quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

MILITARES NUNCA ESTIVERAM SUBMERSOS

Alguns podem ficar comovidos com a nota do presidente da Anvisa, Barra Torres, contra as insinuações de Bolsonaro a respeito da aprovação da vacina infantil pela Agência. 

Pode-se mesmo pensar estarem os militares tencionando sua relação com o presidente genocida, pois, na mesma semana, o chefe do Exército impôs normativa requisitando vacinação do corpo militar e proibindo a publicação de notícias falsas. 

Nada mais falso, contudo. Na realidade, esta leitura é fruto de uma apreciação superficial dos acontecimentos. 

De fato, conforme já defendi em outras oportunidades, o governo Bolsonaro é um projeto dos militares. Foi a forma encontrada pela alta cúpula das três forças, da ativa e da reserva, de retornar ao poder político, pois marginalizados desde o fim da ditadura.   
Quando se tratava de conseguir o
cargo, valia tudo para bajular o chefe
.


Por isso, eles se associaram carnalmente a Bolsonaro na matança perpetrada durante a Pandemia. Tendo à frente um general incompetente, e com o Ministério da Saúde coalhado de oficiais, os  militares conduziram o programa bolsonarista da morte. 

A própria Anvisa, do incensado Barra Torres, várias vezes se submeteu à vontade bolsonarista, seja ao não impor medidas mais duras de restrição, ou quando não condenou aberta e oficialmente o uso da cloroquina e outros elixires do presidente, ou até mesmo ensejando, na época do debate em torno das vacinas Coronavac e Sputinik, o máximo possível de atrasos para a aprovação das vacinas  chinesa e russa.

Para além da Covid, a Anvisa tem sido, sob o comando de Barra Torres, a terra dos sonhos para o latifúndio e sua festa de agrotóxicos, com liberações recordes de substâncias comprovadamente tóxicas e deletérias para a saúde humana e para o meio ambiente. 

E os chefes das três forças? Apenas agora se dignam a impor vacinação obrigatória às suas tropas. Isto quando na iniciativa privada já se pratica, há meses, a  demissão por justa causa dos negacionistas.   

Sempre lembraremos de Pazuello e sua frase
emblemática: "Um manda, outro obedece"


Lembremos que tampouco há notícia da demissão em massa de seus cargos dos mais de 7 mil militares ocupantes de cargos públicos no nível federal. Nenhum deles fez o sacrifício maior de abrir mão de gordos salários e vantagens em nome da honra.

Na verdade, os valentes de ocasião da caserna farejaram a situação atual e sabem que seu monstro de Frankenstein está morto. Não podem mais contar com Bolsonaro para manter as boquinhas atuais, pois a chance do presidente se reeleger vão ficando cada dia mais nulas. 

Mais do que isso: Bolsonaro tem tudo para não apenas não se reeleger, mas também como jogar na desgraça para sempre todos os seus apoiadores mais próximos. 

Neste cenário, a alternativa é seguir a dica número um dos marketeiros e reposicionar a marca. Convém então vestir a máscara de defensor da racionalidade e da honra.

Por isso, Barra Torres, após ter aceitado passear sem máscara com Bolsonaro em 2020, se sujeitado às humilhações em lives ao lado dele e ter engolido calado os ataques contra a Anvisa em 2021, em 2022 vira  o grande herói do serviço público. 

Outros heróis virão, na senda das pesquisas eleitorais. (por David Emanuel Coelho)  

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