Estive neste domingo na convenção nacional do PSTU, que oficializou a escolha dos candidatos para as eleições 2022.
É sempre gratificante para um veterano de tantas jornadas ver a empolgação da moçada, naquela fase em que a militância revolucionária ainda é puro deleite. Fez-me lembrar 1967 e 1968, quando eu era igualmente otimista e ingênuo; a partir de 1969, contudo, o mar de rosas se tornou um oceano tempestuoso.
Para aquilatarmos a extrema disparidade de forças entre o poder de fogo dos grandes e dos pequenos partidos, que a cláusula de barreira só faz aumentar, os limites de gastos de campanha (que também foram homologados na convenção) são de R$ 2 milhões para o pleito presidencial; R$ 1 milhão cada para os do Senado e Câmara Federal; e R$ 800 mil para o dos legislativos estaduais.
Democracia? A ditadura militar, ao impor o bipartidarismo na marra, era menos cínica.
Vera Lúcia, a operária sapateira que concorre à presidência da República, tem presença simpática e carismática, irradiando convicção e honestidade por todos os poros.
Mas, faria bem se assistisse ou ouvisse gravações de um Leonel Brizola, p. ex., para perceber que num discurso devemos alternar volumes, subindo para ressaltar os trechos mais importantes, o que funciona como um convite para os aplausos.
Mantendo sua fala lá em cima o tempo todo e não dando brechas, o público tinha até dificuldade para encontrar o momento certo para encaixar seus aplausos.
Só que é o orador que deve propiciar tal momento, inclusive com deixas tipo É isto que queremos para o Brasil? Não, mil vezes não!, seguidas de uma pausa para respirar...
E convém não deixar-se ao acaso quais trechos devem ser cobertos de aplausos, escolhendo-os previamente: são aqueles que o(a) candidato(a) quer ver destacados na cobertura de jornais, rádios e tevês.
Enfim, a sinceridade (que ela tem de sobra e da qual os políticos profissionais quase todos são carentes) constitui um bom começo, mas há alguns detalhes do ofício que lhe seria útil incorporar.
Soaram como música para meus ouvidos os discursos corajosamente socialistas, sem medo de afugentar eleitores.
É óbvio que o PSTU enxerga a eleição presidencial e as demais de outubro como as forças realmente de esquerda devem considerar todas as eleições: não passam de oportunidade tática para acumulação de forças rumo ao objetivo estratégico de transformação em profundidade da sociedade.
Foi a obsessão por migalhas de poder dentro da democracia burguesa que conduziu à domesticação o PCB, PTB, PMDB, PSDB, PT, Psol e tantos outros.
Como os princípios fundamentais foram por eles esquecidos e hoje são amplamente ignorados, teremos de voltar ao bê-a-bá antes de partirmos para os posicionamentos mais sofisticados (como a opção por metas atingíveis num mandato presidencial com as limitações atuais, pois o povo perderá a confiança em nós se, como todos os partidos da direita, do centro e da esquerda desvirtuada, prometermos o que é impossível entregar dentro do capitalismo).
Então, deixando de lado algumas questões que por enquanto não são fundamentais, eu apenas recomendaria um posicionamento claro e incisivo em favor da substituição dos combustíveis fósseis pela energia limpa, ou seja, exatamente o contrário do que o Lula prega, ao prometer sanear e expandir (!!!) a Petrobrás, o que soa para cidadãos comuns como uma ameaça de mais e maiores petrolões.
Aí já se trata de um divisor de águas entre a esquerda que caducou no século passado, impregnada da ideologia burguesa a ponto de aceitar contribuir para a destruição da espécie humana se isto trouxer ganhos econômicos imediatos, e a esquerda do século 21, comprometida com a preservação da vida acima de tudo.
Grana para aquecer a economia se obteria muito mais, p. ex., com uma adequada taxação dos bancos e das grandes fortunas, pois a atual é um acinte num país onde a fome e a miséria há muito extrapolaram quaisquer limites minimamente aceitáveis. (por Celso Lungaretti)
2 comentários:
Do 'Sensacionalista'
Sensacionalista entrevista Lula
31/07/2022 11h50 Atualizado 31/07/2022
Na quarta e última edição de entrevistas fictícias com os principais candidatos à Presidência da República, o Sensacionalista se sentou com o líder das pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva. Falamos com ele não em sua casa, mas na casa de um amigo.
P O senhor está com as pernas grossas. Tem malhado muito?
R Não passo um dia sem malhar o Ciro, a Marina e qualquer um de esquerda que não queira me consagrar logo por aclamação.
P Falando nisso, existe esquerda fora do PT?
R Claro. É só você me disser onde está que a gente vai lá e acaba com ela.
P Seu casamento vai bem?
R Pra quem sempre troca aliança com o MDB, com a Janja tá fácil.
P O senhor é acusado de saber dos desvios da Petrobras, do Mensalão e...
R Desculpe roubar sua palavra, mas nunca roubei nada na vida. Não existe uma alma viva mais honesta que eu.
P Como evitar o clima de "já ganhou?" Alguns políticos acusam o senhor de arrogância.
R Olha, o Lula tem muitas qualidades, mas o Lula tem um defeito: é humilde demais. Então o Lula não pode entrar nessa de já ganhou. Porque além de ser humilde, o Lula não descansa.
P O senhor é religioso? Conversa com Deus?
R Claro! Ele sempre me pede conselhos. Dependendo da agenda, atendo.
P O senhor acha que houve pedalada?
R Não falo de pedalada nem de pedalinho.
P O que fazer pra diminuir o preço dos combustíveis?
R Quando eu era menino lá em Guaranhus, saímos eu, o pipoco, o barriga de cobra, o leleco, o Alfredinho, o Juliano boca de sapo, a gente acordava 4h da manha, já ia cortar cana, a gente saía no carrinho de Rolimã, quem fez foi o pai do Celso Siri, que tinha uma oficina... sobre o que era a pergunta mesmo?
P O senhor não acha que precisa fazer um mea culpa?
R Vamos fazer. Vamos lançar o Minha Casa, Mea Culpa.
Anônimo das 11h50,
engraçado até que está. Mas, há um porém.
Desta vez não quis cortar seu barato, mas da próxima, por favor, dê apenas o link se, como é o caso do jornal Sensacionalista, for um texto que está on line e pode ser acesso gratuitamente por qualquer interessado.
Desse jeito que vc fez, fica um pouco forçação de barra. E haverá até uma brecha para pessoas promoverem veladamente seus produtos, driblando nossa política de rejeitar publicidade.
Abs!
Postar um comentário