quinta-feira, 16 de junho de 2022

É PAPEL DA ESQUERDA GERIR O CAPITALISMO AGÔNICO E SEU ESTADO FALIDO? – 2

(continuação deste post)
N
este contexto, governar o Estado sob as regras constitucionais preestabelecidas é administrar o caos e, o que é pior, sem os mecanismos monetários dos países dominantes, os quais não são facultados aos países da periferia capitalista como o Brasil (emissão de moeda forte, juros altos da dívida pública), vivendo, ademais, da exportação de commodities primárias baratas).  

Pergunto-me: é papel da esquerda, por mero temor da continuidade de governos de direita que se alternam ciclicamente no poder político em razão da insatisfação popular igualmente cíclica, limitar-se a atuar tão somente como o oposto daqueles sob as regras da democracia burguesa, abdicando de superá-la e eternizando o atual pêndulo da ineficácia,  pois, com isto, fica postergada para as calendas gregas a necessária discussão sobre a essência de uma relação social que se tornou obsoleta?

Dito de forma mais direta, é papel da esquerda administrar o capitalismo e seu Estado falido, que já não pode prover minimente as demandas sociais básicas, em nome do abrandamento do mal maior representado pela insensibilidade social conservadora? 

A fome num lar de desempregados em país capitalista causa a mesmíssima dor, quaisquer que sejam a ideologia e boas ou más intenções do governante que atue sob sua lógica subtrativa e segregacionista! 
Algumas questões são impossíveis de serem equacionadas sob o império do capital, e qualquer candidato que se proponha a governar sob tais regramentos, não resolverá nossos problemas.

Vou elencar algumas questões irresolúveis sob a égide do capital: 
— continuaremos pagando juros cada vez maiores de uma dívida pública que consome valores anuais maiores do que o déficit da nossa previdência social? E e se não pagarmos os juros, conseguiremos enfrentar a retaliação do sistema financeiro mundial de crédito?
— seguiremos vendendo os alimentos que produzimos por preços bem inferiores aos manufaturados que importamos? E mesmo tendo mais gado do que gente, continuaremos sem poder comer carne?
— como enfrentaremos o problema da inflação e do desemprego renitente, sem superarmos o própria lógica do trabalho abstrato (que se tornou obsoleto na sua maior parte)?
— taxaremos o lucro dos bancos e das grandes empresas, sem que com isto provoquemos uma evasão de capitais em busca de países que deem tratamento mais generoso ao confisco de tais receitas escorchantes?
— como enfrentaremos a redução de direitos trabalhistas e dos próprios salários num contexto de concorrência mundial de mercado regido pela lei da oferta e da procura, segundo a qual quem produz mais, melhor, e a preços menores ganha a guerra (como é o caso da China e seus salários de fome)? 
— como enfrentaremos o déficit previdenciário crescente com o desemprego renitente e os crescentes números de trabalhos informais, sem registro, que são cada vez mais frequentes e representam uma saída paliativa ineficaz para um problema estrutural?
— como lograremos a pretendida (por todos os partidos da institucionalidade) retomada do desenvolvimento econômico nacional, se é o próprio capitalismo mundial que está depressivo e sem volta? 
— como conciliaremos os interesses divergentes entre países que disputam a prevalência de seus interesses econômicos de mercado, mesmo no interior dos blocos continentais que se formam para fazer face à disputa por hegemonias continentais mundo afora? 
— evitaremos a emissão de CO² na atmosfera sob a égide do capital, que contraria a possibilidade de convivência harmoniosa e ecologicamente sustentável entre os seres humanos? 
— saberemos superar os mesquinhos interesses corporativos e elitistas, de forma a encaminharmo-nos para a construção coletiva do bem estar de todos, sem as competições fratricidas? 

Muitas outras questões são irresolúveis sob o capital decadente e sem volta. Qualquer governante que assuma o comando politico-administrativo do país não terá instrumentos eficazes de enfrentamento das questões estruturais, pois estas exigem a superação dos próprios fundamentos capitalistas que são formatadores de tal situação. 

A pergunta que não quer calar é a seguinte: saberemos superar o modelo atual e usarmos todos os benefícios da tecnologia em nosso favor, de forma a evitarmos o colapso econômico e ecológico que se prenuncia?

Ou teremos apenas mais uma eleição incapaz de promover as necessárias e urgentes mudanças? 

Veremos apenas desfilarem as mais falaciosas promessas de governos incapazes de consecuções práticas, porque ancoradas no modelo agonizante no qual ainda estamos enquadrados? 

Será a ditadura conservadora capaz de alterar tal conjuntura? 

As respostas a estas questões, sem tergiversações,  ora  estão  na  ordem  do  dia! (por Dalton Rosado)

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