segunda-feira, 2 de maio de 2022

GOLPISMO DE BOLSONARO DUELA COM NAFTALINA DE LULA NO 1º DE MAIO

"...polarizado à direita..."
O
s antecipados atos concorrentes de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro neste 1º de Maio serviram para dar um desenho claro do desolador cenário político brasileiro a cinco meses da eleição mais importante desde a redemocratização de 1985.

Primeiro, a clareza: eles giraram em torno dos dois líderes da corrida eleitoral até aqui, refletindo o que o mundo político já precificou: apenas uma grande surpresa mudará a sensação de que está sendo disputado um 2º turno antecipado entre os rivais.

A tibieza das outras forças políticas brasileiras em apresentar algo melhor que a autofagia ao eleitor se mostra em seu esplendor. Claro, tudo pode mudar se o Imponderável de Almeida (primo do Sobrenatural) se apresentar, mas a esta altura isso é apenas acadêmico.

Já a desolação decorre principalmente pela atitude golpista explícita adotada pelo presidente da República, que, no mesmo dia, participou de dois atos em que os manifestantes pediam o cancelamento do Judiciário ou coisa pior, pelo que se viu no caixão com a efígie de Alexandre de Moraes na orla do Rio.

Claro, será argumentado que Bolsonaro pegou leve, evitou ataques diretos ao Supremo, moderou o tom. Mas, num país normal, estaríamos falando em impedimento de tal conduta. Como os atos paroxísticos do 7 de setembro do ano passado já mostraram, enquanto carne houver no osso do Executivo, a tolerância com o intolerável grassará.

É uma crise institucional contratada, claro, essa que Bolsonaro já desenhou com giz de cera, em traços grosseiros que falam sobre urnas eletrônicas. 
"...envelhecido à esquerda..."
centrão finge que não é com ele, dada a proverbial carne em forma de emendas e Fundo Eleitoral garantidos, mas na hora em que a eleição estiver contestada, isso não será algo seletivo para a Presidência –os votos de seus integrantes estarão no mesmo alvo.

Parece importar pouco o risco real de violência eleitoral e situações-limite de ruptura. Bolsonaro, como o Curinga de Christopher Nolan, é neste enredo um agente do caos. Com a diferença de que não há Batman no filmeco brasileiro (felizmente, aliás).

O Supremo tem cometido erros táticos que só pioraram o cenário. A transformação do caso Daniel Silveira pelas mãos bolsonaristas numa refrega sobre liberdade de expressão é tão farsesca quanto perigosa. 

A presença de um sujeito com a roupa do nativista americano do 6 de janeiro de 2020 a seu lado no palanque do Rio é um lembrete meio ridículo, mas real, dos riscos colocados aqui.

À clareza em campo, adiciona-se a desolação. Lula, como concorrente à frente de Bolsonaro, teoricamente teria a obrigação de assumir a dianteira também no embate democrático. Apesar de todas as suas falhas em defesa de liberdades, como o desprezo pela imprensa em seus anos de poder explicita, não há registro de seu lado de nada parecido com o que Bolsonaro faz.

Mas o petista preferiu usar o Dia do Trabalho para fazer um discurso cheirando a naftalina de carnavais passados, em sindicalês quase puro. 
"...esvaziado de interesse real da população..." 

OK, ele falava aos seus, entre eles o proverbial
Paulinho da Farsa Sindical, como todo petista gostava de chamar nos anos 1990. Mas o momento pede mais.

Do ex-presidente, além dos epítetos que só fazem crescer o Pokémon bolsonarista (fascista, genocida), só se ouviram promessas trabalhistas e a negação da privatização da Eletrobrás, tema tão candente para o eleitorado. 

Isto para não falar na nossa Petrobrás, cujos efeitos do amor de petistas e aliados é sabido na casa dos bilhões de reais e não, isto não foi perdoado ainda pela Justiça.

Eis o desenho político do Brasil neste feriado em pleno domingo: esvaziado de interesse real da população, polarizado à direita e envelhecido à esquerda, para cada um cantar sua vitória no Twitter. (por Igor Gielow)

2 comentários:

SF disse...

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"Oh personalidade humana! Como pudeste te curvar à tamanha sujeição durante sessenta séculos"? Já dizia o Pedro José.
***
Como sabido, pelo menos oficialmente, quase 50% da riqueza de banânia vai para este ente quase ontológico. Sujeitos que sujeitam a 6000 anos a humanidade.
***
Portanto, não importa qual seja a cara do cara que se adone do botim, o estado da coisa permanecerá com dantes em Abrantes.
E nos seis milênios anteriores.
***
Tumores tem que ser lancetados.
Qual a melhor lanceta?
Uma com fio fino e doses cavalares de anestesia ou um espinho sem anestesia e o "estrebucha, mas não bufa" dos capitães do mato?
***
Fato curioso.
Todos os tuiteiros da Faria Lima (farialimers) publicaram a respeito da morte de Airton Senna no dia 1º de maio.
Parecia algo concertado.
***
O povo que ainda tem emprego estava mortalmente aborrecido por não poder ter tido um feriadão.
Assistia séries.
***
De minha parte assisti Les Uns e Les Autres, de Claude Lelouch, cujo climax é O Bolero de Ravel...
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Onde se perdeu a visão panorâmica?
Quando foi que deixamos de admirar aqueles que condensam e mostram a efemeridade de tudo neste mundo?
***
E quando perceberás "oh personalidade humana" que a história é um eterno epílogo?
Que o fim será o fim do historiador?
E que ela toca a mesma melodia rearranjada de inúmeras maneiras?
***
Ao final, o colapso.
E o resto é silêncio.
***

celsolungaretti disse...

Companheiro,

pensei em aproveitar a sua dica, mas o filme RETRATOS DA VIDA não está disponibilizado no Youtube. Há picaretagens que pretendem ser o "filme completo", mas estão muito longe de suas três horas de duração.

O "Bolero" de Ravel tem uma estrutura que se presta às mil maravilhas para o final apoteótico do filme. Admiro-me que nenhum cineasta o haja aproveitado antes daquela maneira.

Não seria bom se passássemos desde cedo a nos identificarmos com pensadores que "condensam e mostram a efemeridade de tudo neste mundo". Teríamos ainda mais sábios no topo da montanha e menos elã dos jovens para transformar o mundo.

Há um momento da vida em que precisamos acreditar em algo para fazer alguma coisa. Eu, pelo menos, já sabia de muita coisa quando resolvi AGIR segundo a perspectiva marxista. Percebi que, só quando se toma partido é que se começa a ter uma visão clara das forças que disputam o direito de conduzir a humanidade adiante ou travar a sua trajetória.

Já que vc citou um filme, citarei outro: o antológico sumário do advogado interpretado por Paul Newman em O VEREDICTO, do Sidney Lumet, quando ele alude à magnitude de poderes que nos achatam, fazendo-nos perder a fé em que nossos atos possam mudar alguma coisa, da imensidão das coisas que estão erradas.

Ele diz que sua crença era outra: que se agíssemos com fé, a fé nos seria dada e aí encontraríamos em nós a força para remover as montanhas de injustiças e iniquidades.

Um abração

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