quarta-feira, 6 de novembro de 2024

HE IS BACK: DA INVASÃO DO CAPITÓLIO À REOCUPAÇÃO DA CASA BRANCA

Muitos já davam Trump como morto e enterrado em 2021 quando ele sofreu momentânea derrota eleitoral. Mais uma vez, uma leitura superficial e imediadista fez escola e reinou euforia com a vitória do patético Biden, uma das figuras mais lastimáveis da história mundial. Desconsideram de onde vem Trump: ele vem da podridão capitalista, de décadas de rearranjo do capitalismo mundial que jogou milhões na sarjeta da falta de perspectivas e do desencanto. 

O carcomido Biden entrou em cena para ser o salvador da democracia e da liberdade - filme adaptado aqui no Brasil, mas piorado pela dublagem - em que tudo passaria por voltar à normalidade do antigo pacto do bom mocismo estadunidense, com instituições respeitadas, com o multilateralismo, a responsabilidade institucional e outras bobagens enquanto manteria the business as usual, espoliando os trabalhadores, aplicando o tacão imperialista, devastando a Palestina, etc. 

A derrota não foi derrota. 

Seu péssimo governo foi sendo engolido pela crise capitalista, conforme já tinha aventado em post do ano passado (aqui), com o alto custo de vida e o subemprego engolindo os trabalhadores dos EUA. Percebendo seu desgaste interno, resolveu lançar mão do nacionalismo e se aventurou na guerra da Ucrânia, cavando insustentável conflito com a Rússia, acreditando que assim arregimentaria as fileiras patrióticas e que o país se uniria em torno dele. O custo da guerra acabou sendo combustível de insatisfação e sua popularidade caiu ainda mais. 

Por fim, conseguiu alienar a esquerda estadunidense e os eleitores de origem árabe ao apoiar e sustentar o massacre ao povo palestino, chegando a sustentar a repressão contra as manifestações estudantis ocorridas nos EUA na primeira metade deste ano. Fazia coro ao discurso descabido de que questionar Israel seria ser antissemita

Já Trump jogou parado. Manteve sua base arregimentada e apenas aguardou pacientemente pelo fiasco previsível dos democratas. A saída do presidente anão e a entrada de Kamala, a draconiana, não mudou em absolutamente nada o cenário, pois a vice-presidente era ainda mais mal vista que o atual presidente. 

Do ataque ao capitólio à nova passagem pela presidência, a estratégia de Trump foi perfeita e exata. A invasão, taxada equivocadamente de golpe pelos analistas, serviu de mecanismo para galvanizar seus apoiadores no momento da derrota, ação depois copiada por Bolsonaro no Brasil no pastelaço de 8 de janeiro de 2023. Taxar tais ações de golpe sempre foi um equívoco cometido por análises apressadas e esquemáticas, que insistem em não entender a dinâmica da extrema direita no século XXI e sua estratégia de longo prazo na conquista do poder. 

Trump volta ainda mais poderoso que em 2016 e com muito mais sangue nos olhos. Certamente, imporá um regime autocrata à Putin, com aparência de democracia, mas com profundas limitações das liberdades e do funcionamento das instituições. 

Em breve, poderemos ver novamente essa cena.

Contudo, quem mais perde é Lula, pois já vinha fazendo um governo extremamente reacionário e rebaixado, com baixa popularidade. Agora, não terá mais seu principal fiador, Biden, e se verá acossado pelo possível retorno de Bolsonaro à arena política. Não será surpresa se Lula até mesmo sofrer um impeachment antes das eleições, tamanha sua crescente fragilidade. 

Bolsonaro deverá se tornar elegível novamente. É pouco provável que os valentes do STF irão resistir a uma rodada de sanções da Casa Branca contra seus passaportes, suas posses no exterior e seus cartões de crédito. Xandão é valente até tirarem sua possibilidade de ir à Disney ver o Pateta. Temos grandes chances de assistir à mesma mágica que liberou Lula da cadeia e o garantiu de volta ao pleito. Milagres existem, basta ter fé!

De resto, fica o aviso que dei em post (veja aqui) do dia 5 de março deste ano de 2024:

"Vai ficando mais uma vez a lição de que a extrema-direita nunca será derrotada eleitoral ou judicialmente, mas apenas pela transformação radical da sociedade, pois não poucos colocavam as fichas no fim do trumpismo graças à sua derrota eleitoral em 2020 ou mesmo pelas ações judiciais, ignorando que a raiz da extrema direita está no capitalismo em crise acelerada, que levam milhões a optarem por uma solução radical, mas reacionária. Enquanto uma esquerda revolucionária não retornar ao palco mundial, assistiremos ao avanço incólume das forças do atraso."

(por David Coelho)


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