quarta-feira, 27 de julho de 2022

OS PRESBITERIANOS DO BRASIL SE IDENTIFICAM TAMBÉM COM O USTRA?

rui martins
OS AUTOS DE FÉ DA IGREJA PRESBITERIANA BOLSONARISTA
Q
uem levantou a lebre foi o jornalista Daniel Weterman, com seu texto no Estadão (acesse-o aqui). E a repercussão incomodou os donos da empresa citada (podemos dizer assim ou seria melhor chamá-la de partido político?).

Aliás, falando nos evangélicos, implesmente me surpreendo por quando leio comentários sobre a situação política atual, quase nunca encontrar uma referência aos enrustidos responsáveis por termos chegado onde chegamos.

Embora claramente escondidos nas boas análises políticas,eles formam o grupo de um terço ou, se quiserem, 30% dos eleitores que decidiram as eleições em 2018 e ainda hoje permanecem fiéis ao presidente de extrema-direita, apesar de sua imagem de nazifascista como consequência duas afirmações racistas, homofóbicas, golpistas e favoráveis à tortura que profere, bem como por facilitar a compra de armas e assim contribuir para o aumento da criminalidade no Brasil, entre outros males.

A expansão da religião dita evangélica no Brasil  tornou-se hoje um sério tema de sociologia a ser estudado. Não pela sua doutrina, pelos seus catecismos, suas crenças, nem por ser importada dos EUA, mas por ter se tornado um instrumento político de dominação.

Enquanto nos EUA são os brancos que comandam a extrema-direita supremacista, Bannon e Trump se servem do presidente Bolsonaro para criar e propagar uma versão de extrema-direita cabocla pobre e negra, servindo-se de uma versão evangélica fundamentalista, conformista, sem reformas sociais, mas com muitas promessas para depois da morte.

Daí a importância da denúncia de Weterman quanto à uma depuração de seus membros planejada pela direção da Igreja Presbiteriana do Brasil. O assunto era interno, a limpeza seria discreta e ninguém de fora ficaria sabendo, como não ficaram sabendo nos anos de chumbo dos inquéritos dentro dos seminários e igrejas presbiterianas (também em outras denominações protestantes) com expulsões e demissões.

"A cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil está fechada com Bolsonaro. Nesta reportagem, no Estadão, o relatório da instituição para afastar os cristãos da esquerda", anunciava Daniel no seu post, cujo título era 
Igreja Presbiteriana do Brasil tenta barrar esquerda e abre púlpitos para Bolsonaro

Mais: eocumento interno recomenda que os pastores orientem seus fiéis para se afastarem da nefasta influência do pensamento da esquerda.

O pastor presbiteriano de Curitiba, Osni Ferreira, foi dos primeiros a aderir à caçada que lembra os autos de fé da Inquisição, publicando um vídeo no Youtube, Nós temos que reeleger Bolsonaro

Logo depois, no Twitter, Andrade Negro respondia: "O Partido Presbiteriano do Brasil fez strip-tease no púlpito, tirou as vestes de igreja e assumiu sua face de agremiação de extrema-direita". 

E Reinaldo Azevedo, na Bandeirantes, cobrou coerência da IPB: se decidiu tornar-se partido político, deveria abrir mão das isenções de impostos que a beneficiam..

O pastor presidente do supremo concílio da IPB, Roberto Brasileiro, tentou, no dia seguinte à publicação, se explicar, diante da má repercussão da notícia de que se criara uma comissão destinada a expurgar os hereges de hoje, quais sejam os crentes com tendência de esquerda.

Embora comunista e comunismo não estejam mais no vocabulário político atual, os pastores presbiterianos assim qualificam quem tem simpatia por ideias sociais, requentando a velha conversa da ameaça comunista. 
Fé demais não cheira bem... 
A partir de uma montagem manipulatória do vídeo de uma velha entrevista do Lula na China, amedrontam seus seguidores com a mentira de que, sendo eleito fechará, ele destruirá as igrejas. E por falta de cultura e de informação, muitos crentes evangélicos e presbiterianos acreditam.

Ainda com o mesmo objetivo de justificar os autos de fé nas igrejas presbiterianas, a Associação Nacional de Juristas Evangélicos divulgou um parecer no qual mistura liberdade religiosa com laicidade, querendo que é normal se posicionar quanto a certas doutrinas.

