O propósito, contudo, não é o de fazê-los sensacionalistas como os da imprensa marrom ou dos jornais de crimes. Jamais abro mão do rigor da informação.
Busco, contudo, um ponto intermediário entre conteúdos sérios e opções técnicas para torná-los atraentes aos olhos de leitores porventura não muito interessados nos assuntos abordados.
Então, quando esta foi uma das primeiras páginas virtuais e noticiar e dar uma interpretação básica da vitória do Lula, optei pela manchete O brasil suspira aliviado: o bolsonarismo está morto! (vide aqui). E ilustrei com uma foto do Christopher Lee no papel de Drácula, debatendo-se com uma estaca cravada no peito.
Houve contestações, na linha de que a derrota do Bolsonaro não extinguiria o bolsonarismo. Mas, os fatos vieram imediatamente me dar razão.
Por que o chamamos de bolsonarismo, e não de ultradireitismo? Porque não é apenas a versão cabocla do extremismo de direita internacional, cujo principal teórico é Steve Bannon. Trata-se de uma avacalhação adicional do que, em si, já era tosco e avacalhado.
Jair Bolsonaro nem fascista de verdade chega a ser. Não passa de um indivíduo medíocre e cheio de problemas mentais que, depois de ser escorraçado das Forças Armadas por causa de suas maluquices (como o plano de explodir um reservatório de água no RJ), resolver levar vida mansa na política, vocalizando o ódio dos piores seres humanos e sendo representante legislativo de milicianos e dos escalões militares inferiores.
Misoginia, misantropia, racismo, homofobia, desprezo pelos indígenas, anticomunismo anacrônico, devoção pelos carrascos do terrorismo de Estado, todos esses ingredientes entraram na composição de um personagem odioso, mas que dava vazão à hostilidade reprimida de gente (?) suficiente para reelegê-lo até o fim da vida, oportunizando-lhe, ademais, a obtenção de ganhos extras com rachadinhas e outras ilegalidades.
Quando a presidência da República lhe caiu circunstancialmente no colo, fez o que os autoritários costumam fazer: negou-se a arquivar essas esquisitices de políticos bizarros e insignificantes, pois elas eram lembradas pela imprensa e o deslumbrado Bolsonaro passou a ver-se realmente como um mito. Insistiu em dar murros em ponta de faca porque, em seus delírios de anormal, era um mito de verdade. Pobre imbecil!
Mas, líderes da extrema-direita sem coragem de ir às últimas consequências têm vida curta no movimento. E o Bolsonaro se desmoralizou diante do núcleo duro de seus seguidores um sem-número de vezes, principalmente nos golpes que agendou para os dois últimos dias da Pátria, refugando vergonhosamente na Hora H (com o agravante de, em 2021, ter ido buscar socorro no colo do tio Temer, como um fedelho apavorado).
E chegamos às palhaçadas atuais, com a Polícia Rodoviária Federal primeiramente utilizada para atrapalhar e chegada dos eleitores aos locais de votação, depois para facilitar a obstrução de vias públicas por parte de caminhoneiros aloprados.
Fracassado o plano infalível nº 1, de tentar maximizar a abstenção na esperança de assim evitar a derrota nas urnas, acionou o nº 2, de criar um tamanho tumulto que as Forças Armadas fossem chamadas a intervir.
[Acreditava que o fariam em seu benefício, sem atentar para que jamais em nossa História os militares viraram a mesa em benefício de tenentes furrecos que ascenderam a capitães ao serem forçados a dar baixa. Eles só se envolvem em tais tramoias quando se trata de empossar generais.]
Quis, para se preservar, parecer suficientemente distante do caos nas marginais e rodovias. Não vai adiantar: Deus e o mundo sabem de quem era a mão que balançava o berço.
E, ficando com um pé no golpe e outro pé na inocência fingida, não conseguiu atrair os apoios que pretendia para os caminhoneiros, enquanto Lula era reconhecido como presidente a todo vapor pelos poderosos daqui e do exterior.
Depois de perder mais esta parada, Bolsonaro se tornou definitivamente uma figura desprezível para aqueles que cultuam a força, a imponência e o destemor. Na sua reaglutinação, é inevitável que a extrema-direita troque de líder, livrando-se desse campeão absoluto de rejeição em todos os tempos.
E a infestação brasileira dessa praga internacional deverá receber um nome derivado do de seu sucessor, a menos que a vaga seja preenchida pelo Carlos Bolsonaro. Embora pareça pouco provável, é uma possibilidade que não pode ser desde já descartada.
Caso contrário, o termo bolsonarismo deverá ser arquivado para sempre, pois evoca as idiossincrasias tóxicas do Jair, começando pelo ódio às mulheres, que deve remontar a alguma brochada do passado, mas se constitui na suprema estupidez para qualquer político.
Tratar a pontapés mais da metade do eleitorado é coisa de jerico! (por Celso Lungaretti)
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