terça-feira, 6 de dezembro de 2022

LULA ASSUMIRÁ COM MÍNIMA MARGEM DE AÇÃO, PISANDO EM TERRENO MINADO – 1

dalton rosado
DITADURA BURGUESA, DEMOCRACIA
 BURGUESA E EMANCIPAÇÃO SOCIAL
Durante a recente eleição presidencial, diversas contestações foram disparadas da direita e da esquerda contra a minha posição de negar o voto a qualquer dos dois candidatos que disputaram o 2º turno.

Os eleitores do Boçalnaro, o ignaro não cansavam de repetir o mantra Lula é ladrão!.

Os do Lula diziam que eu estava levando água para o moinho dos adversários e que, mesmo sem querer, estava perpetuando e legitimando o fascismo.

Nos dois posicionamentos havia meias verdades. Mas, como toda meia verdade é uma mentira inteira, ambos implicitavam  não uma alternativa, mas sim uma falsa dicotomia.

Os arremedos de argumentações que pontificaram em quase todo o processo eleitoral ignoram uma questão central que não quer calar: será que não temos outras opções além de ditadura burguesa x democracia idem?

Sabemos que as ditaduras totalitárias representam a supremacia da vontade de alguns pretensos iluminados que decidem o que é certo e o que é errado arbitrariamente, sempre em benefício de uma casta social que as bajula e apoia em troca dos benefícios a receber.

Sob tais regimes de força, costumam ocorrer injustiças sociais e pessoais sem que os prejudicados tenham a quem recorrer: a própria máquina judiciária se submete à força bruta e mesmo o direito burguês é vilipendiado em nome de interesses escusos.

Os
patri(di)otas que hoje clamam por uma intervenção militar em nome de uma falsa democracia, dividem-se em dois grupos:
1. os que auferem vantagens e privilégios econômicos da ordem burguesa e querem mantê-los ditatorialmente sem questionamentos; e
2. os que são iludidos com cantilenas fracassadas mundo afora de que a ordem e a disciplina militares são contributos para o prosperidade social linear e que todos os problemas sociais decorrem da corrupção com o dinheiro público.

Os primeiros são conscientes dos seus interesses, e geralmente não tomam chuva nem sol, apenas financiam e manipulam à distância o movimento fascista (alguns dão opiniões golpistas pelas redes sociais e vão para resorts caros desfrutar o dinheiro arrecadado dos crédulos seguidores. 

Outros vão ao Catar alegadamente para levar pen drives e, já que estão lá, assistem aos jogos da Copa. 

E há ainda os que mandam caminhões e pneus velhos para serem queimados nos bloqueios de estradas, com quaisquer birutas lhes prestando continência e cantando o Hino Nacional.

Já os iludidos pela retórica de picaretas como Steve Bannon e Olavo de Carvalho não passam de inocentes úteis. Engrossam o cordão histórico dos que são gratos ao imperador por proporcionar-lhes pão e circo, ainda que escravizados. São mais vítimas do que algozes, ainda que aplaudam estes últimos.
As ditaduras burguesas são assim consideradas porque mantêm com mão de ferro as categorias capitalistas. 

E fracassam porque uma das regras fundamentais do capitalismo é a produção de mercadorias para serem vendidas no mercado;  quando há manipulação de resultados (custos de produção e privilégios monopolistas na guerra concorrencial de mercado), tudo termina mais rapidamente em desastre, com muitos mortos por não obedeceram aos que lhes é imposto.

As democracias burguesas são assim consideradas pela descentralização republicana de poderes do Estado e se subdividem em liberais clássicas, com o Estado mínimo; e keynesianas, com Estado forte e intervencionista, mas servindo como estímulo à economia de mercado na vã pretensão de tornar o capitalismo bonzinho. Desconhecem (ou optam por conscientemente desconhecer) a natureza subtrativa e egocêntrica do próprio capital e seu caráter onívoro.

Em ambos os modelos o que prepondera é o poder econômico.

