Realizou-se nessa terça-feira, 16/05, na Faculdade de Direito da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais - o lançamento do livro O Futuro Ausente, do marxista José Chasin, que pode ser baixado gratuitamente nesse link.
Na realidade, o texto foi escrito há trinta anos na esteira da falência da URSS e do fiasco da transição democrática no Brasil com a eleição de Collor e o naufrágio da dita nova esquerda, com o PT à frente. Contudo, quando se lê o texto revela-se mais atual que a maioria esmagadora do que é escrito hoje em dia em nome do marxismo ou da esquerda em geral. Suas análises e problemas continuam na ordem do dia e não é possível refletir sobre os problemas e desafios da esquerda sem necessariamente passar por essa obra.
Chasin é formado em filosofia pela USP, tendo sido ativo no movimento estudantil no período pré-1964. Fez parte à época do PCB - Partido Comunista Brasileiro - dentro do qual fez forte oposição às perspectivas teóricas e práticas do partido, sobretudo em sua ideia de apoiar uma suposta revolução burguesa no Brasil, posição com fundamental responsabilidade, como se sabe, pelo fiasco da esquerda em se opor ao golpe militar. Após a instalação da ditadura, perseguido pelo regime, não encontrou oportunidades para lecionar, tendo de ir para empregos comuns no setor privado, assim ficando até meados da década de 1970, quando consegue posto de professor na Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).
Ali, bastante fora do radar da repressão - que se concentrava na USP- desenvolve forte movimento de debate intelectual das obras de Marx, questionando as leituras simplistas da esquerda dominante e introduzindo outros marxistas, notadamente Lukács. Logo, porém, o regime também se atenta à dinâmica que lá se passava graças à ação de Vicente Unzer de Almeida, então professor da Fesp, alto executivo da Mercedes-Benz e colaborador da ditadura, além do apoio de professores da esquerda descontentes com as críticas desenvolvidas por Chasin. Diante desse movimento, acaba sendo demitido em 1976 com base no Ato Institucional nº 5 e no Decreto-Lei 477.
Mesa de lançamento do livro. Da esquerda para a direita: Vitor Sartori, Sabina Silva, Vânia Noeli e Ester Vaisman. |
Nesse meio tempo entre sua volta de Moçambique e seu falecimento, foi responsável pelo surgimento do movimento Ensaio, editora que publicou diversas traduções importantes do pensamento marxista e uma importante revista para o debate intelectual entre várias vertentes da esquerda nacional. Por lá escreveram e debateram Florestan Fernandes, Paulo Freire, Ricardo Antunes, Antônio Cândido, Sérgio Lessa, entre outros.
Na realidade, eu nunca tive aulas com José Chasin, mesmo tendo estudado no mesmo departamento onde deu aulas, e isso porque minha entrada na universidade ocorreu 8 anos após sua morte. Fui apresentado ao filósofo através de sua viúva, Ester Vaisman, a quem devo muito de minha formação marxista. Antes de tomar contato com suas obras, eu já tinha uma posição revolucionária, mas de forma alguma uma formação marxista adequada, tendo sido apenas com a leitura de seus textos que consegui chegar a um nível de rigor teórico e prático adequado.
Chasin me apresentou um marxismo além do lugar comum ou dos chavões partidários e militantes, fazendo-me compreender o papel determinante da teoria e a necessidade imperiosa de articular essa teoria com o entendimento do mundo concreto, do desdobramento histórico. Também me ensinou a não ter ilusões com a política tradicional e os partidos da dita esquerda, estando a única alternativa possível na emancipação humana total e completa.
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, meu local de formação universitária e último espaço de trabalho de José Chasin. |
Na realidade, quando se lê seus textos entre as décadas de 1980-90 é notável o quanto ele viu com clareza o desenvolvimento histórico mundial e particularmente do Brasil, antecipando em muito fenômenos que viriam a ocorrer apenas na época atual. Significativo, por exemplo foi seu prognóstico do fiasco de PT e PSDB - devemos recordar que, na década de 1990, os tucanos eram considerados de esquerda... - e sobretudo o quanto Lula, ou melhor, Luís Inácio, era um político medíocre com profundo peso reacionário.
Vinte e cinco anos após sua morte, é preciso reconhecer o quanto seu pensamento segue vivo e necessário. Se quisermos trabalhar por um futuro que não seja ausente, José Chasin é um dos autores fundamentais para esse processo. (por David Emanuel Coelho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário