quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O INFELIZ CRESCIMENTO DA DIREITA

"O fascismo é uma forma de crise terrorista da dominação capitalista, uma tentativa de perpetuá-la por meio de métodos bárbaros e de uma ideologia delirante. No entanto, a crise social e ecológica que assola o sistema mundial capitalista tardio é muito mais profunda do que a crise económica global desencadeada em 1929. 

Tornou-se impossível resolver as contradições e a crise do capital mediante um novo modelo de acumulação que absorva massas de trabalho lucrativamente. Portanto, só pode haver um prolongamento da crise, não uma solução para ela." (Tomasz Konicz) 
Há um evidente e infeliz crescimento da direita que pode ser comprovado pela eleição, aqui e alhures, de candidatos com pautas retrógradas que há alguns anos seria digna de repulsa coletiva.  Cabe, portanto, uma análise de por que tais  estrovengas conseguirem respaldo popular. 

A direita liberal, reacionária às transformações sociais e conservadora nos costumes, quer um estado mínimo que sirva apenas para manter as instituições que sustentam sua dominação, perpetuando uma ordem política que mantém, sufocada pelos impostos, uma população já exaurida por uma relação social subtrativa do tempo-trabalho-valor dos trabalhadores abstratos, assalariados (os quais morrem nas filas do bem intencionado SUS, eternamente desprovidos de recursos para darem às mães grávidas e à sua família a assistência médica de que necessitam).  

Considera a homossexualidade como uma doença ou um pecado diante de Deus e nega ou expulsa seus filhos homoafetivos de casa como se fossem possuídos pelo demônio e indignos do convívio familiar. 

Mas aplaude e vota em quem hipocritamente diz ser defensor da família mas muda de esposa a cada ciclo de idade como forma de manter o viço da juventude de suas parcerias. 
A qual fuhrer será que eles estão saudando? Ao Bozo? 
[Enquanto isto, ele próprio, o dito Messias imbrochável, fenece longe das mães envelhecidas dos seus filhos, e sempre como fiel serviçal dos interesses mesquinhos da segregação socio-econômica).

Faz apologia das armas como contributo para a paz e condecora a ralé miliciana que explora o povo empobrecido, subjugando-o pelas armas. 

Exalta a honestidade com o dinheiro público, mas não deixa de apropriar-se indebitamente de joias valiosas recebidas de nações estrangeiras como cortesias diplomáticas, além de comprar imóveis caros com dinheiro vivo, aumentando o patrimônio pessoal sem declaração ao imposto de renda.  

Acha justo que o seu país pague juros diferenciados e caríssimos aos bancos e rentistas por sua dívida pública, mas quer retirar dos previdenciários e trabalhadores os direitos que a legislação lhes concede, sob o pretexto de manter saudáveis as contas públicas (Milei que o diga). 

Considera que o governo de Israel tem o direito de retaliar a agressão do Hamas exterminando a população civil palestina da faixa de Gaza e destruindo prédios residenciais e instalações, ou submetendo-a a um êxodo forçado mundo afora, numa nova diáspora, a exemplo daquelas de que os próprios judeus foram vítimas no passado ancestral e na 2ª Guerra Mundial.  

Não se peja de usar a mentira como instrumento de veiculação dos seus propósitos inconfessáveis, seja por fake news robotizadas ou pela deliberada deturpação da verdade, como quando atribuiu à esquerda (?) a frase somos mais populares que Jesus.

Em tal estridência, proferida por John Lennon numa entrevista de 1966, o somos se referia apenas aos Beatles. E agora, numa saída pela tangente para eximir-se de culpa pelo assassinato de Marielle Franco, Bolsonaro acaba de recorrer ao mesmo expediente. 

Ele atribuiu ao miliciano Domingos Brazão (denunciado como mandante daquele duplo homicídio) envolvimento com a esquerda petista, porque o dito cujo apoiou Dilma  numa eleição na qual tinha interesse eleitoral pessoal específico. E há quem engula a lorota: ouvi de um motorista por aplicativo a certeza de que fora o PT o culpado (!).   