Mas, não é normal querer criar uma triagem entre seus membros e seguidores, justamente sobre comunismo e pensamento de esquerda num momento político eleitoral cujas palavras de ordem bolsonaristas são justamente essas, de condenar comunismo e esquerda.

Há também muita ignorância e má fé nessa iniciativa inusitada, pois nos países europeus de origem dos movimentos da Reforma, grande parte dos pastores teólogos atuais não escondem serem de esquerda, principalmente por condenarem as desigualdades sociais criadas pelo capitalismo. 

A origem dessas propostas de limpeza dentro das igrejas presbiterianas brasileiras está no movimento supremacista branco estadunidense.

Até o próximo domingo (31), a direção da IPB estará reunida em Cuiabá, MT, com representantes de seus diversos sínodos e, entre os temas a serem discutidos, existe um relatório sobre a atitude a ser tomada quanto aos seus membros com tendência política de esquerda ou suspeitos de serem de esquerda, designados como comunistas.

Uma cumplicidade escrita nas estrelas...
Segundo a proposta, os pastores e presbíteros deverão tentar convencer esses membros a mudarem de ideia e se tornarem politicamente de direita e eleitores do Bolsonaro. Caso não levem a sério, o passo seguinte será a admoestação. E se persistirem no chamado mau caminho, deverão ser desligados da igreja ou expulsos.

Os primeiros visados são os que ocupam posição de influência dentro da igreja, como diáconos e presbíteros, mas principalmente professores de
Escola Dominical. Trata-se de uma tradição das igrejas protestantes, pela qual em todo domingo, antes do culto, os membros da igreja são divididos em classes de crianças, jovens, senhores e senhoras, para estudarem temas bíblicos com professores voluntários. também membros das igrejas.

O Supremo Concílio da IPB, que não tomou nenhuma medida, quando do escândalo de corrupção envolvendo o pastor Milton Ribeiro, não esconde sua adesão ao Bolsonaro, retribuindo assim a política do dito cujo, que tem favorecido evangélicos e, principalmente, presbiterianos.

Além do Ribeiro, o último ministro do STF indicado por Bolsonaro, André Mendonça. é jurista e também pastor presbiteriano. Para compensar a perda do emprego de ministro da Educação, o Instituto Mackenzie, criado pela IPB, já teria oferecido um posto de direção ao Ribeiro, segundo informações da imprensa.

Essa intervenção da IPB na política, imitando a ala conservadora, retrógrada e fundamentalista das congêneres estadunidenses, não é nova. A direção da IPB apoiou o golpe de 64 e o governo militar até 1985, e criou uma espécie de inquérito policial militar dentro das igrejas, demitindo pastores e seminaristas de esquerda ou suspeitos de esquerda.
 
Paulo Wright foi assassinado no DOI-Codi
Foi nessa época, 1973, que mataram no DOI-Codi, o ex-deputado catarinense Paulo Stuart Wright, egresso da Ação Popular, que por ironia do destino, era filho de pastores presbiterianos missionários estadunidenses em SC.

Seu irmão, James Wright, era pastor, tendo sido desligado e demitido da IPB durante o auto de fé ou inquérito político nela criado pelo presidente do Supremo concílio da época, Boanerges Ribeiro,

O Brasil, segundo a Constituição é um país laico, mas o governo Bolsonaro tem desrespeitado tal princípio. 

A IPB deixa também de ser uma igreja devotada a Deus para apoiar um presidente nada cristão, que está estimulando a compra de armas pelo povo, justifica e elogia torturadores, além de promover a destruição da Amazônia.

No dia 11 de agosto, a sociedade civil divulgará um documento, Carta às/brasileiras/e aos brasileiros, (mais sobre ele aqui) contra o golpe planejado. A IPB, assim como as evangélicas, ficará de fora e, num futuro próximo, isto terá um preço em termos de perda da credibilidade.

Ao promover a campanha pela reeleição do ultradireitista Bolsonaro, os líderes presbiterianos dão as costas aos princípios básicos da Reforma. 

É bom lembrar que as igrejas e suas instituições estão livres do pagamento de impostos; e que a IPB, especificamente, é uma igreja de importação estrangeira que, junto com as demais evangélicas, com seus gospels e tradições transplantadas dos EUA para cá, está atentando contra a cultura brasileira. (por Rui Martins)

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