terça-feira, 1 de agosto de 2023

AMBÍGUO E OPORTUNISTA, OPPENHEIMER ESCANCAROU AS PORTAS DO INFERNO E DEPOIS AS QUIS FECHAR COM SUPER BOND

T
endo este blog publicado uma excelente crítica do filme Oppenheimer (clique aqui para acessá-la), vou acrescentar uns poucos aspectos históricos que considero importantes e o chinfrim diretor Christopher Nolan omitiu ou diluiu na mixórdia de informações atiradas na tela sem uma correta hierarquização por ordem de importância. 

Como se ainda estivesse lidando com personagens de HQ como o Batman, Nolan produziu muito estardalhaço e pirotecnia para, no final, deixar o espectador leigo no assunto com a impressão de que Oppenheimer tenha sido herói e vítima, enquanto os falcões que o perseguiram durante o macartismo seriam os únicos vilãos. Ou seja, quem não sabia nada agora sabe quase nada...

Primeiramente, não fica claro que uma verdadeira histeria obnubilou o raciocínio dos principais físicos da época face à possibilidade de Adolf Hitler contar com uma bomba atômica para seus desígnios hediondos. Tiveram um pesadelo à noite e, ao acordarem pela manhã, estavam convertidos em alarmistas atônitos.

Então, sem hesitarem um segundo, correram a pedir socorro para o Tio Sam, como se dotarem os EUA de um poder apocalíptico garantisse que o mundo ficaria mais seguro. 

O resultado dessa obtusidade dos scholars para enxergarem o que está fora do seu nicho específico foi o verdadeiro milagre de até agora a espécie humana não haver sido destruída por uma guerra atômica. 

As peças do dominó, vale lembrar, estiveram muito próximas de caírem uma a uma na crise dos mísseis cubanos, em 1962.  Fomos buscar na bacia das almas uma sobrevida que já dura sete décadas, mas se sustenta até hoje sobre um equilíbrio precário. Amanhã poderá ser nenhum dia, ou então o day after... 

Como bem ressaltou o David Emanuel Coelho, esses cientistas, com o húngaro Leo Szilard à frente, tinham em comum o propósito de salvarem os judeus e/ou os esquerdistas do nazi-nazismo.

E convenceram Albert Einstein a endossar suas preocupações numa carta escrita por Szilard e assinada também pelo pai da teoria da relatividade, que era respeitadíssimo pelo presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt. 

A partir daí vieram a decisão política e os recursos financeiros para u projeto atômico dos EUA.

Físico da segunda prateleira, que nem antes nem depois ganhou o Prêmio Nobel, Oppenheimer percebeu o mesmo que os colegas mais ilustres: passara a existir uma possibilidade teórica de se fabricar uma bomba atômica. 

E foi escolhido pelo chefe militar do Projeto Manhattan, o general Leslie Groves, para comandar a parte científica do empreendimento. Por quê? Por ter mais jogo de cintura, saber lidar pragmaticamente com diversos aspectos do empreendimento, enquanto os dotados de melhores cérebros sabiam muito de sua especialidade e quase nada de todo o resto. 

Talvez Groves também haja percebido que aquele jogador da série B obcecado por ascender à série A se prestaria aos papéis mais repulsivos para preservar seu posto, como delatar um companheiro suspeito de traição e até tornar-se um destruidor de mundos (conforme a frase de efeito que depois andou pretensiosamente citando, sem perceber que ela mais o incriminava do que o favorecia).

E, quando o perigo nazista, que não era tão sólido quanto os ingênuos cientistas  supunham (os aliados, ao ocuparem a Alemanha, encontraram o projeto atômico nazista ainda longe da conclusão) se desmanchou no ar, foi forte a rejeição entre os medalhões do projeto à ideia de usar-se a bomba contra o Japão. Não era para isto que eles tinham trabalhado com tanto afinco.
Casal Rosenberg: a corda arrebenta
sempre do lado mais fraco.

Oppenheimer, contudo, afiançou-lhes que os líderes políticos e militares sabiam o que estavam fazendo. 

