quarta-feira, 15 de junho de 2022

É PAPEL DA ESQUERDA GERIR O CAPITALISMO AGÔNICO E SEU ESTADO FALIDO? – 1

dalton rosado
O CAPITAL PERDEU A VIABILIDADE. IDEM, A SUA  GOVERNABILIDADE.
Q
uando um modelo de relação social se torna inviável ou é superado pela ação consciente dos seres humanos, pode ainda se manter indefinidamente, mas com altos custos sociais, num processo de destrutibilidade social e ecológica e autodestruição da própria forma. Ambas as opções se dão pela força. 

Hoje vivemos, mundo afora, a realidade de colapso do capital em processo acelerado, sendo esta a explicação mais evidente para a existência de guerras localizadas nas quais as grandes potências militares e econômicas (mesmo que, agônicas, estejam sendo sustentadas por aparelhos) testam a eficácia dos seus ridículos poderios. 

Boçalnaro, o ignaro, ainda que esteja no poder político, deseja o autogolpe para governar sem os freios do republicanismo burguês e, assim, permanecer indefinidamente destruindo seu país, tal qual outros déspotas alhures (seu congênere russo que o diga).  

Mas ele tem algumas pedras no caminho, como diria Drummond: a insatisfação social gerada pela inflação, o desemprego, a queda da renda e a ineficácia do atendimento pelo Estado das demandas sociais básicas. E são elas que mais diretamente influenciam os humores da população.
  
Não nos iludamos: entre perder os anéis para conservar os dedos ou perder a própria mão, que é o que está na ordem do dia, ele e sua turma partirão para a manutenção da relação social capitalista pela força e a nós nos cabe a resistência, desde antes, agora e no futuro.

O poder econômico somente aceita as regras da democracia burguesa enquanto ela serve aos seus interesses de manutenção dos lucros e privilégios. Caso seja necessário o uso da força para tal intento, ele não hesitará em se aliar à truculência.     

Lula se equivoca ao acreditar numa convivência harmônica entre o capital decadente e as relações de trabalho capitalistas em fim de feira. 

Não se apercebe de que a marolinha está se transformando num tsunami e seu provável governo enfrentará as dificuldades próprias de um mundo em depressão e sem a coragem de promover qualquer ruptura. É exatamente isto que o faz ser aceito pela elite política e econômica, a qual não hesitará em depô-lo mais tarde, caso isto se faça necessário.

Lula governará, se tal ocorrer, num Brasil particularmente depauperado graças à insanidade e incompetência de um sargentão primário (que me perdoem os sargentos) e um programa econômico de governo que, de forma contraditória oscila entre o liberalismo clássico e um nacionalismo obsoleto, aliado a uma prática de milicianos da pior escola do Rio de Janeiro.    

Ele, tal como Boçalnaro, é nacionalista e estatizante (a exemplo dos militares de 1964/85, que criaram inúmeras empresas estatais e só privatizaram a Panair do Brasil, de saudosa memória); ambos acreditam na eternidade do capitalismo.

São identidades de quem gosta de modo acrítico do poder político burguês, com diferenciações cosméticas de governança: 
— um com senso humanista e populista démodée, o outro de olho nas formas truculentas de acesso a este mesmo poder caso perca sua popularidade construída sobre mentiras e desespero social;
— um com o projeto internacionalmente falido da socialdemocracia,  o outro apostando no militarismo truculento e irracional do qual se origina. 

A contraditória fórmula do governo atual já mostrou a que veio o genocida. Nacionalista, contraria o liberalismo clássico de Milton Friedman, do qual Paulo Guedes é discípulo e que anunciava mais Brasil e menos Brasília, lembram-se? 

Esta é a razão pela qual não houve privatização no governo que aí está, e que anuncia uma pra inglês ver, a da Petrobrás, no apagar das luzes. Mas Paulo Guedes, obediente à elite econômica nacional e num oportunismo barato de apego ao cargo, tudo aceita. 

Assim, de contradição em contradição, o quadro piora cada vez mais:
— 
grassa a fome no país que ajuda a alimentar o mundo como segundo maior produtor mundial de grãos. 
 vemos voltar a inflação de dois dígitos que consome a parca renda dos que ainda estão empregados; e
— é gravíssimo (para a lógica do capital e para a vida social sob sua égide) o renitente índice elevado de desemprego, confirmando a tese de que se trata de uma questão estrutural no capitalismo cibernético e robotizado.    

De quebra, assistimos à volta da covid como uma interminável praga dos tempos ditos modernos(por Dalton Rosado continua neste post)
Lembrando os protestos de nove anos atrás, com letra de Celso
Lungaretti, música do Dalton Rosado e interpretação do Gomes Brasil.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails