(continuação deste post)
Obviamente, o grosso do dinheiro que subvenciona campanhas eleitorais somente pode provir de financiadores externos (os capitalistas interesseiros da macroeconomia) e empresários que prestam serviços os mais variados ao Estado (grandes obras, principalmente).
É um convite à corrupção: políticos fazem leis corporativas (e são pagos por empresários e impostos cobrados ao povo por tal desserviço à população), licitações são viciadas e superfaturadas, etc.
Diz-se comumente que, caso não houvesse corrupção com dinheiro público, todos os males sociais estariam superados.
Esta é mais uma falácia do pensamento conservador que, diante da evidência de uma sociedade incapaz de promover a prosperidade social linear, tenta desviar para outro lado a discussão sobre a essência dos problemas sociais (e, agora, ecológicos).
É por tudo isto que o discurso de combate à corrupção não passa de uma bandeira da direita, como já dizia o Paulo Francis mais de meio século atrás.
O mal da sociedade da mercadoria é a sua própria dinâmica segregacionista e contraditória. que caminha para o colapso num tempo histórico determinado (diferente do tempo da existência de um ser humano), que ora se inicia.
As crises sociais de forma e conteúdo, ora em curso, demonstram fartamente a incapacidade do capitalismo de conviver com o isolamento sanitário necessário e com os danos ecológicos que acarretam as alterações climáticas por força do aquecimento global.
Isto ocorre porque o capital não existe para satisfazer necessidades humanas, mas apenas se utiliza delas para existir e produzir mercadorias e transformar toda a vida em mercadorias, num utilitarismo asqueroso que cada vez mais se evidencia.
É mais uma contradição explícita que demonstra a necessidade urgente de mudarmos os parâmetros das discussões sociais, pois estas têm de transcender as discussões imediatistas sobre a próxima eleição (questão da corrupção aí inclusa preponderantemente) e sobre quem tem aptidões para melhor gerenciar uma crise que nem de longe se restringe à questão do gerenciamento.
A discussão desfocada sobre o combate à corrupção nos leva a uma análise mais aprofundada dos dois modelos fundamentais da estrutura carcomida do Estado:
— o modelo liberal clássico (modernamente defendido por Milton Friedman), que quer diminuir o tamanho do Estado e acredita que a mão invisível do mercado tudo equilibra, daí pregar a redução dos impostos e combate à corrupção como se fossem a solução infalível dos problemas;
— o modelo keynesiano de Estado forte e protetor, estatizante e indutor do crescimento econômico (ou seja, defensor de mais capitalismo, a corrupção original e básica).
É evidente que os adeptos de tais modelos de discussões fogem como o Drácula da cruz quando, pensando fora da caixa, propomos um modelo de produção social sem a mensuração da forma-valor e seu famigerado critério reducionista da viabilidade econômica.
Raciocinando-se sob a égide da forma-valor e seu reducionismo, muita coisa passa a se justificar como mal menor, ou seja, começa-se a admitir, p. ex.:
— a restrição de direitos previdenciários (iniquidade que rachou o PT em 2003, com os inconformados indo formar o Psol);
— o enquadramento da responsabilidade fiscal imposta aos países da periferia capitalista (os ricos podem emitir moeda sem lastro à vontade);
— a produção alimentícia em escala que mata a agricultura familiar;
— um salário-mínimo de fome e a redução de direitos trabalhistas como trunfos na guerra concorrencial de mercado;
— a aceitação da poluição de rios, mares, subsolo, atmosfera, como males necessários à sustentação da vida, mas que mata a própria vida;
— a manipulação político-eleitoral pelo poder econômico como mal menor do que a ditadura, etc.
O presente ano eleitoral é um momento dos mais propícios para fugirmos da mesmice e irmos mais fundo nas discussões sobre por que não votar! (por Dalton Rosado)
Na voz do Gomes Brasil, mais uma composição do Dalton.
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