Ou seja, mentiu descaradamente, pois participara de suficientes reuniões com essa gente podre para depreender que ela era capaz de mandar pelos ares uma cidade nipônica apenas para justificar, diante dos eleitores, os US$ 2 bilhões até então despendidos na empreitada. 

Consta também que, quando do teste definitivo da bomba em Los Alamos, Oppenheimer estava mais ansioso do que marido na maternidade à espera do parto da esposa. Os técnicos tiveram de pedir-lhe que se retirasse do recinto, pois deixava todo mundo nervoso. Preocupações humanitárias? Conta outra.

Bombas fabricadas e explodidas, algo entre 150 mil e 250 mil seres humanos exterminados nos primeiros tempos (afora os que morreriam ao longo dos anos seguintes), não escapou a Oppenheimer que aquele horror todo o faria ser visto doravante como um dr. Frankenstein da vida real, pois a etapa seguinte seria a de os muitos culpados eximirem-se da responsabilidade moral pelo monstro, deixando-as nas costas de vocês sabem quem.

Foi quando ele trocou sua fantasia de salvador das vidas dos soldados que morreriam se os EUA fossem obrigados a invadirem o Japão pela de opositor da bomba de hidrogênio e propositor de medidas irrealistas  para evitarem-se novos novas bestialidades como as de Hiroshima e Nagasaki. O melhor momento do filme é quando o presidente Truman se indigna com as lágrimas de crocodilo de Oppenheimer e grita-lhe que a responsabilidade pelo uso da bomba cabia ao stablishment político e militar, não aos cientistas que a criaram.  Uma lição de realpolitik.

Mas Nolan preferiu passar pano na imagem do cientista louco, contrapondo-lhe os mais loucos ainda falcões do Pentágono e caçadores de bruxas do macartismo. Para o público que engole as lorotas de Hollywood, acaba ficando a impressão de que Oppenheimer não foi tão ruim, afinal. Minha opinião é exatamente a oposta. 

Por último, aponto os grandes ausentes do melodrama político de Nolan: Julius e Ethel Rosenberg, o casal de comunistas de passeata que serviram de estafetas para o repasse à espionagem soviética de informações sobre o Projeto Manhattan. 

Foi outra opção de realpolitik: as altas autoridades estadunidenses consideraram preferível isentar os figurões da física que subsidiaram a URSS para que se estabelecesse um equilíbrio do terror (ou seja, visando evitar que o monopólio da destruição do mundo permanecesse nas mãos dos Estados Unidos). Como alternativa, o país que prega justiça para todos proveu catarse para a opinião pública eletrocutando quem estava mais à mão. 

Afinal, alguém precisava pagar pela epidemia de diarreia que se espalhou pelo país inteiro quando se ficou sabendo que os soviéticos também possuíam sua bomba. Azar desses dois pobres coitados que não entendiam bulhufas dos dados técnicos que estavam passando adiante! (por Celso Lungaretti)
É por lembrar das crianças de Hiroshima que nunca perdoarei
quem de alguma forma concorreu para seu extermínio 

2 comentários:

Anônimo disse...

Como saber do risco da catástrofe nuclear, agora, brevemente, ou distante?
Agora, brevemente e não distante estão os riscos das catástrofes climáticas.
Os 'conservadores' que investiram no nuclear, investem no aquecimento.
Se o Oppenheimer 'quis fechar com super bond, já se vê quem vai tentar com band-aid

Aqui está a verdade sobre os planos de Sunak para o Mar do Norte: ele venderá o planeta para os licitantes mais sujos | George Monbiot |The Guardian
https://www.theguardian.com/commentisfree/2023/aug/01/rishi-sunak-north-sea-planet-climate-crisis-plutocrats
Em tempo, George Monbiot aos 60 anos já foi arrastado pela polícia em manifestações, enquanto Greta Thunberg só estreou recentemente

celsolungaretti disse...

O risco de catástrofe nuclear aumentou com a chantagem do Putin, que a todo instante tira tal curinga da manga por causa da surra que está levando da Ucrânia. De tanto ele gritar "lobo!", pode acabar aparecendo algum.

Se a nomenklatura russa finalmente o expelir, o risco diminuirá de novo.

Related Posts with Thumbnails