No primeiro caso o Estado fica centrado nas mãos de políticos totalitários mancomunados com empresários capitalistas estatais ou privados e força militar, mas todos submissos às ordens emanadas do próprio capital, o Deus que cultuam.

No segundo caso, o Estado cumpre função precípua de regulamentação política e de indução do capital em nome da tão repetida e almejada volta do desenvolvimento econômico, que nunca foi nem jamais será linear, e que agora, como nunca, está cada vez mais difícil de ser conseguida, mesmo para os países que se situam no topo do mundo econômico.

Traduzindo: as ditaduras burguesas e as democracias burguesas são espécies de um mesmo gênero: a relação social capitalista. O socialismo é apenas a versão keynesiana do capital, traduzido como Estado forte, leviatânico, que nunca pode ser confundido com o ideal comunista jamais experimentado.

As tentativas de socialismo como forma de transição para o comunismo floparam graças à preservação das categorias capitalistas que, após as revoluções marxista-leninistas, continuaram servindo de mediação para a relação social sob a forma-valor: foram cada vez mais desenvolvidas, ao invés de terem sido paulatinamente negadas.

Os contra-argumentos fraternalmente usados por companheiros meus por conta da minha negação do voto nas eleições de 2022 no Brasil, geralmente se circunscrevem, resumidamente, ao exemplo clássico segundo o qual para se atingir o topo da escadaria à pé é necessário subir degrau por degrau.

Como eu me nego a repetir o mito de Sísifo, prefiro trilhar outro caminho para atingir o topo da montanha. (por Dalton Rosado – continua neste post)
Outra composição do Dalton interpretada pela Graça Santos

2 comentários:

SF disse...

Dalton, sei que você avisa que continuará... mas está falando muito difícil.

Os caras pretendem repetir o que o cão sarnento fez em 84. Veja-se que, na justificativa da PEC do estouro, citam a MMT (Moderna Teoria Monetária).

Hiperinflação a vista!

Quem puder que saia deste feudo.

***

Obviamente, não será tão fácil repetir a tragédia de 84 - 94 em que pese a irresponsabilidade monetária congênita da tirania atualmente no poder.

A camarilha vai dar com os burros n'água, pois implantar um projeto keynesiano exige desinformação maciça, ao invés da simples assimetria de informação comumente usada.

***

Por certo, ressalto sua interpretação do valor (inexistente) na forma-valor e o prognóstico de que toda esta elite fiduciária já está no lixo da história.

Mas, enquanto o cheque-mate não é dado, temos que ir vivendo neste sistema falido e putrefato.

Fazendo de conta que existe valor nele ou algo a ser feito para evitar a derrocada.

***

celsolungaretti disse...

Caro SF,

a emissão de moeda sem valor é a causa do aumento mundial da inflação. Mesmo nos países de moeda dita fortes (mas que como moedas meramente fiduciárias já estão podres), internacionais, que são exportadas como qualquer papel fiduciário que todos aceitam negociar, a coisa extrapolou o limite do razoável e a inflação bateu na porta deles também.

Os países de moedas fracas, regionais, como o Brasil, sofrem porque não podem emitir suas moedas sob pena de causar a hiperinflação e são obrigados a cumprir o teto de gastos nos seus orçamentos públicos contábeis e vivem o dilema de cortar gastos com demandas sociais (educação, saúde, segurança pública, onbras urbanas e infraestruturas sociais como energia, abastecimento água, pavimentação de ruas, proteção contra alagamentos, etc.) para manter os custos fixos do Estado (custeio da máquina administrativa dos três poderes e militar, pagamento de juros da dívida pública e custeio do déficit da previdência social, entre outros).

É uma camisa de força com a qual Lula vai se deparar sem solução com os mecanismos capitalistas que dispõe e contra os quais se sabe que não tem topete para contrariar.

É por isso que a direita vai deitar e rolar fazendo uma oposição poderosa no parlamento recheado de conservadores e a população insatisfeita com as dificuldades que certamente virão pode aderir e dificultar o seu governo.

Vamos aguardar.

Um abração, Dalton Rosado.

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