Durante quase quatro horas conversei com a juventude animada e combativa de um bairro operário de Santo André, SP, no Centro de Cultura Social Vira-Lata Caramelo.
E percebi que há vida e há esperança fora do universo da política institucional e da esquerda que trocou a transformação em profundidade da sociedade pela obtenção de migalhas de poder coonestando as eleições de cartas marcadas da democracia burguesa.
Afora responder às perguntas sobre o que foi a luta armada nos anos de chumbo e como eram alguns dos seus principais personagens (aqueles que conheci pessoalmente), procurei dar uma ideia de como foi sacrificada a trajetória dos que pegamos em armas para resistir à tirania e ao terrorismo de estado.
É algo que relatos apologéticos e heroicistas escamoteiam, mas eu faço sempre questão de enfatizar, não para desestimular ninguém (longe disto!), mas para que as novas gerações saibam os horrores que eventualmente haverão de encarar; e, se adiante tiverem a mesma encruzilhada pela frente, façam uma opção consciente sobre o caminho que estão aptas a trilhar.
Tomei conhecimento:
— de que, minimizadas ou ignoradas pela grande imprensa, têm ocorrido escaramuças localizadas em vários pontos do território brasileiro; e
— que elas exercem um previsível fascínio sobre os esquerdistas que já não se conformam em apoiar Lula para barrar Bolsonaro e, indiretamente, acumpliciarem-se com o avassalamento ao centrão, que já detinha o poder antes e continua detendo hoje.
Lembrei que a organização brasileira mais capacitada para travar a luta armada em todos os tempos, a VPR, não conseguiu resistir à esmagadora superioridade em efetivos e recursos da repressão ditatorial.
Daquela vez, a luta armada ainda engatinhava, mas a assinatura do hediondo AI-5 a colocou de um momento para outro como a única possibilidade de combatermos efetivamente o arbítrio desembestado. E acabou sendo fatal deixarmos o inimigo escolher por nós o momento da batalha.
Então, a minha recomendação aos jovens companheiros de ideais é a de que concentrem seus melhores esforços em iniciativas para engajar mais contingentes na perspectiva anticapitalista, pois é fundamental forjarmos uma nova esquerda em substituição àquela que caducou; e de que evitem pacientemente provocar enfrentamentos em situações nos quais a correlação de forças nos seja desfavorável.
Mas, não a ponto de se dar a outra face quando agredido ou permanecer passivo quando baleado. Todos temos o direito de nos defender da violência bestial da extrema-direita com reação à altura dos ataques que estivermos sofrendo.
[Não devemos, contudo, ultrapassar tal medida, pois aí seria fazermos o jogo do inimigo, fornecendo-lhe valiosos trunfos propagandísticos.]
Afinal, estamos numa fase que, nos velhos tempos, qualificaríamos de defensiva estratégica. Na qual, repito, é de máxima importância levarmos sempre em conta a correlação de forças. (por Celso Lungaretti)
6 comentários:
Pode interessar:
https://www.ihu.unisinos.br/627553-alexandre-vannucchi-leme
https://www.ihu.unisinos.br/627563-democracias-politicas-ditaduras-economicas
https://www.ihu.unisinos.br/627573-o-consenso-de-washington-esta-morrendo
https://youtu.be/OwkMjSVHK0I
Gustavo Medeiros - Sementes de um novo mundo.
Será disponibilizado algum tipo de mídia aos interessados ?
Henrique,
Não houve gravação do evento.
Henrique, a situação lá não é tão tranquila e os organizadores avaliaram que os participantes sentir-se-iam mais seguros e à vontade se não fossem gravados nem identificados. Tudo bem que o objetivo foi alcançado: a conversa fluiu e todos tiveram respostas às suas dúvidas.
Boa noite Celso, tudo bem?
Parabéns, e espera-se que você possa
visitar outras cidades.
Abraço do Hebert.
Postar um comentário