Seria uma resposta legislativa aos atos denominados pela Rede Globo de terroristas do último dia 08 de janeiro. Segundo o notório político, a intenção seria alterar a cláusula da lei que excluí de punição atos relacionados a protestos por motivação política.
Curiosamente, tal mudança era desejo antigo de Jair Bolsonaro, certamente acalentando em seus sonhos a ambição nada secreta de enquadrar movimentos sociais e trabalhistas como sendo puro terror. Não tendo avançado antes, pode agora avançar sobre o patrocínio dos defensores da democracia.
O governo Lula, incapaz de combater efetivamente o bolsonarismo em sua base econômica, social e institucional, prefere ampliar a repressão reforçando o poder policial e judicial. Com isso, paradoxalmente, contribui para reforçar o poder da própria extrema-direita que tem no punitivismo estatal uma de suas maiores fontes de energia.
Nem de longe as invasões e depredações ocorridas em Brasília são atos de terrorismo. No Brasil, não há terrorismo organizado, ao não ser o do próprio Estado, pois como poderíamos denominar a ação, por exemplo, da PMRJ senão de terrorista, ao invadir comunidades do Rio e sair matando a esmo dezenas de indivíduos?
Por mais lamentáveis que sejam, atos de depredação não são terrorismo |
A Globo possui seus interesses em denominar os militantes bolsonaristas de terroristas porque ela vê mais longe. Para ela, bolsonaristas, black blocs, MST, grevistas, todos são essencialmente iguais, pois todos significam a desestabilização da ordem burguesa, não importando se tal vem da esquerda ou da direita. O discurso criminalizador é igual e todos são igualmente terroristas. O terror, no caso, é contra o regime capitalista.
O lulopetismo segue pela mesma lógica. Para ele, só contam os movimentos sociais domesticados, capazes de serem usados como correia de transmissão e de serem metamorfoseados em votos. Tudo o que saía disso, quebrando a ordem política, é também visto como ameaça. Tanto que a primeira vez que se falou seriamente na aprovação da lei antiterrorismo foi pela boca do senador Paulo Paim, após o trágico incidente que vitimou o cinegrafista da Band. O motivo parecia nobre, mas a intenção era outra: justamente no auge das manifestações de 2013-14, criminalizar os rebeldes sem causa que incendiavam o Brasil à época.
Até o momento, o governo Lula nada fez contra as altas lideranças militares e civis que retroalimentam o bolsonarismo, mesmo após a divulgação do grave fato de uma possível proteção do chefe do Exército aos manifestantes acampados em Brasília. Mas sempre é mais fácil capturar os peixes pequeno, ao invés de se digladiar com os tubarões.
O Brasil dispõe de um arsenal de leis punitivas e não é difícil enquadrar os eventuais crimes cometidos pelos bolsonaristas no estouro da boiada do dia oito em qualquer uma delas. Lei antiterrorismo e seu endurecimento servem apenas a cassar o restante de democracia neste país, já de resto subdemocrático. Deve-se combater a extrema direita com política e mobilização popular e não reforçando a repressão do Estado burguês.
Caso se concretizem tais mudanças, Lula terminará o que Dilma começou e, mais uma vez, a repressão brasileira ampliará seus instrumentos pelas mãos da dita esquerda. (por David Emanuel Coelho)
2 comentários:
https://www.ihu.unisinos.br/625578-eric-fromm-explica-a-atracao-dos-idosos-pelo-bolsonarismo
https://clubemilitar.org/artigo/os-4-erros-do-governo-da-imprensa-e-do-stf/
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