quinta-feira, 31 de março de 2022

PUTIN CADA VEZ MAIS PARECE O FANTASMA DO CARNICEIRO STALIN

lúcia guimarães
NOVA DIÁSPORA PODE REPETIR
 TRADIÇÃO DE PERSEGUIR EXILADOS
A
longa mesa usada por Vladimir Putin ilustra mais do que seu notório pavor de contrair Covid. 

Se forem corretos os dados de inteligência passados a repórteres em Washington nesta 4ª feira (30), o isolamento do ditador inclui detalhes cruciais sobre o exército que ele mandou para a Ucrânia.

Há uma tensão crescente entre o Kremlin e o comando militar causada pelas enormes perdas russas no campo de batalha e a resistência oferecida pelos ucranianos. 

De acordo com o briefing oferecido por uma fonte do governo Biden, Putin nem sabia que seu ministro da Defesa, Serguei Choigu, havia despachado um grande número de recrutas mal treinados para morrer na Ucrânia.

A ignorância de Putin se estenderia também ao real estrago provocado na economia russa pelas sanções econômicas impostas no primeiro mês de guerra. "Seus assessores têm medo de dizer a verdade", comentou a fonte.

Numa entrevista a um grupo de jornalistas independentes russos, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, revelou um detalhe que parece confirmar a desinformação de Putin: soldados ucranianos encontraram uniformes de solenidade dentro dos primeiros tanques russos capturados, num aparente sinal de que o czar carniceiro contava com uma parada militar para comemorar uma rápida vitória.

Desde que as tropas russas começaram a se acumular na fronteira no final do ano passado, o governo Biden tem revelado detalhes de coleta de inteligência. É uma dança delicada que visa não comprometer as fontes em Moscou enquanto nega aos russos a vantagem do elemento-surpresa, além de alugar um vasto espaço de desconfiança sobre lealdades na cabeça de Putin.

As atrocidades das tropas russas que começam a emergir não provocam surpresa em quem se informou sobre a devastação que elas deixaram em guerras na Tchetchênia e na Síria. 

Múltiplos relatos de estupros de mulheres ucranianas e de assassinatos em massa descobertos em áreas retomadas deveriam calar a boca de quem se refere à invasão da Ucrânia como um desfecho de erros expansionistas da Otan.

Mas, no caso da Rússia, não são só populações eleitas como inimigas por Moscou que têm algo a temer. Estima-se que 200 mil russos deixaram o país em cinco semanas de guerra. 

É uma sangria de cérebros extraordinária que deve prolongar os efeitos nefastos sobre a economia, quando as sanções forem suspensas.

Mesmo se Putin sair enfraquecido da guerra ou até deixar o Kremlin na horizontal, a Rússia tem uma sólida história de perseguição a exilados. 

Os exemplos mais recentes são os sucessivos assassinatos de dissidentes na Europa, mas a vítima mais célebre foi Leon Trótski, morto na Cidade do México por um comunista espanhol recrutado pela inteligência de Stálin, em 1940.

Putin, que se arvora a historiador, mas é intelectualmente medíocre, compartilha com a longa linha de tiranos russos um terror a revoluções. Ele acredita que a Revolução Bolchevique de 1917 foi consumada por um pequeno grupo de exilados, financiados no exterior e que Lênin seria agente da Alemanha.

A nova diáspora interessa a Putin, a curto prazo, ao reduzir as fileiras de opositores nas populações urbanas bem-educadas. Mas não deve diminuir o apetite dos serviços de inteligência russos por monitorar, perseguir ou até matar exilados. (por Lúcia Guimarães, veterana jornalista brasileira que vive em Nova York desde 1985 e  atualmente é colunista da Folha de S. Paulo e do Diário de Notícias de Lisboa. Quando ela era produtora-executiva do Manhattan Connection, participava dos quatro últimos blocos do programa) 

TOQUE DO EDITOR 
– Embora haja uma corrente de esquerda tentando reabilitar Stalin, este blog continua considerando-o o coveiro da Revolução Russa, responsável pela sua descaracterização totalitária, pelo extermínio da velha guarda bolchevique e pela morte de umas 5 milhões de pessoas durante a coletivização forçada da agricultura, bem como de outras 10 milhões em médio e longo prazos.  (CL)
O melhor filme sobre os julgamentos stalinistas, nos quais revolucionários
exemplares eram coagidos a admitir crimes que não haviam cometido. É
de 1970, com direção de Costa-Gravas, roteiro de Jorge Semprún e
atuação inesquecível de Yves Montand. Legendas em espanhol.

2 comentários:

Anônimo disse...

Os parágrafos do artigo de Lúcia Guimarães iniciam com:

-Dados de inteligência passados a repórteres em Washington...;
-De acordo com o Briefing oferecido por uma fonte do governo Biden...;
-O presidente da Ucrânia Zelensk, revelou....;
-O presidente Biden tem revelado......;

Compartilho com a opinião do editor do blog sobre a figura de Stalin. E Putin é um ditador de uma federação capitalista.

No entanto , a parcialidade e a fragilidade, o vício das informações, dado as origens, o artigo de Lúcia Guimarães não foi merecedor de ter sido publicado num blog tão combativo.

Lia Lucia Guimarães no jornal Estado de São Paulo. Em muitos artigos relatava, com coragem, o antissemitismo vigente nos EUA e agressões a pessoas e símbolos judaicos. Transferindo-se para a Folha de São Paulo não abordou mais esse assunto.
Alexandre Veiga



celsolungaretti disse...

Alexandre,

se ela escreve para dois jornais sobre as informações a que têm acesso morando em Nova York, é natural que se baseie nessas informações. E, para não deixar dúvidas, especificou claramente que se baseava na Inteligência fornecida pelo Governo Biden.

Fundamental, na verdade, é se tais dados da Inteligência são corretos ou não. Ela concluiu que sim. E eu, por outras notícias de outros jornalistas, também cheguei à conclusão que o governo do Putin está reeditando algumas das piores práticas do stalinismo.

Cansei de escrever que considero China, EUA e Rússia tão somente três diferentes embalagens para o mesmo produto: o capitalismo.

No entanto, minha bronca maior é mesmo com o stalinismo, porque:

1) tornou o comunismo execrável junto aos trabalhadores que, segundo os conceitos marxistas, mais precisaríamos conquistar, quais sejam os dos países economicamente mais avançados; e

2) exterminou a melhor elite de revolucionários dos últimos séculos, a velha guarda bolchevique e os companheiros de outros países da URSS, como o tcheco Arthur Landon, cujo pesadelo é retratado no filme A CONFISSÃO.

O Tio Sam fez aquilo que dele se poderia esperar, nem mais, nem menos.

O stalinismo detonou a mais bela e promissora revolução da era marxista, dando ao capitalismo uma contribuição inestimável para que não houvesse a revolução mundial de que tanto necessitávamos no século passado.

No mínimo, Stalin atrasou de um século a revolução mundial. E fez isto sendo visto pelos cidadãos despolitizados do mundo inteiro como revolucionário. O dano que ele nos causou foi incomensurável, Alexandre.

Um abração!

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