sábado, 13 de maio de 2023

DE VOLTA AO PASSADO: LULA QUER AINDA MAIS CARROS NAS RUAS DO BRASIL

 


A
nova ideia de Jerico do governo Lula é dar subsídios bilionários para o setor automobilístico voltar a fabricar carros populares. Nova em termos, pois, como tudo em Lula 3, trata-se apenas da reprodução do que já é velho e ultrapassado. 

A ideia de carro popular foi lançada no começo do século XX por Henry Ford e visava alimentar o desenvolvimento industrial 2.0 dos EUA. O modelo produtivo associado acabou levando o nome de fordismo justamente em homenagem ao capitalista, representando uma evolução ao sistema industrial herdado da indústria 1.0 de origem inglesa. Ao invés de trabalhadores produzindo isoladamente toda a mercadoria, essa passaria a viajar ao longo de uma esteira, com cada trabalhador assumindo uma etapa produtiva. No caso, o carro, recém inventando à época, foi a mercadoria perfeita para o processo dada sua complexidade produtiva, com centenas de peças. 

Ford possuía a ambição de que cada estadunidense possuísse seu próprio automóvel, alimentando a indústria e fazendo explodir o consumo de tal produto. Daí aparecer verdadeiro culto ao carro, passando esse a ser associado ao American Way of Life, símbolo de independência pessoal e de prosperidade. No entanto, tal processo só foi possível às custas da ruína do transporte público, de despejar toneladas de poluição na atmosfera, de entupir ruas com milhões de veículos e de destruir o solo e as florestas. 

No Brasil, nas décadas de 1960-70, o mesmo fenômeno ocorreu na esteira da instalação no país da indústria automotiva estrangeira. O carrocentrismo se espraiou país afora com o governo construindo rodovias e expandindo malhas viárias nas cidades. Novamente, tais ações só foram possíveis ao custo da destruição ambiental - florestas inteiras eram destruídas para dar passagem às rodovias, cujas margens eram logo ocupadas por fazendeiros - e do transporte ferroviário, com a ruína de trens e bondes. 

O carro não está no congestionamento, ele é o
congestionamento!
 

O resultado de toda essa política de incentivo ao automóvel são congestionamentos monstruosos nas metrópoles brasileiras, deficiência crônica do sistema de transporte público e a asfixiante poluição atmosférica e sonora. Além do paradoxo de existirem pessoas com carro, mas sem garagem para coloca-los, pois não possuem moradia digna, tão pouco rede de esgoto. 

Por óbvio, dada a situação de calamidade do transporte coletivo brasileiro, o carro acaba se tornando uma necessidade. Contudo, tal calamidade de modo algum é fruto do acaso, mas um processo bem pensado pelos capitalistas brasileiros para induzir a compra dos automóveis e, assim, alimentar a coluna dorsal da indústria.

Em sua primeira passagem pelo governo, Lula fez explodir a frota de carros no Brasil, justamente com subsídios para a compra e para a produção, além de contar com o baixo custo produtivo à época, graças à valorização cambial. Sem a ajuda do câmbio, e com o setor automobilístico mudando sua matriz para os carros elétricos, Lula pretende apostar apenas no subsídio da indústria e em linha de crédito. Existe mesmo a proposta do FGTS ser dado como garantia para a compra do veículo, um absurdo incomensurável. 

Tal governo dito ambientalista vai na contramão do mundo ao incentivar a produção de carros, movidos a combustível fóssil, em detrimento do transporte público. Enquanto na Europa a malha ferroviária e o uso de meios alternativos de transporte é impulsionado, aqui aposta-se no passado. 

O transporte ferroviário foi sacrificado em prol
do automóvel. 

Por que não investir tais valores na ampliação do transporte público e mesmo na criação da Tarifa Zero? É aceitável um país com educação pública arruinada, com saúde deficitária, sem saneamento básico, sem moradia e com desemprego crônico ser um país de milhões de condutores?

Ao fim e ao cabo, a ação de Lula serve apenas para atender aos interesses da indústria automobilística e um setor muito pequeno do operariado industrial. Mais uma vez, o lulismo vai favorecendo soluções individuais, egoístas, para os problemas sociais, só não poderá depois se espantar quando os políticos do cada um por si novamente tomarem à frente da preferência popular. (por David Emanuel Coelho


Um comentário:

David Emanuel disse...

Pois é, Celso. Mostra o tamanho do buraco da "esquerda" brasileira, pois o melhor que ela consegue oferecer é um indivíduo ultrapassado e limitado. A esquerda deveria ser o luminar para o futuro, mas acaba se comportando como uma âncora para o passado.

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