sexta-feira, 8 de setembro de 2023

NASCIDO DA REJEIÇÃO AO TOTALITARISMO ULTRADIREITISTA, O GOVERNO DO PT É UMA DECEPÇÃO: AUTORITÁRIO E RETRÓGRADO!

Em 2004/2005 consegui esclarecer o episódio da luta armada do qual decorrera minha estigmatização injusta. Levei quase 35 anos, mas resgatei a verdade. 

Pensava que, dali em diante, teria possibilidade de dar uma contribuição bem mais efetiva à causa revolucionária. Só que a sensação de alívio me deixou otimista demais. 

Antes mesmo de ser marxista, já sabia o quanto um Estado todo poderoso pode destruir qualquer indivíduo. Lera Kafka, que expressava seus pesadelos de forma artística, mas também George Orwell e Arthur Koestler, que partiam da história real dos julgamentos stalinistas.

Contudo, enfrentando uma ditadura assassina, esqueci um pouco esse lado, tentando crer que tudo se resolveria depois que nos livrássemos dos militares.

Até que experimentei na carne tudo que um Estado pode fazer tendo poder de vida e de morte sobre um cidadão. Concluí então que nada, absolutamente nada, justificava conceder aos Estados tal poder.

Ao voltar à liberdade, estava decidido a não transigir mais com os regimes esquerdistas autoritários, proponentes ou praticantes da ditadura do proletariado. E a esquerda brasileira, infelizmente, tem um acentuado vezo autoritário, a ponto de até partidos com tradição trotskista defenderem a estatização da economia.

Como se a experiência soviética já não tivesse sido uma comprovação cabal de que todos os Estados tendem a se tornar leviatânicos, dominados por nomenklaturas! Estatizar 100 empresas significa apenas dar a essas excrescências mais 100 opções para concederem a si próprias privilégios inacessíveis aos trabalhadores.

Adorei quando li O Estado e a revolução (1917), do Lênin, no qual ele teorizou que a função do Estado, num regime revolucionário, seria a de criar as condições para sua extinção por se ter tornado supérfluo. 
O filme Leviatã mostrou o Estado russo tão monstruoso
sob o comunismo quanto na atual volta ao capitalismo
Pena que isto nunca aconteceu. Todas as nomenklaturas só fizeram aumentar cada vez mais o poderio estatal que as beneficiava, até serem desalojadas pela força.

Eu quase vomito quando vejo esquerdistas vibrando com o pré-sal e defendendo com unhas e dentes a Petrobrás, pois deveriam é estar defendendo com unhas e dentes a substituição dos combustíveis fósseis por energia limpa, para salvar a humanidade!

Enfim, desde 1973 sou totalmente contrário a todas e quaisquer ditaduras, inclusive a do proletariado, e coloco como metas revolucionárias primordiais a justiça social e a liberdade, em pé de igualdade. Não aceito de forma nenhuma que se sacrifique a liberdade em nome da justiça social, pois sei que isto sempre acaba mal.

Mais: a defesa dos direitos humanos se tornou uma das linhas-mestras da minha atuação. Como não sou caçador de holofotes, evito oferecer minha colaboração a todas as lutas travadas, mas nunca deixei de fazer o máximo que podia quando companheiros vieram me pedir ajuda para o bom combate. 

Consegui levar a bom termo algumas batalhas, noutras a vitória era impossível, mas tentar, sempre tentei. Revolucionário de minha geração jamais recusa pedidos formulados em nome da solidariedade revolucionária.

Com relação ao desenho de um regime revolucionário, eu penso na organização das atividades produtivas de forma a atender as necessidades coletivas e viabilizar o bem comum. Já existem condições tecnológicas para todos disporem de tudo que necessitam para uma existência gratificante e digna, e isto trabalhando bem menos do que na atualidade. A autogestão se disseminaria, tirando do Estado o poder de impor gestores a seu bel prazer.

Quanto ao que cada indivíduo quisesse fazer com seu tempo livre, considero que não seria problema do Estado, desde que não explorasse outras pessoas para enriquecer cada vez mais, colocando em xeque a base igualitária do regime. Que cada um empreendesse, criasse, inventasse, mas essa esfera secundária nunca poderia adquirir poder suficiente para competir com a principal.

Se a vida deixasse de ser uma batalha de todos contra todos, quem sabe as pessoas espontaneamente preferissem desfrutá-la em comunhão com as outras pessoas ao invés de moverem céus e terras para se colocarem em patamar superior a elas. (por Celso Lungaretti) 
Observações: o texto acima é de 08/10/2022 e não foi então publicado na forma de post, mas sim como resposta a um comentarista. 

Hoje, contudo, resolvi transformá-lo em post, para traçar um paralelo com o novo governo do PT, que se vendeu como uma alternativa ao totalitarismo bolsonarista e agora arranca a máscara, mostrando-se não só autoritário como, inclusive, retrógrado, embora nunca vá chegar ao cúmulo de sabotar o combate científico a uma pandemia ou iniciar golpes de Estado.   

Achei mais útil dar o recado da forma como estou dando agora (o link do post original. que o ensejou, é este), colocando em destaque meu desenho de uma sociedade pós-capitalista e como cheguei a ele. No mínimo, isto pode motivar os leitores a refletirem sobre o assunto.

De resto, faço uma ressalva: mais importante do que detalharmos aonde queremos chegar é, neste momento, discutirmos como poderemos lá chegar. 
Sendo a correlação de forças muito desfavorável a nós em escala mundial, nosso grande desafio é fazermos crescer acentuadamente as fileiras revolucionárias, pois enquanto o embate principal for entre o capitalismo (tendo a esquerda reformista como força auxiliar) e o fascismo, não chegaremos a lugar nenhum.

Já passou da hora de a esquerda deixar de submeter-se à chantagem que a desfigura: a de ter de alinhar-se com os capitalistas civilizados para evitar a prevalência do capitalismo bestializado.

A opção pelo mal menor se eternizará enquanto não recolocarmos a luta na ótica correta: a civilização (encarnada na superação do capitalismo, sem a qual a humanidade tem os dias contados) contra a barbárie (encarnada tanto no capitalismo civilizado quanto no capitalismo bestializado).

É fundamental voltarmos a desenvolver uma atuação autônoma, acumulando forças para, tão cedo quanto possível, representarmos uma alternativa de poder, ao invés de nos avassalarmos vergonhosamente ao médico capitalista por paúra do monstro capitalista, esquecendo-nos de que o dr. Jekyll e Mr. Hyde são a mesma pessoa. (CL)  

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