dalton rosado
PODER ECONÔMICO, POLÍTICA E CORRUPÇÃO
Por sua vez, a corrupção com o dinheiro público, subproduto do sistema capitalista, não passa de uma gripe num corpo septicêmico.
O falacioso combate à corrupção política com o dinheiro do erário dito público (pública é só a dívida) se constitui numa tradicional bandeira da direita que tenta justificar para o povo a razão de ser dos seus infortúnios.
O pior é que a cantilena de combate à corrupção estatal consegue ciclicamente obter resultados políticos; foi assim com Jânio Quadros (o homem da vassoura que ia varrer a corrupção), com Collor de Mello (o caçador de marajás que, se fosse sincero, teria caçado si próprio); e com Boçalnaro, o ignaro (o mito que ensinou os adultos a nunca mais acreditarem em mitos).
O verdadeiro poder, o econômico (do qual o poder político não passa de força auxiliar submissa, sem vontade soberana) é o poder onívoro da forma-valor, dinheiro e mercadorias, que tudo transforma, consome e obriga a uma convergência obediente à ditadura da sua lógica matemática subtrativa do tempo/valor do trabalho abstrato.
Trata-se de tratamento diferenciado para o gênero corrupção, da qual a mediação social pela forma-valor é apenas espécie de uma outra espécie de corrupção: a subtração indevida do dinheiro cobrado pelo Estado a uma população já exaurida pela extração de mais-valia a que é submetida.
A corrupção consentida, oficialmente aceita, permite e escravização indireta pelo trabalho abstrato produtor de valor, que é a primeira e primária fonte de toda acumulação segregacionista do capital.
É decepcionante a constatação de que os grandes juristas e pensadores do direito evitem a abordagem sobre o corruptivo móvel da mediação social e justifiquem toda uma legislação civil e penal com firulas jurídicas na linha de que a lei é dura, mas é lei.
A corrupção criminalizada tenta coibir o subproduto do sistema capitalista justamente porque fragiliza a cidadela de proteção do capital: o Estado.
Ao Estado cabe cuidar da regulamentação e manutenção da ordem capitalista por suas várias instituições (judicantes, militares, executivas, legislativas, etc.), bem como induzir o crescimento econômico criando a infraestrutura para a fruição do capital.
Tudo isso é financiado pelos impostos cobrados à população sob o pretexto de atendimento (cada vez mais deficiente) de demandas sociais básicas como saúde, segurança pública e educação (estas cada vez mais privatizadas).
Ora, com o Estado cada vez mais endividado e pagando juros pesados por tal dívida (isto no que tange aos países da periferia capitalista, porque as nações do G6 não pagam juros e a China capitalista, do G7, é excluída deste privilégio), a corrupção com o direito arrecadado só piora o que já caminha para um impasse irresolúvel.
Daí causar uma relativa preocupação ao legislador a corrupção com o dinheiro público, combatida pela justiça, que é obrigada a cumprir o que está estatuído na lei como crime de peculato ativo e passivo.
A diferenciação acima deriva de uma compreensão ética socialmente convencionada dentro de um padrão de segregação estrutural que em tudo diverge do melhor padrão moral do que é justo. Tanto o Direito, como os cânones religiosos monoteístas (Alcorão, Torá e Bíblia) sempre encontram meios de justificar o injustificável.
Mas o capitalismo é formado por contradições irresolúveis que prenunciam o seu colapso funcional graças aos limites internos e externos que se lhe impõe a natureza intrínseca de sua formatação matemática e social.
Eis uma delas: os políticos, uma vez investidos do poder político numa sociedade na qual o poder econômico é preponderante, e sendo obrigados a enfrentar a disputa eleitoral na cíclica alternância de cargos da democracia burguesa, precisam de dinheiro. (por Dalton Rosado – continua neste post)
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