terça-feira, 12 de abril de 2022

EXISTE MESMO RISCO DE GOLPE E GUERRA CIVIL?

As charges são do Jota Camelo
A semana andou assustada com um anunciado risco de golpe de Bolsonaro, no fim do ano, para não entregar o poder em janeiro de 2023, no caso de ser derrotado. 

É para levar a sério ou faz parte da tática do presidente? Desde sua posse, Bolsonaro acena aos seus seguidores com uma ditadura, seguidores decepcionados depois do fracasso do 7 de setembro.

Mas, desta vez não há mais lugar para adiamentos. Faltam apenas seis meses para as eleições e as pesquisas, embora possam errar, assinalam uma rejeição majoritária de Bolsonaro. 

Caso se confirme a derrota, no final de outubro, Bolsonaro terá dois meses para fazer as malas e limpar as gavetas. A menos que decida colocar em prática aquela velha marchinha carnavalesca, daqui não saio, daqui ninguém me tira (ainda mais com quatro filhos!)…

Ora, como se quisesse assegurar aos seus seguidores sua permanência em Brasília, Bolsonaro enviou seu recado, mesmo na sua linguagem disléxica, enaltecendo a necessidade do povo armar-se, pois só aceitará eleições com votos contados e não nas urnas eletrônicas, dispondo-se mesmo a sacrificar sua vida por isso. 

Essa conversa de exigir voto impresso já parecia ultrapassada e foi reaberta na última viagem ao Rio Grande do Norte. 

Bolsonaro foi eleito diversas vezes deputado federal com voto eletrônico e nunca se queixou. Porém, logo depois de derrotar Haddad para a presidência, inventou a história de que, com voto impresso, teria sido eleito no 1º turno. 
E vem utilizando sempre esse mesmo argumento, a fim de criar nos seus cegos seguidores a insana ideia de irregularidades nas apurações por antecipação. 

Ou seja, Bolsonaro vai disputar as eleições afirmando aos seus eleitores já estar eleito, caso contrário será tramoia e roubo de votos.

O argumento é o mesmo utilizado por Trump contra Biden. Nas eleições estadunidenses, Trump fazia a campanha eleitoral como vitorioso, convencendo seus seguidores de que uma derrota só poderia ser manipulação. 

Ao ser derrotado, Trump incitou seus eleitores a invadir o Congresso a pretexto de fraude eleitoral e impedir a confirmação da vitória de Joe Biden. Cerca de 600 fanáticos, seguidores do movimento QAnon, chegaram a invadir o Capitólio e só não mataram senadores por eles terem se escondido. Mesmo assim, cinco pessoas morreram.

Sem grande criatividade, Bolsonaro quer adaptar o mesmo cenário de Trump caso perca as eleições. Porém, com número bem maior de atores, contando para isso com seus seguidores devidamente armados. 

O gesto da arminha e as leis tornando possível a posse de armas já eram uma ideia inicial de provocar uma guerra civil durante o mandato ou no seu encerramento, caso não fosse reeleito. 

Quem outrora disse ser necessário matar uns 30 mil opositores, quem contribuiu substancialmente para as mais de 650 mil mortes na pandemia da covid por propor remédio ineficaz e não comprar vacina logo no começo do surto, não vai incomodar-se com mais óbitos numa guerra civil.

Causou alguma apreensão essa perspectiva de golpe armado, mesmo porque as principais redes sociais mostraram essa possibilidade. 

Muito bolsonarista se armou, muitos clubes de tiros foram criados e o fanatismo bolsonarista não diminuiu, ao contrário, foi incentivado. 

Poderia também ocorrer uma utilização dos evangélicos com a utilização maciça de fake news. Não é nenhum delírio imaginar os milicianos já existentes se encarregando de organizar esses grupos de civis, sem se esquecer da possibilidade de uma adesão militar.  

Seria talvez importante imaginar-se, desde já, como evitar a transformação das ameaças de Bolsonaro num dramático pesadelo. 

Medidas preventivas legais que garantam a manutenção da ordem, o respeito ao resultado das urnas, medidas que impeçam o caos no final do ano e consolidem definitivamente a democracia no Brasil. (por Rui Martins)

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