terça-feira, 16 de maio de 2023

FIM DA POLÍTICA DE PREÇOS DA PETROBRÁS É BEM VINDA, MAS É PRECISO AVANÇAR PARA NOVA MATRIZ ENERGÉTICA

 


O
fim da Política de Preços atrelado ao dólar, pratica da Petrobrás conhecida pelo sigla PPI (Paridade de Preços Internacional) é uma decisão acertada do governo Lula, embora insuficiente. Embora em se tratando de Lula, a medida ainda possa ser revertida ou mesmo executada por meios incompreensíveis ao vulgo, apenas o anúncio de seu fim já significa certo alívio para a população. 

O PPI foi implementado por Michel Temer e visava igualar o preço interno dos combustíveis ao preço internacional do barril, cotado em dólar. Seu objetivo fundamental era garantir os lucros dos acionistas da Petrobrás e resguardar os ganhos dos importadores, tendo sido conduzida em paralelo ao fechamento de refinarias nacionais para aumentar a importação dos combustíveis. O resultado direto foi a explosão dos preços, com o resultado mais tangível sendo a greve dos caminhoneiros de 2018.

Mas o impacto da alta no valor dos combustíveis não está apenas no bolso de quem possui automóvel ou caminhão. O fato do Brasil ser um país majoritariamente movido sobre rodas, com pouca participação do setor ferroviário ou fluvial, faz o valor do combustível ser o fiel da balança inflacionária. Ou seja, com a alta dos combustíveis, toda a sociedade passou a sofrer com o aumento de custos e consequente aumento dos preços dos produtos e serviços, penalizando irremediavelmente as classes sociais mais baixas, atingidas mesmo em seu consumo de alimentos essenciais. 

Contudo, o fim da PPI não é medida suficiente, pois a alta dependência nacional dos hidrocarbonetos deveria ser revista de imediato, com nova matriz energética entrando em cena. Essa mudança, porém, não será nunca efetuada por empresas privadas, mais interessadas no lucro imediato de seus acionistas do que em investir pesadamente em algo cujo resultado efetivo levará décadas.

Por isso, a Petrobrás deveria ser totalmente reestatizada e transformada de uma empresa de Petróleo para uma empresa de Energia. No contexto da sociedade capitalista, a reestatização significaria a retirada da companhia das pressões do mercado por lucro, mas só poderia ser efetiva com um amplo programa de mudança da matriz energética, investindo pesadamente em novas formas de energia, de emissão zero ou próxima de zero, e novas formas de logística, focando no setor ferroviário e fluvial. 

As cidades brasileiras deveriam ser repensadas para colocar o transporte público por trilhos no centro da vida urbana, transformando o uso dos carros particulares em sistema complementar e não principal, ao contrário do que é hoje. Ao mesmo tempo, a geração de eletricidade por vias limpas - como a eólica e a solar - deveria ser impulsionada. Existem mesmo estudos sobre a possível geração de eletricidade usando energia geotérmica, algo que certamente revolucionária o mundo. 

Nada disso, contudo, poderá funcionar com a necessidade imediata de geração de lucro para acionistas ou com a preocupação em continuar queimando combustível fóssil para a atmosfera com mais carros nas ruas. O único caminho possível é centrar esforços na mudança energética, mas para isso é necessário enfrentar a fome dos capitalistas. (por David Emanuel Coelho

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