Seria infindável a citação das fake news da direita via internet;  e, infelizmente, elas calam nas mentes mais ingênuas ou nas dos endinheirados que querem manter a todo custo os seus interesses mesquinhos.  
Que os capitalistas e seus representantes políticos ajam assim é compreensível porque todo o edifício sob o qual acumulam privadamente a riqueza socialmente produzida se baseia na mentira segundo a qual é justa tal acumulação a partir da extração de mais-valia, que nada mais é senão a criminosa apropriação indébita do tempo-trabalho mensurado pelo
valor (representado pela mercadoria dinheiro).  

Mas, quem tenha um mínimo de senso de justiça e compreensão sobre a mecânica da escravização indireta do trabalho abstrato produtor de valor, não pode querer que haja uma forma política capaz de fazer justiça social a partir dos parâmetros da lógica autotélica do capital, dada a impossibilidade cientificamente comprovada de se fazer uma justa distribuição da riqueza abstrata pela subtração cumulativa pelo próprio capital de tudo que ele transforma em valor.

Historicamente a esquerda, que se diz combativa na luta contra a injustiça social e procura defender as categorias capitalistas trabalho e trabalhador, incensando-as como dignas de suas defesas, e não de suas superações, e que o faz a partir de formas políticas aparentemente contrárias aos dogmas e doutrinas da direita, mas conservando os princípios de produção social capitalista, termina sempre por se desgastar perante os mais humildades e oprimidos.
  
Os segmentos socialmente explorados pelo trabalho abstrato identificam nos políticos de direita e de esquerda como responsáveis pelo provimento de um equilíbrio social que seria representado por uma vida digna do ponto de vista do consumo, e capaz de dar a estes uma habitação confortável ao lado de boas e seguras infraestrutura sanitária e rodoviária, alimentação, saúde, segurança, educação, vestuário e transporte, além do necessário lazer.     

Assim, por delegação política, não sabem que a forma política apenas obedece aos comandos de uma relação social capitalista, e que sob tais pressupostos é impossível de existir uma forma política capaz de lhes dar o provimento de suas legítimas aspirações. 

Por entenderem (erroneamente) que a solução dos problemas sociais passa pelo bom e honesto gerenciamento político dos impostos que pagam, promovem o movimento pendular eleitoral cíclico entre propostas políticas de candidatos à direita e à esquerda, sem compreenderem que o problema está na preservação daquilo que eles mais almejam: o emprego assalariado que os explora.

Há uma revolta latente entre muitos jovens, principalmente entre os da periferia pobre das cidades socialmente cindidas, por verem seus pais trabalhadores e toda a sua família carentes de todos os confortos sociais de que necessitam. 

Tal revolta se transforma numa agressividade e violência catártica, quando não deriva para a criminalidade do lucro fácil e perigoso do consumo e comércio das drogas, ou ainda, para a cantilena conformista religiosa pentecostal da promessa de uma maravilhosa vida celestial futura.

Não há um correto entendimento por parte da esquerda dessa questão, que apenas coloca nos ombros de uma pretensa governabilidade com sensibilidade humanista de seus partidos políticos a solução de problemas sociais que necessariamente passam pela negação de tudo que a própria esquerda politicamente correta tem defendido.

Já passou da hora de a esquerda rever os seus postulados infrutíferos, sob pena de assistirmos impotentes ao crescimento eleitoral da direita, mesmo que esta também se desgaste, mas em menor escala, a cada ciclo de administração política. (por Dalton Rosado) 

5 comentários:

Túlio disse...

Saudações, Dalton
Sempre correto em suas análises, assim como o CL e o David.
Deixo os links abaixo como uma pequena contribuição aos leitores deste maravilhoso blog :
https://youtu.be/p0T97UtCkig?si=Acqzx8squhhUPwCY

https://youtu.be/UgstIm2Ee-o?si=l-BNy0CXGcL1DjpJ

SF disse...

