dalton rosado
O CAPITAL PERDEU A VIABILIDADE. IDEM, A SUA GOVERNABILIDADE.
Quando um modelo de relação social se torna inviável ou é superado pela ação consciente dos seres humanos, pode ainda se manter indefinidamente, mas com altos custos sociais, num processo de destrutibilidade social e ecológica e autodestruição da própria forma. Ambas as opções se dão pela força.
Hoje vivemos, mundo afora, a realidade de colapso do capital em processo acelerado, sendo esta a explicação mais evidente para a existência de guerras localizadas nas quais as grandes potências militares e econômicas (mesmo que, agônicas, estejam sendo sustentadas por aparelhos) testam a eficácia dos seus ridículos poderios.
Boçalnaro, o ignaro, ainda que esteja no poder político, deseja o autogolpe para governar sem os freios do republicanismo burguês e, assim, permanecer indefinidamente destruindo seu país, tal qual outros déspotas alhures (seu congênere russo que o diga).
Mas ele tem algumas pedras no caminho, como diria Drummond: a insatisfação social gerada pela inflação, o desemprego, a queda da renda e a ineficácia do atendimento pelo Estado das demandas sociais básicas. E são elas que mais diretamente influenciam os humores da população.
Não nos iludamos: entre perder os anéis para conservar os dedos ou perder a própria mão, que é o que está na ordem do dia, ele e sua turma partirão para a manutenção da relação social capitalista pela força e a nós nos cabe a resistência, desde antes, agora e no futuro.
O poder econômico somente aceita as regras da democracia burguesa enquanto ela serve aos seus interesses de manutenção dos lucros e privilégios. Caso seja necessário o uso da força para tal intento, ele não hesitará em se aliar à truculência.
Lula se equivoca ao acreditar numa convivência harmônica entre o capital decadente e as relações de trabalho capitalistas em fim de feira.
Não se apercebe de que a marolinha está se transformando num tsunami e seu provável governo enfrentará as dificuldades próprias de um mundo em depressão e sem a coragem de promover qualquer ruptura. É exatamente isto que o faz ser aceito pela elite política e econômica, a qual não hesitará em depô-lo mais tarde, caso isto se faça necessário.
Lula governará, se tal ocorrer, num Brasil particularmente depauperado graças à insanidade e incompetência de um sargentão primário (que me perdoem os sargentos) e um programa econômico de governo que, de forma contraditória oscila entre o liberalismo clássico e um nacionalismo obsoleto, aliado a uma prática de milicianos da pior escola do Rio de Janeiro.
Ele, tal como Boçalnaro, é nacionalista e estatizante (a exemplo dos militares de 1964/85, que criaram inúmeras empresas estatais e só privatizaram a Panair do Brasil, de saudosa memória); ambos acreditam na eternidade do capitalismo.
São identidades de quem gosta de modo acrítico do poder político burguês, com diferenciações cosméticas de governança:
— um com senso humanista e populista démodée, o outro de olho nas formas truculentas de acesso a este mesmo poder caso perca sua popularidade construída sobre mentiras e desespero social;
— um com o projeto internacionalmente falido da socialdemocracia, o outro apostando no militarismo truculento e irracional do qual se origina.
A contraditória fórmula do governo atual já mostrou a que veio o genocida. Nacionalista, contraria o liberalismo clássico de Milton Friedman, do qual Paulo Guedes é discípulo e que anunciava mais Brasil e menos Brasília, lembram-se?
Esta é a razão pela qual não houve privatização no governo que aí está, e que anuncia uma pra inglês ver, a da Petrobrás, no apagar das luzes. Mas Paulo Guedes, obediente à elite econômica nacional e num oportunismo barato de apego ao cargo, tudo aceita.
Assim, de contradição em contradição, o quadro piora cada vez mais:
— vemos voltar a inflação de dois dígitos que consome a parca renda dos que ainda estão empregados; e
— é gravíssimo (para a lógica do capital e para a vida social sob sua égide) o renitente índice elevado de desemprego, confirmando a tese de que se trata de uma questão estrutural no capitalismo cibernético e robotizado.
De quebra, assistimos à volta da covid como uma interminável praga dos tempos ditos modernos. (por Dalton Rosado – continua neste post)
Lembrando os protestos de nove anos atrás, com letra de Celso
Lungaretti, música do Dalton Rosado e interpretação do Gomes Brasil.
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