçamos as nossas?".
Depois, por uma tarifa fixa, elas atendem aos clientes nas suas mesas, conversam com eles, despem-se e/ou dançam a pedido dos ditos cujos, mas sem que lhes seja permitido tocá-las.
Quem se apresenta com vestes de colegial (Mia Kirshner) foi namorada do homem do microfone, daí algumas de suas falas serem alfinetadas implícitas sobre a antiga relação.
E um cliente habitual (Bruce Greenwood), agente do fisco, tem uma fixação nela porque, no passado, lhe prestara serviços de babá, antes de sua filha e sua esposa morrerem num acidente de trânsito.
Aos poucos vão vindo à tona os segredos e desditas nos relacionamentos em que se entrelaçam esses três personagens, mais a dona da boate (Arsinée Khanjian) e um proprietário de pet shop (Don McKellar) que contrabandeia ovos de espécies raras para clientes abastados.
E um ambiente que parecia até banal vai revelando aos poucos os destinos tortuosos que embute, as dores profundas silenciadas, os projetos de felicidade que se desmancharam no ar.
Sob o impacto que o filme me causou quando o assisti pela primeira vez, veio-me à mente uma frase lapidar do grande Guimarães Rosa que poderia até servir-lhe de epílogo: "Viver é uma questão de rasgar-se e remendar-se". (por Celso Lungaretti)
Clique aqui para assistir a Exótica no Youtube, com legendas em espanhol. |
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