***
Grande Dalton!
Sua análise, mesmo enviesada, está perfeita.
Se você começar a examinar o atual movimento de criação de moedas digitais, as criptos, e incluí-la num cenário provável para o futuro, trará, com sua percuciência, um prognóstico que aclarará os movimentos futuros da plutocracia internacional.
+++
A meu ver a coisa já deixou de ser a dicotomia (dialética) esquerda/direita.
Estamos cansados de saber que são complementares.
***
Meu vizinho plantou abacaxis.
Zelou por cerca de seis meses.
Quando os abacaxis produziram alguém foi lá e colheu.
***
Relativizar a moral é o grande erro da esquerda.
E quando os valores são invertidos e a criminalidade é acatada como "revolucionária", distributiva e outros eufemismos não há como haver paz na sociedade.
E você diz que o cara querer colher os frutos do que plantou é conservadorismo.
***
Já a direita é composta por retrógrados, anacrônicos, estúpidos e arrogantes que, como no caso da Rússia, está disposta a destruir o mundo em que vivemos para garantir seu narcisismo esquizoide.
***
São todos farinha do mesmo saco.
***
O caso do meu vizinho me fará construir cercas.
Criar cachorros bravos, plantar plantas espinhosas na cerca...
Ou seja, defender o que produzo de quem acha que pode meter a mão no alheio sem contribuir com nada.
***
Peça o pão para não roubar.
***
Só plantarei lindos abacaxis quando estiver morando no terreno.
Cercado e acompanhado de animais ferozes.
Um custo desnecessário se vivesse num mundo onde houvesse honestidade.
***
Agora plantei margaridão (Tithonia diversifolia) que é uma planta recicladora de nutrientes e desconhecida para quem não quer estudar e nem trabalhar, mas sempre está disposto a colher o que os outros plantaram.
Tipo os confiscadores dos seu armazém geral (artigo nono da sua proposta de constituição).
***
Há uma citação de Antonio ilustrando seu artigo. Ela fala de penumbra e monstros.
Eu acredito que o estado de penumbra interessa aos políticos.
E confirma a teoria do jogos que fala que um jogo desonesto é onde há assimetria de informação.
***
Na clara luz do dia ou na linda luz do luar há quem não se iluda com as cantilenas falaciosas da política.
Escuta o velho Marx que dizia que a história é a história dos meios de produção.
Atualmente o modo de produção é outro ele impossibilita a acumulação capitalista, mas também inviabiliza as malandragens das ditaduras do proletariado.
***
A cornucópia de Ceres foi aberta.
A batida do bumbo mudou.
Um tempo de grande prosperidade está se apresentando.
Avante!
***

Dalton Rosado disse...

Caro SF,
Quando o abacaxi representa valor a vida social se torna um abacaxi.
Se todos tivessem alimentos fartos produzidos colectivamente, sem necessidade de acumula-los privativamente, ate porque apodreceriam, e sem leva-los ao mercado, porque inexistente, acabaria a necessidade de rouba-los.
A sua insistência no entendimento de sentido pretensamente ontológico de acumulação desonesta do homem do armazém está presa à ideia ainda presente em você de que o abacaxi representa valor monetário, que numa sociedade sem as categorias capitalistas (o mercado é só uma delas), deixaria de exisitir.
Jamais disse ou quis insinuar que produzir para consumo próprio era conservadorismo; ao contrario, disse que isso não representa valor monetário, mas valor virtuoso, que é algo completamente diferente.
Obrigado pela oportunidade de esclarecer aos leitores seus questionamentos. Um abraço.

SF disse...

***
Então... eu vi o trocadilho que poderia advir da palavra "abacaxi".
Infelizmente você mordeu a isca.
***
Nós o saco de batatas (no dizer da múmia) já estamos acostumados a esse tipo de postura. Interpretamos como ingratidão.
Tranquilito.
***
Att que não estou falando de mediação social através de dinheiro.
A bem dizer estou falando de virtude (força moral) que é a pessoa ser humilde o suficiente para pedir ao invés de roubar.
E saber que todo trabalho social é coletivismo. E só será bom quando houver ética.
Reconheça ou não, o arroz que alguém come é fruto de trabalho coletivo de muitos.
Reconhecer o mérito e a virtude de quem produz é dever do governante... mas pera! Somos um saco de batatas!
***
É lamentável sua visão da produção, da distribuição do fruto do trabalho coletivo e de governança da sociedade.
***
Imersos em luxúria e ganância os governantes atuais são infelizes e infelicitam a tantos quanto sofrem o seu passageiro domínio. (algo assim)
Prabhupada.
*

Dalton Rosado disse...

Sob o capitalismo a produção coletiva é apropriada pelo capitalista que administra o capital.
Na sociedade que queremos a produção coletiva é administrada pela comunidade e seus organisnos de base, que poderão coibir qualquer fraude em detrimento dela mesma.
É somente isso SF. Abraço.

Related Posts with Thumbnails